CV: Alexandre Bratt
CEO da Grand Cru ajudou a revolucionar o setor digital da empresa importadora de vinhos em meio à pandemia
Quando entrou para a importadora e distribuidora de vinhos Grand Cru, em novembro de 2019, Alexandre Bratt, 41, tinha um plano claro traçado junto ao CEO Agustin Blanco. Permaneceria por seis meses como diretor do setor digital da companhia para em julho assumir o cargo então ocupado por Agustin.
Alexandre vinha de uma carreira de mais de 20 anos atuando com planejamento estratégico em empresas do setor de bebidas e alimentos, como a Coca-Cola e a Schincariol. Embora tenha tido uma passagem pela concorrente Wine, onde trabalhou como diretor-geral na divisão de cervejas, sua primeira experiência diretamente com a venda de vinhos era na Grand Cru.
Como se sabe, porém, a pandemia explodiu pelo mundo todo logo no início de 2020, e a empresa se viu obrigada a rever os planos para Alexandre. “Veio a pandemia, e o fundo Aqua Capital [que controla a maior parte das ações da empresa] achou que não era hora de trocar a liderança. O medo era passar a mensagem errada de que o Agustin não estava fazendo um bom papel”, conta o executivo.
Você pode dar um passo para trás desde que dê outros dois para frente
Já que não tinha pressa para assumir o cargo, ele decidiu usar o período estendido no setor digital para acompanhar de perto o funcionamento do negócio e supervisionar as mudanças nos processos e no comércio digital da empresa — tarefa ainda mais urgente já que a pandemia fechou por meses boa parte das lojas físicas da marca.
Por sorte, as inovações começaram a ser implantadas em janeiro e estavam avançadas quando a pandemia começou. O foco era em três frentes principais: aprofundar o vínculo com os clientes por meio da tecnologia, aprimorar o ecommerce e relançar, em julho, a Confraria Grand Cru, clube de assinatura de vinhos da marca.
Em janeiro, o empresário finalmente assumiu o cargo de CEO da empresa, que aumentou seu faturamento em 2020 mesmo com a pandemia. Para 2021, a meta é ainda mais arrojada. Alexandre pretende fazer saltar de 10 mil para 25 mil o número de assinantes do clube, acrescentar por meio de franquias 35 novas lojas às 89 da rede hoje abertas no Brasil e aumentar em 150% a venda de vinhos para grandes redes varejistas.
“Nossa expectativa é crescer mais de 30% em 2021 e chegar a um faturamento de aproximadamente R$ 310 milhões no final do ano”, declara o novo CEO.
Em conversa com Gama, o executivo falou sobre o impacto de trabalhar ao lado de uma boa equipe, a necessidade de tomar as rédeas da própria carreira e a importância da paixão pelo que se faz para se manter motivado.
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G |Quais os seus maiores aprendizados nesses anos trabalhando com planejamento no setor de bebidas e alimentos?
Alexandre Bratt |Pode ser um pouco clichê, mas o maior aprendizado é que nada se faz sozinho. Sempre trabalhei bem porque tive equipes fortes, fosse acima, do lado ou abaixo de mim. Trabalho muito com autonomia e responsabilidade com meu time. Se você contrata pessoas boas, tem que dar autonomia para tomarem decisões. Senão, só precisa de executores. Aprendi inclusive a delegar melhor, o que é muito difícil. É como pedir para alguém pintar a parede e depois reclamar porque não foi com a cor de que gosta. Você é quem delegou mal. Delegar bem é apontar suas cores preferidas, colocar guard rails para que a decisão seja bem feita. Um segundo aprendizado é a execução. Gosto muito de pensar fora da caixa, mas sem um foco em execução não adianta nada. Para mim, hoje é mais importante uma boa execução do que uma boa estratégia. Claro que o mundo ideal é aquele em que os dois sejam bons, mas algumas empresas acabam criando estratégias mirabolantes sem ter pessoas para executá-las.
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G |O que te trouxe até aqui?
AB |Sempre fiz questão de ter boas equipes, o que fez com que os negócios em que me envolvi tivessem sucesso, e eu também. Prezo muito a transparência. Quero que todos na empresa falem dos números, dos resultados, das expectativas. Uma vez por mês, junto todo o time da Grand Cru para tratar disso. Gosto de ter todo mundo envolvido e crescendo junto. Não acredito na teoria do super-herói, que alguém entre numa empresa e vá fazer milagre. Precisa ter um time forte, projetos bem estruturados, e aí você vai para frente. Sozinho não teria conseguido chegar aqui. Tenho bom relacionamento inclusive com funcionários de dez ou quinze anos atrás.
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G |Qual a sua missão na sua profissão?
AB |Minha missão com o fundo que me contratou é gerar resultados, liderar a Grand Cru de forma rentável e sustentável, porque não adianta fazer crescer a empresa de forma imediatista se os próximos anos ficarem comprometidos. Minha missão como CEO é ter um time muito forte, pessoas satisfeitas com o lugar onde trabalham e um ambiente que possibilite inovação e transparência. Acabamos de receber o selo “Great Place to Work” pela primeira vez, com uma nota super alta. E minha missão como Alexandre, executivo, é fazer diferença na vida das pessoas através do negócio, ter funcionários que consigam se desenvolver, que acordem de manhã energizados para vir trabalhar. Uma empresa com resultados incríveis e pessoas tristes não é o que eu gostaria. Líderes como Steve Jobs ou Bill Gates foram muito duros, mas as pessoas acreditavam em seu propósito. Eu não sou um líder duro, gosto de me considerar justo. A única vez na carreira em que desrespeitei um gerente foi em 2004, mas é algo que até hoje me dói. Decidi abolir isso, porque você não precisa ser desrespeitoso, bater na mesa ou falar alto. Se faz isso, é porque não tem a admiração e o respeito da equipe.
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G |Para atuar na sua área, o que um bom profissional precisa saber?
AB |Todo executivo deve ter três conhecimentos básicos: financeiro, comercial e psicológico. Primeiro, é preciso entender as alavancas que fazem o resultado, como vendas, margens, promoções, então ter conhecimento financeiro é fundamental. Comercial porque, se você não entende por que um cliente compra seu produto, não entende o que está vendendo nem para quem. E tudo que fazemos é por pessoas e para pessoas. Me aprofundei muito em estudos de psicologia nos últimos anos. Entender como funcionam as pessoas é a maior virtude de qualquer executivo. Além disso, também a resiliência. Ninguém é um executivo de sucesso com uma carreira perfeita. Vão haver anos bons e ruins, você vai precisar mandar pessoas de que gosta embora e vai também ser mandado embora. Se cair, levante e tente de novo.
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G |O que você diria para alguém que pensa em trilhar um caminho parecido?
AB |Estude e planeje-se. Todo mundo tem que ter objetivos claros. Eu tinha metas para quando queria virar gerente, diretor, e até para que tipo de empresa queria ir. Além disso, seja antes de ter. Quando virei gerente, em 2003, já vinha exercendo o papel de gerente mesmo sem ter o cargo. Não acho que as pessoas tenham que esperar por nada, e sim fazer sua carreira. Em todas as empresas por que passei havia abertura para fazer mais e melhor. Muita gente diz que escolhe o futuro da sua carreira, mas na prática simplesmente aceita ou rejeita propostas de emprego. É preciso pensar aonde você quer ir e sair batendo de porta em porta. Só assim você consegue se destacar e crescer. Eu fiz isso e funcionou muito bem para mim. Não adianta ficar à deriva esperando que a correnteza te carregue para algum lugar.
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G |Na sua trajetória você cometeu alguma falha que não cometeria hoje?
AB |Muitas. Já tive casos de pessoas que deveria ter desligado da empresa, mas não fiz, e isso me custou muito. Decisões difíceis a gente tem que tomar rápido. Tire o band-aid de uma vez só. Dói um pouco, mas você sai fortalecido. Também investi milhões em projetos que deram errado. Faz parte. Não acho que errar é ruim, mas errar muito e repetir o erro sim. O importante é ter mais acertos. Você pode dar um passo para trás desde que dê outros dois para frente. Se não for algo catastrófico, que vai quebrar a empresa, todo mundo pode assumir uma parcela de erros na carreira. 2020 foi um ano muito positivo para mim por isso. Com a pandemia, tivemos 80 lojas fechadas, e 1.800 restaurantes pararam de comprar nossos produtos. Fomos obrigados a olhar para dentro e pensar no que fazer. As mudanças que promovemos permitiram que saíssemos muito mais fortes do que entramos. Nos últimos meses do ano, tivemos um faturamento 30% maior do que em 2019.
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G |A paixão e a motivação andam juntas?
AB |Hoje sou muito apaixonado pela Grand Cru, mas ainda estou me apaixonando pelo produto. Você não precisa ser apaixonado para ser motivado, mas as pessoas apaixonadas geralmente o são. Gosto muito do que faço um pouco independentemente do produto, embora existam vários outros com os quais não gostaria de trabalhar. O vinho é recente na minha carreira. Estou aprendendo agora o que é, o mercado, o consumidor… Isso não me faz menos efetivo na minha função. Tenho pessoas na minha estrutura que precisam conhecer de vinho. Minha função é garantir que tenho as pessoas certas no lugar certo. É nisso que sou bom e o que gosto de fazer. Me apaixonar pelo produto é uma consequência.
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G |Você vive para trabalhar?
AB |Ainda trabalho muito, apesar de tentar ter mais equilíbrio. Gosto do que faço, então não é maçante para mim, mas vivo para trabalhar, e não trabalho para viver. Ainda não sinto vontade de mudar porque é uma coisa natural para mim, mas tenho sensibilidade suficiente para saber disso.