Combustíveis humanos

“Todo mundo sabe que a testosterona, o chamado hormônio masculino, é encontrada tanto em homens quanto em mulheres. O que não é tão conhecido é que os homens têm uma overdose… Até recentemente, pensava-se que o nível de testosterona nos homens é normal simplesmente porque eles o têm. Mas se você considerar o quão anormal é o comportamento deles, será levado à hipótese de que quase todos os homens sofrem de envenenamento por testosterona.”

Alan Alda, ator, 1975

Se há um assunto que carrega um estigma da Ignorância são os nossos hormônios que são talvez a mais importante área do conhecimento sobre nosso bem-estar. Eles são a coisa mais parecida com a pulsão de vida e espelham mais sobre você do que anos de psicanálise. Para mim alguns são especiais, a endorfina, a testosterona e a serotonina, todo mundo já ouviu falar deles.

A endorfina é conhecida como o “hormônio do bem-estar” ou “hormônio do prazer”. Ela é liberada em resposta a certos estímulos, como exercícios físicos intensos, risadas, alimentos saborosos e até mesmo o orgasmo. A endorfina tem a capacidade de aliviar a dor e promover uma sensação de euforia e relaxamento. Ela também está associada à regulação do humor, diminuição do estresse e aumento da sensação de prazer. Eles são o ópio do nosso corpo. As endorfinas atuam nos mesmos receptores cerebrais que os opioides exógenos (como a morfina e a heroína), mas são produzidas pelo próprio organismo.

Por sua vez, a serotonina é um neurotransmissor que desempenha um papel crucial na regulação do humor, sono, apetite e função cognitiva. Ela é frequentemente referida como o “hormônio da felicidade”. A serotonina ajuda a regular o humor, reduzir a ansiedade e a depressão, além de promover a sensação de bem-estar geral. Baixos níveis de serotonina estão associados a distúrbios como a depressão e a ansiedade. Por sua vez todas as substâncias empáticas e antidepressivos funcionam com um mecanismo similar chamado ISRS. Os ISRS funcionam ao bloquear a recaptação da serotonina nos neurônios do cérebro, aumentando, assim, a disponibilidade deste neurotransmissor nas sinapses (as conexões entre os neurônios). Esse aumento da serotonina no cérebro é associado a melhorias no humor e no bem-estar emocional, aliviando os sintomas de depressão e ansiedade.

A testosterona é responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais masculinos, como o crescimento de pelos faciais e corporais, voz mais profunda e aumento da massa muscular. Além disso, ela está envolvida na regulação da libido e da fertilidade masculina. Contudo, a testosterona não é exclusiva para homens, pois mulheres também a possuem, mas em níveis muito menores. Nas mulheres, a testosterona desempenha um papel importante na saúde sexual, no metabolismo ósseo e na manutenção da massa muscular. Mas também está associado a agressividade masculina que pode ser mensurada em soldados quando se iniciam na guerra.

Embora a endorfina e a serotonina possam estar relacionadas à sensação de prazer e bem-estar, elas atuam de maneiras diferentes no cérebro. A endorfina tem efeitos mais imediatos e está relacionada a experiências prazerosas específicas, enquanto a serotonina desempenha um papel mais amplo na regulação do humor e da função cerebral. Homens e mulheres os metabolizam de forma invertida, as mulheres quando amam acumulam os hormônios, aumentando seu estoque disponível, já os homens o metabolizam ao contrario e quando estão vivendo um grande amor gastam seus estoques de serotonina. Alguns acreditam até que o hormônio passa de um para o outro através das peles em contato. Serotonina é um negocio importante praticamente todas as drogas, dos psicodélicos até as mais pesadas atuam como recaptadores de serotonina ampliando tanto o gasto quanto o estoque delas no corpo.

Ter uma alta taxa de serotonina pode significar uma pessoa animada e que transborde felicidade. E a tendencia é que isso seja real. Mas esse mesmo hormônio em excesso pode significar que ele desencadeie processos de doenças autoimunes, quando o corpo identifica um agente interno como inimigo e inicia um quadro inflamatório que pode disparar efeitos em diferentes partes do corpo simultaneamente, dos intestinos, às juntas, à pele, alergias e a dores de cabeça inexplicáveis. A incidência de doenças autoimunes cresceu exponencialmente nos ultimos anos. Ativada por fatores ambientais, toxicidade alimentar, abuso de fármacos e stress. Virou doença do nosso tempo. Um tempo onde a individualidade ocupou muito o espaço da troca simétrica e harmônica.

Interessado que sou por qualquer assunto, recentemente visitei o Museu da Tecnologia Jurássica em Los Angeles, o nome do museu não diz nada a respeito de seu vasto conteúdo que é principalmente focado nos conhecimentos sobre alquimia.

Uma vitrine em especial me chamou a atenção: “Os ovos da formiga de Muryam como um antídoto para o amor”. Publicado por J.F.M. Hoeniger em 1965, essa pratica ancestral sugere administrar ovos de formiga para aqueles aflitos com as dores do amor ou que desejem sair desse campo magnético. A pratica se constitui em consumir o ovo minúsculo em especial sua pulpa, a membrana que o envolve, que contém hidroclorido de naloxona, que é um inibidor de endorfina. Ao bloquear os receptores de opioides no cérebro, impedindo os de produzir a excitação das células, que tipicamente conhecemos como amor e seus estados análogos.

Conhecimentos como esse revelam o nosso total desconhecimento sobre como o nosso estado de espírito, nossa saúde, nosso contexto emocional são regidos por fenômenos químicos. Quando alguém diz que tem uma química com alguém, isso é uma das maiores verdades que podem ser ditas. Para além da dinâmica bacteriológica da qual já falei na coluna “O amor é uma bactéria”. O grande acontecimento do encontro do amor é um rito químico. E a dor resultante dele também é mensurável na forma como os corpos se tornam autoimunes, ou rejeitam-se a si mesmos. A condição da vida é a simbiose.

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