Vale moda na cozinha?

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Bloco de notas

Livros que unem gastronomia e literatura

Dos clássicos a reinvenções inovadoras, estas obras, assim como grandes pratos gastronômicos, nos lembram que a comida também é uma arte

Livros que unem gastronomia e literatura

19 de Outubro de 2025

Dos clássicos a reinvenções inovadoras, estas obras, assim como grandes pratos gastronômicos, nos lembram que a comida também é uma arte

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    Em “Kitchen” (Estação Liberdade, 2025), de Banana Yoshimoto, a cozinha é um espaço de refúgio e luto. Para a jovem protagonista, fazer comida significa dar continuidade à vida após a morte de sua avó e última parente viva. É por meio da gastronomia que a personagem encontra acolhimento e também um novo lugar no mundo. A obra se divide em duas histórias interligadas, ambas tratando da perda, da busca por conexão e da capacidade de seguir em frente. Publicado originalmente em 1988, o livro transformou a escritora Banana Yoshimoto em fenômeno internacional e uma das principais vozes da literatura japonesa.

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    Para quem já acompanhou nas telas os preparativos do suntuoso banquete feito pela imigrante francesa Babette, pode parecer estranho pensar que foi na verdade um livro que inspirou o longa vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Mas o fato é que “A Festa de Babette” (Sesi-SP Editora, 2020), em 1988, escrito originalmente pela dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962), é uma leitura tão deliciosa e sensível quanto o filme. Numa das narrativas que exploram em mais detalhes as minúcias da cozinha e da alta gastronomia, o que fica é uma experiência surpreendentemente emocional sobre a comida como um agente de união. Uma jornada de prazer, gratidão e autossacrifício, capaz de quebrar preconceitos.

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    A comida brasileira definitivamente não seria a mesma sem a forte influência que temos do mundo árabe. O jornalista e escritor Diogo Bercito explora essa relação de maneira muito original em “Brimos à Mesa: histórias da culinária árabe no Brasil” (Fósforo, 2025). Partindo de uma série de entrevistas e de uma pesquisa histórica extensa, ele reconta com muita literatura a saga dos temperos, pratos e gestos da comunidade árabe no Brasil, assim como do quibe, da esfiha, do charuto e até do pão. Ao narrar dos primeiros comércios de quitutes na 25 de Março, em São Paulo, às histórias por trás de restaurantes tradicionais como Almanara, Arábia e Halim — sem deixar de lado o fenômeno Habib’s —, ele conta também uma história de preservação da identidade árabe por aqui, praticamente do outro lado do mundo.

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    Para muitos, a Itália é a origem de alguns dos pratos favoritos da vida. Porém, diferentemente de iguarias populares como a lasanha ou a pizza, o sorrentino até pode ter seu nome extraído da cidade italiana de Sorrento, mas virou uma massa típica de países da América do Sul. A escritora e tradutora argentina Virginia Higa narra em “Os Sorrentinos” (Autêntica Contemporânea, 2025) a trajetória de uma família de imigrantes italianos que teria criado e introduzido o prato em terras argentinas. A partir da gênese dessa massa recheada, com formato semelhante ao de um ravióli, conhecemos Chiche, um excêntrico irmão caçula nascido nessa mesma família algumas gerações mais tarde. Com sensibilidade e humor, é pela voz dele, e por sua capacidade de transformar acontecimentos banais em narrativas memoráveis, que acompanhamos as memórias e fragmentos dessa história familiar incomum.

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    A simpática jornada da escritora Elizabeth Gilbert e sua redescoberta da vida, adaptada para as telas na popular comédia romântica com Julia Roberts, acaba de ganhar uma nova edição. “Comer, Rezar, Amar” (Objetiva, 2025), obra que já vendeu mais de 12 milhões de exemplares pelo mundo, conta uma história atemporal que até hoje inspira muita gente a deixar tudo para trás e sair pelo planeta. Após largar seu emprego para realizar uma viagem de um ano, Gilbert visitou três lugares que mudaram sua vida e sua visão sobre o mundo: Roma, onde descobriu a arte do prazer; a Índia, onde se dedicou à devoção; e Bali, na Indonésia, onde estudou o equilíbrio entre os dois anteriores — e se apaixonou à primeira vista por um brasileiro.

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    O choro da escritora e roqueira Michelle Zauner entre as prateleiras de produtos coreanos de um mercado novaiorquino se tornou uma das imagens mais marcantes da literatura contemporânea. A morte precoce da mãe é o ponto de partida de “Aos Prantos no Mercado” (Fósforo, 2022), uma história sobre a comida como um caminho para o afeto e a conexão. Não à toa, a combinação de ingredientes que ligam a protagonista à sua família e à sua terra natal é o que dispara uma corrente de memórias sobre essa relação conturbada. E é a comida também que ajuda a colocar em perspectiva o jeito endurecido da mãe, enquanto Zauner percebe que o amor dela estava embutido em gestos tão simples quanto preparar kimchibanchan ou tteokguk.

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    Para além de “A Casa dos Espíritos” (Bertrand Brasil, 2017), seu livro mais conhecido, a escritora chilena Isabel Allende tem uma obra vasta que trata das raízes políticas e culturais da América Latina. Um dos resultados mais curiosos de sua escrita é “Afrodite: Contos, receitas e outros afrodisíacos” (Bertrand Brasil, 2025), publicado originalmente em 1996, e que acaba de sair numa nova edição por aqui. Ao entrelaçar histórias, a escritora explora os vínculos entre comida, erotismo e identidade, em narrativas pessoais e contos bem-humorados que celebram o prazer em suas diferentes formas. Uma obra que nos faz refletir sobre o desejo, a intimidade e o poder transformador da comida.

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    Que criança não gostaria de passear livremente por uma cozinha recheada de guloseimas de todos os tipos? Quem realiza esse sonho é o pequeno protagonista de “Na Cozinha Noturna” (Companhia das Letrinhas, 2023), do autor e ilustrador norte-americano Maurice Sendak (1928-2012). E trata-se mesmo do mundo dos sonhos, já que é quando adentra a escuridão de seu quarto que Mickey chega ao cenário da cozinha noturna, onde padeiros preparam um bolo para o café da manhã. Numa noite agitada e emocionante, o jovem acaba envolvido numa série de pequenas aventuras, como escapar da tigela de massa e ajudar os cozinheiros a conseguirem mais leite para a receira. Clássico infantil do humor e do nonsense, a obra impressiona pelas imagens belas e imaginativas típicas do autor, que criou também outros mundos fantásticos célebres como o do clássico “Onde Vivem os Monstros” (Companhia das Letrinhas, 2023).

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    “Como Água para Chocolate” (Martins Fontes, 2015), da colombiana Laura Esquivel, é um dos principais exemplares do realismo mágico na literatura. Aqui, a cozinha é um espaço de expressão e resistência das mulheres no ambiente doméstico, o que fez do livro também um marco para a escrita feminista do país. Tudo na obra funciona ao redor da culinária. Cada um dos 12 capítulos abre com uma receita da tradição mexicana, em torno da qual se desenvolvem os amores, desamores, risos e choros de uma gama de personagens. Como não poderia deixar de ser, tratando-se de um clássico latino-americano, esta é também uma saborosa saga familiar — que teve uma adaptação de sucesso para o cinema e ganhou uma continuação recente, publicada quase três décadas depois do original.

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    Publicado no início do século 20, “A Vida e a Paixão de Dodin-Bouffant, Gourmet” (Nova Fronteira, 2024), do romancista suíço Marcel Rouff, chegou com mais de um século de atraso ao Brasil, na esteira do belo filme “O Sabor da Vida”, estrelado por Juliette Binoche e Benoît Magimel. A história é a de Dodin-Bouffant, um magistrado aposentado cuja vida gira em torno do fazer gastronômico, que recebe em sua mesa convidados ilustres e até príncipes. Mas, quando sua cozinheira e amante sofre com um problema súbito, o equilíbrio na cozinha de Bouffant se despedaça, criando novas emoções e possibilidades para o futuro. Toda essa história é perpassada pela meticulosa recriação de grandes clássicos da gastronomia francesa, cujo preparo é feito com a mesma atenção e sutileza com que se desenrolam as relações entre os personagens.

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