Cinco formas de melhorar a relação com a comida na quarentena — Gama Revista

Bem-estar

Cinco formas de melhorar a relação com a comida na quarentena

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Novas experiências trazidas pelo isolamento social, como cozinhar em casa e reunir a família em torno da mesa diariamente, podem virar hábitos de longo prazo

Martin LaMonica 02 de Junho de 2020

São 17h já não sei que dia, mas em vez de sair do trabalho correndo para dar conta das atividades com as crianças, estou desempacotando as verduras enquanto meu filho de sete anos descasca cenouras ao meu lado. E em vez de pegar qualquer coisa da geladeira para comer antes de levá-lo à aula de futebol, minha família está reunida à mesa para uma refeição vegetariana feita em casa. No menu de hoje: tacos de couve-flor com lentilha.

Antes que alguém pense que tudo está indo às mil maravilhas na minha casa: não, não está. Mas como nutricionista e mãe, tenho notado alguns padrões dignos de nota no meio dessa pandemia, tanto na minha família quanto no que ouço dos meus pacientes todo dia. E algumas dessas mudanças de comportamento alimentar têm potencial de virar novos hábitos, com benefícios de longo prazo. Eis cinco desses comportamentos que, espero, durarão mesmo depois da pandemia.

  • 1

    Comer junto com a família –
    Pela primeira vez, muitas crianças têm ambos os pais jantando em casa nos dias de semana. Outras, ao contrário — sobretudo os filhos de quem trabalha na linha de frente –, têm comido mais vezes longe dos pais. Ambos os cenários destacam a importância de comer juntos quando possível. Diversos estudos têm mostrado que comer em família ajuda as crianças a ter mais autoestima, melhor desempenho escolar e menos risco de desenvolver depressão ou abuso de substâncias. Encontrar tempo para uma refeição em família nem sempre é fácil ou possível. Mas tomara que continuemos priorizando o ato de comer junto sempre que der. E lembre-se: não se trata apenas do jantar. Um lanchinho ou café-da-manhã em família também têm seu valor.

  • 2

    Ensinar as crianças a cozinhar –
    Muitas famílias têm encontrado tempo para envolver as crianças no preparo das refeições. Isso é uma excelente notícia, já que, segundo as pesquisas, essas crianças serão adultos que comem melhor. Um estudo de fôlego mostrou que pessoas que aprenderam a cozinhar quando tinham entre 18 e 23 anos estavam, uma década depois, comendo mais vegetais e menos fast-food. Claro, aprender a cozinhar é fascinante para as crianças, mas também pode ser exaustivo para pais que trabalham demais. Então não se sinta culpado se parecer que qualquer criança exceto a sua sabe refogar etc. Comece pelo básico, deixando seu filho organizar os petiscos no prato, por exemplo. Nunca é tarde ou cedo demais para dar às crianças alguma autonomia na cozinha.

  • 3

    Comer mais proteínas de origem vegetal –
    Faz décadas que os nutricionistas tentam encorajar as pessoas a fazer refeições vegetarianas. Agora, de repente, todo mundo está estocando todo tipo de feijões e lentilhas, provando tofu, fazendo hambúrgueres vegetarianos em casa — enfim, descobrindo que, com a receita certa, essas comidas podem ser muito saborosas. Alternativas à proteína animal, afinal, trazem benefícios para o indivíduo e para o planeta. Não quer dizer que você precise virar vegetariano, mas é possível pensar em carne de forma distinta — por exemplo, tratando-a mais como condimento do que como prato principal. Em vez de grelhar um pacote inteiro de frango para o jantar, por exemplo, tente fazer espetinhos de vegetais intercalados com pequenos pedaços de frango. Ou faça uma colorida salada com pedacinhos de salmão grelhado por cima.

  • 4

    Comprar comida na vizinhança e ajudar os outros na crise –
    Nas primeiras semanas da pandemia, muitas prateleiras de mercado ficaram vazias — enquanto produtores rurais usavam colheitas maduras como adubo e despejavam leite fresco no ralo. A pandemia ampliou os problemas na cadeia de suprimentos e levou as pessoas a procurar fontes locais de alimento. As vendas de farinha moída localmente, de peixe pescado de forma sustentável e o interesse por programas de agricultura familiar dispararam. Espero que a tendência se mantenha depois que a pandemia terminar e nos faça ter mais consideração por quem traz comida para nossa mesa. E tem ainda de outra crise em curso: 42 milhões de americanos estão enfrentando insegurança alimentar, número que tem crescido diariamente durante a pandemia do coronavírus. Com cada vez mais consciência acerca do problema da fome, as pessoas têm se disposto a ajudar. Como meu amigo que decidiu doar os vegetais de sua horta para ajudar outras famílias necessitadas. Algo importante que todos podemos fazer é lutar por políticas públicas que expandam o acesso a comida de qualidade e a cuidados de saúde.

  • 5

    Mudar a mentalidade sobre o bem-estar para incluir a autocompaixão –
    Comer é uma das formas mais básicas de cuidar de si. Mudanças bruscas nas rotinas alimentar e física têm feito as pessoas repensarem como se define o bem-estar. Muitos de meus pacientes estão lentamente começando a investigar sua relação com a comida e com seus próprios corpos. Com ajuda adequada, eles estão criando planos do tipo “o novo normal” para se alimentar que incluem a autocompaixão como prática diária. Um exemplo é uma breve meditação diária — pesquisas sugerem que a prática melhora vários aspectos do bem-estar, incluindo autoestima e apreço pelo corpo. Uma das coisas mais importantes e que, espero, as pessoas mantenham depois da pandemia, é ser mais amigável consigo mesmas em termos de alimentação. As pessoas têm se reunido mais em casa em torno da mesa nesses tempos sem precedentes, descobrindo novos hábitos e insights sobre o que significa realmente se alimentar. Tenha orgulho das pequenas e grande mudanças que você tem colocado em prática ultimamente. Elas podem se tornar novos e duradouros hábitos. Eu encorajo todo mundo a manter a nova versão caseira de pelo menos uma comida que se costumava comprar pronta e agora se faz em casa. Porque cozinhar em casa beneficia não só a saúde — mas também as relações pessoais.

Texto originalmente publicado no site The Conversation. Tradução: Willian Vieira

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