Coluna da Maria Ribeiro: Vida, terror e glória — Gama Revista
COLUNA

Maria Ribeiro

Vida, terror e glória

Juntas, e se apoiando, a gente vai melhor. Nas horas boas, nas horas más, e até nas horas em que é difícil falar de todo e qualquer assunto

13 de Setembro de 2024

Não vou conseguir. Vou conseguir. Não vou conseguir. Vou conseguir. Há um mês, alterno diariamente essas duas únicas frases. Às vezes, convivendo com o ridículo de me ver mudando de estado de espírito com a rapidez de um rato na calçada da Augusta. Em 15 minutos, vou do desespero absoluto ao compromisso total com o ringue. Ninguém falou que ia ser fácil, já dizia minha amiga Fernanda Young (que, aliás, ganhou um documentário brilhante da Susanna Lira).

Sou boa de dopamina. Seu papel, o de liberar alguma motivação quando experimentamos atividades prazerosas, costuma ser cumprido com frequência por aqui (ufa!). No entanto, sou meio sentimental e, infelizmente, choro à toa e fico cada vez mais longe da garota cool que um dia sonhei encarar no espelho.

Em meio ao caos da emergência climática, passando pela tristeza de ver Anielle Franco sendo vítima de mais uma violência e mergulhada na comovente biografia de Preta Gil, me pego incapaz de sair da minha pequena dor. Até que ponto existe “o outro”? Quando digo “o outro”, me refiro não ao reflexo que o mundo — ou as pessoas — nos proporcionam, mas à capacidade de realmente sair de si.

Desde o suposto episódio de assédio cometido por Silvio Almeida, de quem sempre fui fã, contra a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, venho sendo cobrada, por mulheres — em mensagens no Instagram — a me posicionar. Me pergunto o porquê. Não deveríamos estar juntas?

Mulheres são salvas por mulheres (e, às vezes, por alguns homens também). Ou, pelo menos, deveriam

É claro que estou com ela. Mas será que preciso estar sempre pronta para opinar a respeito de todas as questões envolvendo mulheres? Ou posso viver um drama pessoal, que nada tem a ver com essa história? E mais: caso me propusesse a escrever sobre tema tão fundamental, ainda que por pressões externas e de forma superficial — já que estou funcionando com dez por cento de bateria —, o faria por ativismo? Ou por uma vaidade pessoal?

Vaidade por vaidade, vou dizer então o que me fez conseguir atravessar a semana: Anitta. Ao ganhar o terceiro VMA, seu mais recente êxito e um feito histórico para o Brasil, ela me devolveu uma confiança que se encontrava em crise, mesmo que eu não tivesse nada, mas nada mesmo, a ver com seu sucesso.
Mulheres são salvas por mulheres (e, às vezes, por alguns homens também). Ou, pelo menos, deveriam.

Preta Gil, Anielle Franco e Anitta são minhas conterrâneas e suas trajetórias me dão vontade de seguir em frente. A vida vai ser horrível e maravilhosa. Ou, como dizia Domingos, terror e glória. Mas juntas, e se apoiando, a gente vai melhor. Nas horas boas, nas horas más, e até nas horas em que, como agora, está mais difícil falar de todo e qualquer assunto.

Maria Ribeiro é atriz, mas também escreve livros e dirige documentários, além de falar muito do Domingos Oliveira. Entre seus trabalhos, destacam-se os filmes "Como Nossos Pais" (2017) e "Tropa de Elite" (2007), a peça "Pós-F" (2020), e o programa "Saia Justa" (2013-2016)

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões da Gama.

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