Por dentro da família Gil

Gil: substantivo próprio que se refere a um homem e a uma família inteira. Seja participando de shows ou na plateia, seja compartilhando refeições acolhedoras no Camélia Ódódó – restaurante da filha, a chef Bela Gil, em São Paulo –, para a prole do músico, compositor e produtor soteropolitano Gilberto Gil, carregar essas três letras transcende qualquer papel.

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“Tem gente que canta, tem gente que cozinha, tem gente que faz aquilo outro. A música naturalmente vai estar presente, como meu pai gosta de falar, como um meio ambiente”, conta o filho Bem Gil, músico e produtor, na coletiva de imprensa de que Gama participou. Unidos mais uma vez nesse ambiente profícuo, os Gil se preparam agora para sair em turnê internacional, como mostra a série Em Casa Com os Gil (2022), da Amazon.

Gravado na casa da família em Araras, região serrana do Rio de Janeiro, o doc-reality – com idealização e direção geral de Andrucha Waddington, direção de Pedro Waddington e Rebeca Diniz, roteiro de Hermano Vianna e produção executiva de Andrucha, Renata Brandão e Ramona Bakker – acompanha os 27 familiares durante 15 dias, nos preparativos da inédita turnê Nós, a Gente.

Entre escolha de repertório, ensaios, grandes refeições, alguns perrengues, aniversário do Gil e muitos momentos de lembranças emocionantes, filhos, netos, bisnetos, noras e genros enfrentam os desafios e as belezas de dividir a rotina diária, ao passo em que aproximam os espectadores da realidade de uma das famílias mais notáveis da cultura brasileira. “A gente acabou conseguindo fazer uma polaroid muito poderosa desse momento, retratando uma família que vai fazer o mundo pensar sobre o que é uma família”, diz Andrucha Waddington.

A ideia da inédita excursão familiar veio da filha, a cantora Preta Gil, e foi logo foi abraçada por sua madrasta, a diretora Flora Gil. A reclusão por duas semanas no distrito de Petrópolis, porém, foi fruto da pandemia, que impediu que a temporada de alçar voo em terras estrangeiras acontecesse mais cedo. Apesar das tristezas do momento tenso e intenso além das portas do isolamento, a primeira temporada permitiu uma imersão diferente no seio do grupo.

Esse registro prévio vai a fazer diferença na segunda parte do projeto, acredita Malu Miranda, Head de Conteúdo Original Brasileiro para o Amazon Studios: “Os shows eram um atrativo óbvio. Mas ter essa parte introspectiva, e poder agora ir para fora, em todos os sentidos, e ver o impacto que isso vai ter nesses grandes shows, vai ser muito emocionante.”

É a formação do set list da turnê que dá o tom da produção, contudo, são os assuntos que permeiam as escolhas de cada integrante dessa família múltipla por uma canção do patriarca os grandes motores de Em Casa Com os Gil. A diversidade é o DNA da família, como lembra Preta Gil: “A gente tem nossos conflitos e questões, e eles são absolutamente naturais, discutidos na intimidade da família. O que cada um da sua geração passou, com relação a alguns preconceitos e opressões… Muita gente pode se identificar com a nossa história“.

Além das dificuldades sonoras e de produção – eram quase 50 pessoas na equipe, e cerca de 40 microfones ligados diariamente –, para Gil, o principal desafio estava em alcançar um resultado palatável em termos do audiovisual contemporâneo: “Em que medida nossa família poderia suprir esse papel de estar em foco como um grupo que despertasse interesse nas pessoas através do seu discurso, do seu desempenho, da sua voz, da sua música, do seu convívio?!” Foi se colocarem a serviço do trabalho, segundo ele, que o projeto simplesmente fluiu.

Compromisso com a cultura

Em um governo em que a Cultura sofre graves desmontes – incluindo o de seu Ministério, do qual Gil esteve à frente de 2003 a 2008 –, o idealizador e diretor geral enxerga resistência na produção documental: “Vivemos em um momento em que a cultura está totalmente deixada de lado, mas nós somos mais fortes do que isso e, apesar de tudo, resistiremos. Em Casa Com os Gil é uma prova de que não tem nada que pare a nossa voz”.

Amigo de longa data da família, ele conta que a ideia de fazer essa mistura de documentário com reality partiu exatamente do apreço pelo espontâneo. “Aconteceu tudo que poderia acontecer dentro de um reality, mas o que sobressaltava era uma família que abraça a diversidade, que tem tolerância, e nosso mestre coordenando aquela tribo que acolhe a todos”, comentou Andrucha Waddington.

É nesse ninho acolhedor e real que os mais jovens vão desenvolvendo suas formas de expressão. “A série está muito emocionante nesse sentido, de enxergar as crianças como essas pérolas de poesia, leveza e esperança. E isso vem muito da liberdade que a gente dá, e principalmente do meu pai, de abraçar a criatividade delas“, expõe Bela Gil.

Foi no espelho dos pequenos que sua irmã Preta se enxergou várias vezes, reforçando a impressão de que essa história de liberdade e de ligação com a cultura se repete nos palcos da família Gil. “‘Subo nesse palco, minha alma cheira a talco como bumbum de bebê’. Somos todos crianças nesse palco, e vamos nos desenvolvendo da maneira que a gente quiser. É impressionante como toda a família se sente à vontade ali, sendo ou não artista“, ela finaliza, citando a obra que o pai compôs há mais de 40 anos, quanto cogitava parar de cantar.

Os cinco episódios da primeira temporada da série documental Em Casa Com os Gil serão exibidos exclusivamente para assinantes da Amazon Prime Video, a partir do dia 24 de junho.