Como se despedir?
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Ilustração de Isabela Durão

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5 dicas

Como ajudar o pré-adolescente a se despedir da infância

O corpo está passando por uma série de transformações, surgem emoções novas, mas a criança ainda está ali. Saiba como lidar e acolher seu filho nessa fase da vida

Dolores Orosco 15 de Junho de 2025

Como ajudar o pré-adolescente a se despedir da infância

Dolores Orosco 15 de Junho de 2025
Ilustração de Isabela Durão

O corpo está passando por uma série de transformações, surgem emoções novas, mas a criança ainda está ali. Saiba como lidar e acolher seu filho nessa fase da vida

Existe um limbo temporal que separa a infância da adolescência, no qual os pais ficam perplexos com atitudes intempestivas dos filhos ou carentes quando eles passam a se empolgar mais em estar com os amigos do que fazer um passeio em família. “Não sei mais do que meu filho gosta” é um desabafo bem comum ao perceberem que aquele desenho favorito está dividindo espaço com o anime da vez ou que MCs e divas pop passaram a dominar os fones de ouvido da criança. É a pré-adolescência batendo à porta, tão efêmera quanto um vídeo do TikTok.

Entre os 8 e os 11 anos, a criança começa a sentir as primeiras mudanças físicas e emocionais rumo à vida adulta e, nessa etapa, a conexão e o vínculo afetivo estabelecidos até ali serão cruciais para definir o nível dos turbulência dos próximos anos. “A pré-adolescência é uma ponte entre a infância e a adolescência, onde os pais têm a oportunidade de atravessar de mãos dadas com o filho. Porque quando chegar do outro lado, o jovem vai soltar e querer continuar a caminhada sozinho”, afirma a pesquisadora Daniela Tófoli, autora do livro “Pré-adolescente – um guia para entender o seu filho” (Principium; 2018; 119 págs; R$ 34).

Segundo Tófoli, essa é a única fase da vida em que o cérebro aumenta de tamanho. “O córtex pré-frontal está formado, mas ainda não se trata de um cérebro maduro. Isso implica em outras mudanças, como o estirão de crescimento ou os pelos que começam a aparecer”, explica. “O redor da criança também muda: ela percebe que não é só mais o pai, a mãe e os irmãos; o mundo é muito maior que a casa dela. Vem o Ensino Fundamental 2, com mais professores ao invés de um só. O mundo se expande.”

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Com o mundo se ampliando, a criança também passa a se comparar física e socialmente. “Hoje, além de se comparar com outras crianças, ainda tem uma série de influenciadores. Elas também ficam mais questionadoras, as dúvidas passam a ser mais elaboradas”, afirma a psicóloga e educadora parental Ana Paula Syqueira. “Coisas que antes os pais achavam gracioso, passam a ser um pouco incômodas”.

Pensando em tudo isso, a Gama reuniu dicas para que pais e filhos façam a travessia da pré-adolescência com mais conforto. Confira.

  • 1

    Acolha estabelecendo limites. É preciso testar diferentes maneiras para que as mensagens sejam assimiladas –
    É comum os pais serem pegos de surpresa com as primeiras reações explosivas dos filhos ao serem contrariados nessa fase da vida. Mas é importante lembrar que aquela batida da porta do quarto com força ou o berro de “que saco!” não são apenas desrespeito ou afronta. “É difícil, mas os pais não devem levar para o lado pessoal. A criança está lidando com inúmeras emoções novas e, às vezes, simplesmente não sabe como reagir”, explica Tófoli, que recomenda a empatia e o diálogo como caminho, mas sem deixar de pontuar os maus comportamentos. “Não é o caso de se criar uma guerra, mas de deixar claro: ‘Olha, entendo que você está frustrado, mas aqui em casa a gente não aceita batidas de porta ou gritos.” Também é essencial não perder de vista que a pré-adolescência ainda é parte da infância e, nessa etapa, os filhos seguem testando limites. “Quando eles são menores, educar também inclui repetir a mesma coisa várias vezes ou escolher formas diferentes para que uma mensagem seja assimilada. O que pra gente parece óbvio, para eles não é”, completa a educadora parental Ana Paula Syqueira.

  • 2

    Se conecte com os novos gostos, sem julgamentos. Do contrário pode haver uma perda de conexão –
    Num momento em que a criança pode ser tornar mais introspectiva, é a hora de buscar janelas de oportunidade para manter a conexão. Uma conversa sobre o primeiro beijo ou dúvidas sobre sexo não vão surgir na hora do jantar. Mas assistindo a um dorama juntos ou ouvindo aquela letra do trap no carro durante o passeio em família é que os pais podem aproveitar para entender o que o filho pensa e como reagiria a situações ali expostas. “São ganchos preciosos de diálogo. Se na cena da série teen o protagonista se envolve em um conflito, pergunte ao seu filho o que ele faria para sair daquela situação. Aproveite também para trazer experiências que você viveu quando tinha a idade dele”, diz Tófoli. Mas resista ao instinto natural de criticar ou proibir, mesmo quando as letras do funk agredirem aos ouvidos. “A conexão vai por água abaixo quando o pré-adolescente se sente julgado. Qualquer tentativa de conversa ou orientação depois disso, vai soar como sermão ou incompreensão”, completa Syqueira. “A gente não perde o vínculo afetivo quando está conectado. Só estando perto dos filhos é que percebemos as nuances das mudanças pelas quais eles estão passando e sentimos quando algo está errado.”

  • 3

    Dê pequenas doses de autonomia, com acompanhamento –
    Numa fase em que o jovem ainda está vivendo a infância, porque tem as vivências boas dessa fase, mas vislumbrando o que vem por aí com a adolescência, é natural querer o melhor dos dois mundos. Por isso, cabe aos pais observar e ter flexibilidade ao lidar com essas oscilações de maturidade. “Tem gente que fica perdida no tempo. Não percebe que o filho está crescendo e ainda quer pegar no colo, enquanto a criança já está lá na frente”, analisa Syqueira. “Os pais precisam elaborar o luto pela infância que está chegando ao fim e começar a dar pequenas doses de autonomia conforme o desejo por mais independência vá surgindo.” A psicóloga cita como exemplo os primeiros percursos na rua sozinho. “Vamos supor que o pré-adolescente queira começar a voltar sozinho da escola, que fica mais longe de casa. Primeiro, faça com ele a pesquisa de qual é o meio de transporte a ser usado. Se for um ônibus, faça o trajeto juntos. Num segundo momento, deixe que ele vá sentado na frente sozinho, observe sua malícia: ele é mais esperto ou mais distraído?”, exemplifica. “A partir disso, oriente. Todo passo de independência deve ser dado de forma gradual”.

  • 4

    Mantenha a turma de amigos por perto. Isso pode te aproximar dos assuntos e interesses do seu filho –
    Na pré-adolescência, os amigos começam a ganhar extrema importância, como explica a psicóloga Bettina Schaefer. “São eles que vão ditar a sensação de pertencimento, o que é legal e o que tem valor”, afirma. Por isso, manter por perto a turma do seu filho pode ser uma grande vantagem – e a última oportunidade é agora. “É o momento de promover uma noite de pizza e jogos de tabuleiro com a meninada em casa. Em pouquíssimos anos, eles vão querer ir para as festinhas, fazer os programas próprios deles e vão achar um mico levar os amigos para confraternizar com a família”, garante Tófoli. “Não precisa ser um grande evento, mas torne sua casa um ponto de encontro, deixe a criançada ali conversando e aproveite para saber sobre o que eles falam e pensam. Isso vai lhe trazer mais repertório para conversas com seu filho.”

  • 5

    Se está chegando perto da hora do primeiro celular, o foco é na educação digital –
    Mesmo com a proibição dos celulares nas escolas, o desejo pelo aparelho segue em alta e começa a se manifestar na infância. E não adianta lutar ou adiar demais: seu filho vai querer um. Para Tófoli, a hora da permissão tem como principal vantagem o poder de negociação. “Quando der o celular para seu filho vai ser em condições pré-negociadas. Acesso irrestrito às senhas, aprovação prévia do que ele postará nas redes sociais, o tempo de tela monitorado. Deixar para estabelecer regras como essas em plena adolescência será muito mais difícil de obter êxito.” Para Syqueira, é importante aproveitar esse momento do primeiro celular para promover a educação digital bem de perto. “Você deixaria seu filho sozinho no Aeroporto ? Pois é o mesmo risco que ele corre estando à mercê do mundo virtual sem acompanhamento de um adulto”, compara. “Se desde cedo ele é orientado quanto aos riscos e usa o ambiente das telas com segurança, ele estará muito mais preparado e consciente para ter mais independência na adolescência.”

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