Inteligência artificial nas artes
Podcast, livro e palestra: confira esses e outros conteúdos recomendados pela designer Larissa Ribeiro para quem deseja se aprofundar nas implicações éticas e culturais da IA no cenário artístico
Não há como escolher se a inteligência artificial irá entrar ou não na vida dos artistas. Essa tecnologia, que tem a capacidade de aprender sem a influência humana (em um processo chamado de deep learning), é uma preocupação ao mesmo tempo que uma realidade concreta no mercado das artes. Cada vez mais avançadas, plataformas como o Midjourney e Dall-e criam imagens a partir de texto ou outras referências. Em seu perfil do Instagram, a designer e artista visual Larissa Ribeiro, compartilha suas descobertas na exploração de IA nos processos criativos colaborativos e mostra como a ferramenta pode ser uma aliada na produção artística se usada de forma responsável.
Formada em Arquitetura, ela é sócia do Estúdio Rebimboca, em São Paulo, e da produtora literária Sabichinho, onde publicou livros ilustrados já traduzidos em mais de 20 países e disponíveis para download gratuito. Hoje, também ministra cursos e workshops para artistas que querem aprender a criar imagens com IA generativa — enquanto desenvolvem uma visão crítica e reflexiva sobre essa ferramenta.
A necessidade de regulação, a definição do que é arte, a preocupação com a originalidade e a propriedade intelectual dos autores são apenas algumas das faces do complexo debate sobre a integração da IA ao campo artístico. Nesse contexto, Gama convidou Ribeiro para indicar cinco conteúdos que constroem um panorama sobre o assunto. Confira:
-
O livro “A Cultura É Livre: Uma história da resistência antipropriedade”
(Autonomia Literária, 2020), de Leonardo Foletto
“O livro traça um panorama da origem da ideia de propriedade intelectual, numa análise muito bem ilustrada com exemplos das culturas ocidentais e orientais, sem esquecer dos povos originários das Américas. Também nos leva por um passeio histórico pelos fatos e utopias que se entrelaçam no nascimento da internet, e pelas disputas culturais que emergem com as possibilidades de pirataria e replicação infinita de obras artísticas. Considero esse livro fundamental não só para quem quer entender o impacto das IAs nas artes, mas para qualquer pessoa que queira entender um pouco mais sobre como se estrutura o mercado da arte em geral. A obra foi publicada pela Editora Autonomia Literária em coedição com a Fundação Rosa Luxemburgo e tem prefácio assinado por Gilberto Gil. A versão digital está disponível gratuitamente sob licença Creative Commons.”
-
Vídeo “AI Art, Explained”, da Vox
[Explicando a arte de inteligência artificial, em inglês, com legendas automáticas disponíveis em português]
“Para quem não faz a menor ideia de como a geração de imagens por inteligência artificial funciona, este vídeo consegue dar uma pincelada muito rápida e abrangente na maneira como essa tecnologia se desenvolveu. Apesar de ter sido feito em 2022 e os exemplos de imagens geradas por IA já parecerem um tanto ultrapassados (como de fato estão, com a rapidez com que as coisas têm se atualizado), o panorama histórico sobre o surgimento e modo de operação dos modelos de difusão é bem esclarecedor. Em 13 minutos ele consegue elucidar como é feita a varredura das imagens que vão alimentar o modelo treinado no método chamado deep learning, que é a capacidade da máquina aprender sem supervisão humana: as imagens de treinamento, que são alimentadas no sistema junto com o tagueamento e descrição verbal de seus conteúdos, servem de base para a geração de imagens a partir de um algoritmo que vai adicionando nitidez a um amontoado de ruído visual.”
-
O podcast “Resumido”
Apresentado por Bruno Natal
“Toda semana, o jornalista Bruno Natal faz um compilado das principais notícias do mundo da cultura digital, e consegue resumir com bom humor o impacto que a digitalização de tudo está causando na sociedade, em episódios que duram 20 e poucos minutos. Não é só sobre arte, nem só sobre inteligência artificial, mas a grande maioria dos assuntos que ele aborda são transversais a essas e muitas outras áreas da vida. Perfeito pra quem quer ter noção em pouco tempo dos desdobramentos das mudanças que o cenário da tecnologia vem trazendo pro nosso dia-a-dia.”
-
O artigo “There is no AI”
[Não há inteligência artificial, em inglês], de Jaron Lanier, na New Yorker
“Neste artigo da revista New Yorker, o cientista da computação e músico Jaron Lanier argumenta que tratar a inteligência artificial como apocalíptica pode desviar a atenção dos verdadeiros problemas estruturais, como a concentração de poder nas grandes empresas de tecnologia e as desigualdades sociais exacerbadas pelos sistemas de IA. Para Lanier, olhar a IA como força incontrolável pode enfraquecer a responsabilização humana e reduzir a capacidade de implementar regulamentações éticas e justas. Indico a leitura não só para artistas ou pessoas que queiram entender as implicações éticas e sociológicas dos sistemas de IA, mas para qualquer um que já tenha tido um senso de impotência diante dessas tecnologias.”
-
A série de palestras “Inteligência Artificial: entre a submissão e a subversão”, do Café Filosófico
Com curadoria de Giselle Beiguelman, artista, professora da FAU-USP e cocoordenadora do Grupo de Arte e Inteligência Artificial – INOVA USP
“Essa dica é para quem quer se aprofundar mais num contexto antropológico e filosófico e ter uma amostra do modo como a academia está olhando para as complexidades que emergem com a popularização das ferramentas de inteligência artificial. As palestrantes, artistas e acadêmicas, tratam de temas como a colonialidade e racialização nos sistemas que perpassam a criação dos modelos de IA. Em três conversas de aproximadamente 1 hora de duração cada, é possível encontrar definições importantes que nos mostram que as IAs estão muito mais entranhadas no nosso dia-a-dia do que imaginamos, além de boas pistas de como articular caminhos que permitam tanto a crítica quanto a apropriação dessas novas tecnologias pela arte.”