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Depoimento

O que os realities culinários te ensinaram?

Programas conectam o público à gastronomia e a culturas do mundo, enquanto apresentam técnicas e sabores

Sarah Kelly 19 de Outubro de 2025

O que os realities culinários te ensinaram?

Sarah Kelly 19 de Outubro de 2025

Programas conectam o público à gastronomia e a culturas do mundo, enquanto apresentam técnicas e sabores

Apesar de não representarem uma novidade, os reality shows culinários estão vivendo um verdadeiro boom. Com o sucesso contínuo da franquia “MasterChef Brasil” (2014-, Band), e o lançamento recente de programas como “Chef de Alto Nível” (TV Globo) e “Infiltrado na Cozinha” (GNT), o público brasileiro acompanha desafios cada vez mais complexos, provas inusitadas e um mergulho em diferentes nichos da gastronomia, da confeitaria ao churrasco.

Para quem assiste ou participa, as descobertas abrangem desde ingredientes exóticos, técnicas profissionais e formas de se conectar com a culinária e a cultura por trás de cada prato. A Gama, fãs dos realities e personalidades ligadas ao universo gastronômico contaram o que absorveram desses programas.

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    “Aprendi sobre ingredientes que antes não conhecia ou não sabia como usar, como tomilho, sálvia, tucupi, cardamomo… Eles despertaram em mim ainda mais desejo de estar na cozinha”

    Marina Franca, criadora de conteúdo no perfil Eu Prefiro Doce

    “Sempre gostei dos reality shows de gastronomia. Adoro como conseguem levar conhecimento sobre a culinária de vários países de forma tão democrática, misturando cultura e entretenimento. Assistindo a esses programas, aprendi sobre ingredientes que antes não conhecia ou não sabia como usar, como tomilho, sálvia, tucupi, cardamomo… Eles despertaram em mim ainda mais curiosidade e desejo de estar na cozinha. Aqui em casa, criamos até um ritual: toda vez que estreia um novo episódio do MasterChef, eu e meu marido preparamos um lanche caprichado e assistimos juntos. Virou um momento nosso! De inspiração, aprendizado e, claro, muita fome!”

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    Foto de Laís Acsa

    “No reality, precisei passar por um chacoalhão para mudar minha postura e aprender a transmitir segurança naquilo que faço”

    Elisa Fernandes, chef de cozinha e primeira vencedora do MasterChef Brasil

    “É muito difícil fazer uma versão resumida de tudo o que eu aprendi com o MasterChef, mas teve um momento que me marcou muito. Quando participei, fiquei tão impressionada com as câmeras e a pressão que percebi que queria muito que aquilo transformasse minha vida, para eu poder seguir meu sonho de ser cozinheira. Nisso, fiquei muito insegura. Eu chorava em todos os episódios, até que a Paola e a Ana Paula me disseram: “Elisa, não adianta ficar chorando, só você pode te fazer chegar aonde quer. Se você não acredita no que faz, como a gente vai acreditar?’. Percebi que estava deixando a circunstância me abalar e entendi que não dá para exteriorizar toda a insegurança dessa maneira tão genuína e quase inocente. Precisei passar por um chacoalhão para mudar minha postura e aprender a transmitir segurança naquilo que faço. Até porque, quando falamos de uma exposição pública gigante, como a da televisão e das redes sociais, nem sempre as pessoas vão nos interpretar como realmente somos.”

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    “Passei a cozinhar cada vez mais, a testar receitas que via nas provas e a descobrir uma vocação”

    Vini Tomé, criador de conteúdo no perfil Rangotapronto

    “Assim como todo brasileiro, eu sempre gostei de reality show, mas comecei a assistir os de gastronomia com o Hell’s Kitchen. Era divertido, mas distante da minha realidade. Quando o MasterChef Brasil começou, tudo mudou. Eu via pratos que conseguia fazer, com ingredientes do meu país, e comecei a me arriscar na cozinha. Durante a pandemia, eu e minha esposa maratonamos todos os realities de gastronomia, e foi aí que me apaixonei de vez por cozinhar. Um prato simples, macarrão ao pesto, me marcou muito — nunca tinha usado manjericão antes. A partir dali, passei a cozinhar cada vez mais, a testar receitas que via nas provas e a descobrir uma vocação. Quis viver disso, e encontrei no conteúdo digital uma forma de realizar esse sonho. Hoje vivo de gastronomia, e foram os reality shows que me fizeram enxergar esse caminho.”

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    “Me despertou um hobby que me traz prazer, confiança e segurança, e me faz inventar receitas e cozinhar para meus amigos”

    Aline Balancelli, professora de história e fã de realities gastronômicos

    “Há dez anos, quando fui morar sozinha, não sabia cozinhar nada e passei meses comendo só macarrão alho e óleo ou miojo. Um dia tentei fazer uma lasanha para dois amigos e nunca tinha feito antes. Ela ficou conhecida como lasanha de frango assado, mas na verdade era de bolonhesa; coloquei pouco molho, ela queimou e inflou, virando uma bola em cima — a pior lasanha que eu e meus amigos já comemos, mas que rendeu muita risada. Logo depois, comecei a assistir MasterChef e aprendi as bases da cozinha: como fazer um bom molho, um bom carbonara, um bom risoto, o que eu preciso para fazer uma carne. Isso despertou um hobby que me traz prazer, confiança e segurança. Hoje passo domingos inventando massas fermentadas, pizzas, lasanhas ou risotos para amigos, e ver que eles gostam da minha comida é incrível”

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    “Mais do que receitas, aprendi sobre diversidade cultural na gastronomia e novos ingredientes”

    Luiza Soares, nutricionista e cozinheira, participante do “Chef de Alto Nível” (TV Globo, 2025)

    “Dez anos assistindo realities culinários de vários países diariamente… não dá para dizer que aprendi pouca coisa. Mais do que receitas, aprendi sobre diversidade cultural na gastronomia e novos ingredientes. Vi pela primeira vez cacau, raiz de lótus, palma, limão caviar, bardana, tupinambo, ruibarbo… e isso despertou curiosidade de pesquisar e explorar suas possibilidades. Conheci cozinhas pouco acessíveis, como indígena, andina e do Oriente Médio, e me aprofundei nos biomas brasileiros. Como sempre me via como participante, os realities trabalharam minha criatividade: comecei a pensar em combinações inusitadas, restrições, inovações, pratos monocromáticos, uso integral dos alimentos, releitura de clássicos, desconstrução. Sem citar a parte de impressionar os chefs… e, quando eu menos esperava, me vi frente a frente com eles.”

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    “Aprendi sobre o sabor caramelizado do tostado! É impressionante o quanto a gente aprende com os jurados e com os participantes”

    Michele Ykegaya, criadora de conteúdo sobre gastronomia, lifestyle e dicas

    “Sou suspeita para falar, porque sou fã de reality shows culinários! Acho incrível como eles aproximam o público da gastronomia e permitem conhecer culturas e sabores do mundo todo. É um jeito acessível e inspirador de aprender. Um fato curioso é que, em uma gravação, eu me desconcentrei e acabei deixando um biscoito com chocolate branco tempo demais no forno, o chocolate da cobertura tostou e surpreendentemente, ficou uma delícia! Por coincidência, naquela mesma semana, a Paola Carosella falou sobre essa técnica em um programa, explicando que o sabor caramelizado do tostado é usado por chefs. Achei o máximo! É impressionante o quanto a gente aprende com os jurados e com os participantes. Tenho certeza de que esses programas inspiram cozinheiros nas suas próprias casas, assim como me inspiram a criar conteúdo!”

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    “Eu tinha preconceito com reality shows culinários. Com o tempo, viraram uma boa fonte de inspiração para tentar coisas novas”

    Rafael Capanema, jornalista e autor da newsletter “Cozinhar, comer”

    “Eu tinha preconceito com reality shows culinários. Achava que não tinham nada a ver com cozinhar em casa ou profissionalmente, que criavam situações artificiais. Não deixa de ser verdade, mas bastaram alguns episódios para eu enxergar o valor deles — além do entretenimento, inclusive. Gosto de desafios como o de preparar o mesmo ingrediente em três texturas, por exemplo. Também me marcou bastante um episódio do coreano Guerra Culinária em que os concorrentes tiveram que cozinhar tofu de inúmeras formas, até a exaustão. Para mim, que tendo a repetir infinitamente os preparos de que gosto, os reality shows viraram uma boa fonte de inspiração para tentar coisas novas. Às vezes me apego bastante a alguns concorrentes. Quando encontrei Gloria Pai, minha participante preferida do MasterChef 12, em uma feira de gastronomia, fiquei tão emocionado como quando conheci Tom Zé.

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    “Aprendi a fazer um risoto no ponto certo, temperar chocolate, preparar creme inglês e identificar o ponto da carne só de olhar”

    Maria Eduarda Xavier, estudante e fã de realities gastronômicos

    Acompanho MasterChef desde o começo, e o programa transformou minha relação com a cozinha. Aprendi sobre ingredientes, temperos e técnicas que não conhecia, como fazer um risoto no ponto certo, temperar chocolate, preparar creme inglês e identificar o ponto da carne só de olhar. Assistir às provas me fez perceber a importância do empratamento, das porções e dos processos que antes eu não notava nos restaurantes. Também me aproximou da culinária regional e internacional: nordestina, asiática, árabe, africana. Experimentei pratos como vatapá, sarapatel e bobó de camarão, e fui aos restaurantes dos chefs para entender na prática a técnica e a tradição por trás de cada prato. Isso aumentou minha paixão, meu repertório e minha forma de apreciar comida e cultura.

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    “Um dos aprendizados mais legais foi fazer ceviche de tilápia. Vi em um episódio e achei que seria supercomplicado, mas tentei em casa e deu certo!”

    Jardel Anjos, comentarista de realities gastronômicos no TikTok

    “Eu sou completamente viciado em reality shows de culinária — gosto tanto que hoje faço vídeos na internet falando sobre esse universo. Acho incrível como esses programas acabam ensinando várias coisas, mesmo quando a gente só tá assistindo por diversão. Um dos aprendizados mais legais foi fazer ceviche de tilápia. Vi em um episódio e achei que seria supercomplicado, mas tentei em casa e deu certo! Desde então, virou um dos meus pratos preferidos. Esses programas me fizeram ter outra relação com a cozinha — hoje vejo cozinhar como algo leve, criativo e divertido.”

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