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ConversasHanna Limulja: 'A forma única como os yanomami sonham, assim como todo o universo deles, está sob ameaça'
No livro “O Desejo dos Outros”, antropóloga que passou um ano junto a comunidade indígena explora a cultura yanomami a partir de seus sonhos
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Hanna Limulja: ‘A forma única como os yanomami sonham, assim como todo o universo deles, está sob ameaça’
No livro “O Desejo dos Outros”, antropóloga que passou um ano junto a comunidade indígena explora a cultura yanomami a partir de seus sonhos
Certo dia, Cláudio sonha com um terçado [espécie de arma branca com lâmina reta] caindo na água. Sinal de cobra. Mesmo com o mau presságio, a esposa Lenita insiste que eles precisam sair para buscar comida para a filha. No caminho, porém, tanto a menina quanto a mãe são picadas por uma jararaca. Por sorte, conseguem ser medicadas a tempo. Em outras noites, o xamã Luigi é quem sonha com os espectros dos pais, mortos há muitas décadas. Nesses sonhos, os dois o chamam para segui-los, mas Luigi resiste. “Depois, devagar, quando eu morrer, eu vou com meu pai, com minha mãe… Vou viver bem com eles.”
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Os relatos de sonhos estão entre os vários que a antropóloga Hanna Limulja, 40, colhe no livro “O Desejo dos Outros – Uma etnografia dos sonhos yanomami” (Ubu, 2022). A obra — que tem participação do escritor, xamã e líder político yanomami Davi Kopenawa, autor de “A Queda do Céu” (Companhia das Letras, 2015) — nasceu da tese de doutorado de Limulja, que conviveu ao longo de quase um ano com os yanomami da comunidade Pya ú, na região Toototopi, fronteira do Brasil com a Venezuela. Nesse período, os indígenas da comunidade compartilharam com a pesquisadora centenas de sonhos que tiveram durante a noite, assim como suas implicações para a vida cotidiana.
Hanna Limulja Davi Kopenawa Divulgação
Para começar a falar dos sonhos yanomami, é preciso primeiro se livrar das concepções típicas que trazemos sobre o assunto, desde as científicas até as que enveredam pelo místico. Para os yanomami, os sonhos são experiências enviadas todas as noites pelos xapiri pë, espíritos que os auxiliam a navegar pelas paisagens oníricas. Eles nascem junto com as flores da árvore dos sonhos. Quando estas não desabrocham, os yanomami simplesmente não sonham.
“O sonho só existe porque é socializado” entre os yanomami, aponta Limulja em entrevista a Gama. Senão, ele não passa de uma ideia ou lembrança na cabeça de quem sonhou. O processo de recontá-los aos outros também é importante para que a comunidade continue lembrando e registrando de forma oral aquilo que seus membros sonham todas as noites. Aliás, para os yanomami, a pesquisadora explica, não existe supremacia da vida diurna em relação aos sonhos. As duas experiências têm a mesma importância, até porque consideram que tudo que vivem nos sonhos é real, e já aconteceu, está acontecendo ou ainda vai acontecer.
Por sua vez, aos xamãs é reservada a habilidade de controlar a visita a todos esses universos que existem dentro dos sonhos, diz Limulja. “O mundo é formado por cinco níveis, e os xamãs transitam por todos eles de maneira segura, seja quando estão sob efeito da yãkoana [substância psicoativa que se inala, um elemento fundamental do xamanismo yanomami] ou quando sonham.” Segundo a pesquisadora, quando a utupë [imagem da pessoa que sai do corpo durante o sonho] se perde, também é prerrogativa do xamã trazê-la de volta.
Além de um retrato da forma única com que os yanomami sonham, Limulja também quer que o livro sirva tanto como denúncia das invasões de garimpeiros em terras demarcadas — os yanomami, segundo ela, vivem a pior ameaça nos últimos 30 anos — quanto como um chamado à ação. “Às vezes acontece alguma coisa, todo mundo dá like e compartilha, mas depois esquece. Saber que algo assim está acontecendo em pleno século 21 e não fazer nada é perder nossa humanidade.”
Até por isso, parte do valor da venda do livro será repassada para uma associação yanomami de combate ao garimpo. A autora conta também que, no período da pandemia, quando antropólogos e funcionários da saúde foram impedidos de entrar nas terras yanomami, a exploração por garimpeiros na região cresceu. Por isso, ela esteve entre os pesquisadores e apoiadores que fundaram a Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, na luta para garantir os direitos dessas populações. “Com a covid, a gente imaginava que o impacto seria forte, só que não tinha informação suficiente. Ainda temos dúvidas, mas sabemos que teve um efeito gigantesco.”
Na conversa com Gama, a antropóloga fala ainda sobre as diferenças e semelhanças entre sonhos e mitos, o que sonham os homens brancos e a importância dos sonhos para entender como vários povos e culturas habitam este mundo.
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G |Como começou seu contato com os yanomami?
Hanna Limulja |Comecei a trabalhar com os yanomami em 2008, num programa de formação de professores que surgiu de um pedido do Davi Kopenawa. Ele queria que os yanomami aprendessem coisas como português e matemática, para que pudessem lutar e não fossem enganados pelos brancos. Eu trabalhava como assessora pedagógica de campo, então tinha que aprender a língua e passar temporadas em comunidades. Nesse processo de ficar muito tempo na floresta, eu sonhava muito. Eram sonhos bem diferentes, com pessoas mortas e lugares desconhecidos. Quando voltava para a cidade, conversava com o Davi sobre eles. Ele sempre tinha uma explicação, uma interpretação sobre o que eu tinha sonhado. Fui vendo que os sonhos eram algo importante para os yanomami e comecei a me interessar pelo tema. Em 2007, concluí meu mestrado, mas não queria continuar na academia. Só voltaria para um doutorado se tivesse um tema que me interessasse muito. Aí fui trabalhar no Instituto Socioambiental, em Boa Vista. Como vi que os sonhos eram um assunto que surgia sempre nas conversas dos yanomami, comecei a pesquisar. Mas não tinha muita coisa escrita sobre isso, era uma angústia. Como não existiam estudos sobre sonhos, com tantos antropólogos que trabalharam décadas com os yanomami?
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G |Os yanomami receberam bem a proposta de te contar os sonhos deles?
HL |O processo começou ao longo dos quatro anos em que eu trabalhava com os yanomami na fronteira entre Brasil e Venezuela. Quando voltei à academia, em 2014, planejei ficar um ano no campo. Foram mais ou menos 11 meses só lá e dois anos me dividindo entre Boa Vista e a comunidade. A recepção foi muito boa. Como já tinha trabalhado com eles, estava voltando para uma comunidade que me conhecia. Eu também tinha uma noção da língua, que fui intensificando com os trabalhos de campo do doutorado. A princípio, já existia uma familiaridade da minha parte e da deles.
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G |Como você começou o projeto?
HL |Comecei coletando sonhos. A casa coletiva dos yanomami é circular. No centro ela é vazada e, ao redor, na parte coberta, ficam as famílias. Então eu acordava todo dia e ia conversar com o pessoal sobre os sonhos deles. Em duas semanas, tinha coletado mais de cem sonhos. Aí pensei que seria mais interessante ver o impacto dos sonhos no cotidiano. Ainda que os yanomami não guardem um período específico do dia para contar sonhos, eles têm o hereamu, um discurso feito diariamente no centro da casa sobre questões cotidianas, como a necessidade de as crianças comerem carne. Esses discursos acontecem no final da noite e no início do dia, que é quando eles contam os sonhos. Quando os sonhos dizem respeito ao coletivo, eles compartilham. Por exemplo, se num sonho aparecer perto da casa um oka pê, que é um feiticeiro inimigo, tem que tomar cuidado para não se afastar muito naquele dia. Para os yanomami, tudo que você vive nos sonhos é real. Se eles veem algo durante o tempo dos sonhos, é porque está ali. Então tomam todas as precauções para não serem presas fáceis do feiticeiro.
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G |No livro, você diz que os mais velhos contavam os sonhos com mais frequência que os jovens. Por que isso acontece?
HL |Os velhos têm facilidade de falar. E o sonho só existe porque é socializado. Senão, ele não renderia, seria só uma ideia na cabeça. Os velhos têm o conhecimento da fala, o poder de comunicar. Então os xamãs, sobretudo, eram os sonhadores, porque sabiam sonhar e também falar dos sonhos, uma coisa que as pessoas mais novas, por mais que também sonhem, ainda não sabem ou têm vergonha de falar.
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G |A gente costuma guardar muito pouco do que sonha ao longo de uma noite. Como os yanomami conseguem lembrar tanto dos sonhos e com tantos detalhes?
HL |Existe uma relação bastante significativa entre o sonho e a constituição da memória. A questão é que tem essa prática de falar do sonho, que acontece entre a gente também. Não sei se você presta atenção no que sonha, mas em geral, quando a gente começa a registrar os sonhos, vai lembrando muito mais. Como os yanomami são de uma cultura oral, falar de sonhos é uma forma de memorizá-los. Claro que tudo passa por um processo de aprendizado porque, se por um lado todo mundo sonha, não é todo mundo que sabe falar e lembrar deles. Esse processo mnemônico passa pela fala. Então eles prestavam atenção e se davam conta de que tinham vários sonhos por noite. E eram sonhos sempre ricos de detalhes. Os yanomami sonhavam com caminhos, como era a cobra que os atacou, o que estava acontecendo, quem estava junto com eles naquele momento. Nisso, pulavam para outros sonhos, dormiam e acordavam. Acho que isso também tem uma relação. O sono na maloca é entrecortado. Tem um momento de sono profundo, em que se sonha, depois acorda e dorme mais uma vez. No livro, tem até um relato em que a Fátima [uma das yanomami que compartilharam seus sonhos] diz que acordou quando ouviu o galo cantando. Aí dormiu e sonhou de novo. Ela conta uns cinco sonhos que teve na mesma noite.
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G |Quais as principais diferenças entre como os yanomami enxergam os sonhos e a nossa visão sobre o assunto?
HL |Tem essa diferença de dar aos sonhos uma importância na vida diurna. A gente percebia que, entre eles, não havia uma superioridade da vida desperta em relação à vida onírica. Essa é uma diferença fundamental. Além disso, tudo pode sonhar. Os animais sonham. Na floresta yanomami, o sonho é comum a todos os seres. Não significa dizer que os yanomami não sabem diferenciar o que acontece no sonho da vida desperta. Não, se trata de perceber que aquilo que se vive enquanto dorme é tão importante quanto o que se vive quando está desperto. O sonho afeta a vida, e vice-versa. São partes que se comunicam. Para os yanomami, o sonho também é uma forma de conhecer o mundo, outros seres, outros lugares. No caso dos xamãs, eles alcançam esses mundos no sentido espacial, mas também temporal. O mundo é formado por cinco níveis, e os xamãs transitam por todos eles de maneira segura, seja quando estão sob efeito da yãkoana [substância psicoativa que se inala, um elemento fundamental do xamanismo yanomami] ou quando sonham. As outras pessoas não têm essa habilidade. Os yanomami também fazem dos sonhos uma forma de política, uma coisa que o Kopenawa fala bastante no livro “A Queda do Céu”. Ele diz que, para a gente, a política são palavras emaranhadas que servem para enganar as pessoas. Para eles, política são sonhos que os xapiri pë, os espíritos auxiliares, enviam para a gente. É política, uma forma de se relacionar e dialogar com outros que são diferentes. Os brancos não sabem porque não sonham com os outros, só consigo mesmos. Por isso não conseguem respeitar o que é diferente.
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G |Os xamãs então guardam as chaves para esses sonhos mais profundos, premonitórios ou com significado?
HL |Quando uma pessoa vai até o centro da casa, não precisa ser xamã para dizer que sonhou com os oka pë, que são os feiticeiros. Qualquer um pode sonhar com esses inimigos. A diferença fundamental é que os não xamãs sonham com coisas do cotidiano. Sonham que vão para a roça, caçar ou pescar. O xamã sonha além das pessoas comuns, então tem acesso a outros seres e uma relação com espíritos auxiliares e com os mortos. As pessoas comuns também conseguem sonhar com os mortos. Tem um autor que fala que todo mundo que sonha tem um pouquinho de xamã. Porque é justamente durante o sonho que as pessoas entram em contato com espíritos que elas não conseguiriam de outra forma. Então elas sonham com parentes mortos. O que acontece é que ficam muito mais vulneráveis a passar para o lado do morto — ou seja, morrer — do que os xamãs, que têm controle sobre esses outros seres. Durante o sonho, tem também a questão do utupë, a imagem da pessoa, que sai do corpo para viver essas experiências. Depois ela volta e a pessoa desperta. As pessoas comuns ,não têm controle sobre isso, então a imagem pode se perder e a pessoa adoece. Aí quem busca esse utupë é o xamã, que consegue resgatá-lo. Além disso, os xamãs também veem os mitos acontecendo. O mito tem uma semelhança com o sonho na questão do tempo, porque eles não são lineares. Para os yanomami, o céu caiu, uma coisa que já aconteceu no passado, porque o xamã já sonhou com essa imagem. Mas o céu vai cair novamente, porque o tempo não é linear. Já aconteceu, está acontecendo e vai acontecer de novo. O sonho também não tem hoje e amanhã. Você está numa mesma dimensão de espaço e tempo com seres mitológicos, com um parente que já morreu e pessoas do seu cotidiano que ainda estão vivas. Então a diferença fundamental é que os xamãs têm mais controle sobre essas deliberações.
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G |Mas então os mitos yanomami nascem daquilo que eles sonham?
HL |No início, quando fui perguntar de sonhos, os xamãs me contavam mitos. E, quando perguntava de mitos, eles falavam de sonhos. Percebi que tinha algo em comum entre essas duas coisas, que não era só uma confusão. Os mitos são sonhos recorrentes, os yanomami veem os mitos acontecendo. Uma das minhas teses é que os mitos são sonhados. Dificilmente, no caso dos yanomami, há um mito que em determinado momento não tenha sido um sonho. Dentro da mitologia, de uma perspectiva mais estruturalista, não existe um mito único original entre os povos yanomami. São vários mitos de origem, que são variações uns dos outros. Nessa perspectiva, os mitos yanomami de origem do fogo, da morte ou de qualquer outra coisa são transformados na medida em que são sonhados, o que dá liberdade para cada xamã criar seu repertório. Eles têm uma linha comum, mas cada xamã desenvolve sua própria versão. Isso porque o mito parte da realidade do próprio xamã. Ele não só sonha, mas também participa do sonho. Então, mitos e sonhos passam pelos mesmos processos. Na tese de doutorado, faço uma relação com Freud, que também usa os sonhos para pensar os mitos. Se duas metodologias unem objetos distintos, o sonho e o mito, talvez no fundo eles não sejam tão diferentes assim um do outro.
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G |Falando em Freud, os yanomami tinham alguma ideia do que diz a nossa ciência a respeito dos sonhos?
HL |Eles não tinham ideia. Os xamãs — principalmente o Luigi, que era meu principal interlocutor — me perguntavam sempre o que os brancos sonhavam ou o que faziam com seus sonhos. Aí eu falava que, para os brancos, sonhar não é tão interessante ou importante quanto para os yanomami, que eles não fazem tantas coisas com os sonhos. E os yanomami não entendiam. Se o sonho é tão rico, como não dar valor?
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G |Quais sonhos, entre esses vários que você ouviu, te causaram mais impacto?
HL |Os sonhos do Luigi eram bem impactantes, porque eram recorrentes. Um deles, que eu incluo no livro, era com os pais. O Luigi já é um senhor de 85 anos. Quando criança, seus pais morreram por alguma xawara, que é uma epidemia. Esse acontecimento o impactou de forma tão profunda que ele sonhava com isso frequentemente. No sonho, os pais o chamavam para o outro lado, mas ele não ia. Dizia que não agora, por enquanto ia ficar por aqui. E me lembro também da Leda, que não contava muito sobre seus sonhos. Eu começo o livro falando de Haximu, uma comunidade na Venezuela que sofreu genocídio. A família da Leda foi morta lá. Quando ela ia falar, dizia que seus sonhos eram tristes porque os brancos tinham matado sua família. Eu tento fazer esse apelo também no livro. Embora ele não trate das questões do garimpo e do que está acontecendo atualmente na terra yanomami, quero que tenha essa dimensão política também. O livro está tendo uma repercussão muito grande, indo além do campo acadêmico e socioambiental. Pessoas que nunca ouviram falar nos yanomami estão lendo. Aí tento fazer com que as pessoas entendam que, embora haja muita beleza, também é preciso se sensibilizar com o fato de que a forma única como os yanomami sonham, assim como todo o universo deles, está sob ameaça. É o pior momento de exploração por garimpo na terra yanomami desde que ela foi demarcada 30 anos atrás. E é um momento oportuno, um ano de eleição. Faço um apelo para que as pessoas saibam que é o momento de agir.
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G |Essas questões que fazem parte do cotidiano deles, como a própria invasão de garimpeiros, também afeta os sonhos dos yanomami de alguma forma?
HL |A comunidade em que trabalhei não era diretamente afetada pelo garimpo. Mas os mais velhos, como o Luigi, lembram do quanto foi impactante para as comunidades não só o garimpo, mas os extrativistas. Essas comunidades foram dizimadas. Toda uma geração das décadas de 1980 e 1990, em que a terra yanomami era conhecida por ter uma grande quantidade de minérios e ouro, perdeu os pais e avós por causa das epidemias, primeiro trazidas pelos brancos desenvolvimentistas e depois pelo garimpo. A terra só foi demarcada em 1992. É escandaloso que, depois de 30 anos, os yanomami estejam numa situação pior ou semelhante à dessa época. A ideia é que as pessoas entendam essa questão para além das mobilizações nas redes sociais. Às vezes acontece alguma coisa, todo mundo dá like e compartilha, mas depois esquece. Saber que algo assim está acontecendo em pleno século 21 e não fazer nada é perder nossa humanidade, em ambos os sentidos. O modo como os yanomami sonham tem a ver com a maneira como cada povo habita e tem essa percepção do mundo e da vida. São essas diversas formas de ver o mundo que compõem a humanidade. A gente perde quando esses povos estão sendo ameaçados e mortos, e também perde nossa humanidade quando não faz nada frente ao que está acontecendo.
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