Qual seu clube do livro?
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Ilustração de Luana Silva

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5 dicas

Como aproveitar melhor um clube do livro

Online ou presencial, mediado por intelectuais ou celebridades, grupos de leitura compartilhada se multiplicam. Veja dicas para se engajar melhor nessa experiência

Flávia Mantovani 20 de Abril de 2025

Como aproveitar melhor um clube do livro

Flávia Mantovani 20 de Abril de 2025
Ilustração de Luana Silva

Online ou presencial, mediado por intelectuais ou celebridades, grupos de leitura compartilhada se multiplicam. Veja dicas para se engajar melhor nessa experiência

Populares desde o século 18, clubes do livro estão longe de ser uma novidade, mas voltaram com tudo desde que o mundo viveu a pandemia de covid-19 e mais intensamente nos dois últimos anos, especialmente no Brasil. Há opções para leitores com todo tipo de interesse e rotina: encontros presenciais ou virtuais, estruturados ou mais livres, genéricos ou dedicados a gêneros específicos, mediados por intelectuais ou por celebridades —- as atrizes Reese Witherspoon e Natalie Portman, a cantora Dua Lipa, o influenciador Felipe Neto e a apresentadora Gabriela Prioli são alguns nomes que lançaram seus próprios clubes.

Em comum, eles têm a característica que é a essência desse tipo de clube: transformar um hábito individual como a leitura em uma experiência compartilhada.

Em maio, Gama promove o seu primeiro clube do livro facilitado pela escritora Bianca Santana, autora de “Quando me Descobri Negra” (Fósforo, 2023), “Continuo Preta: A vida de Sueli Carneiro” (Companhia das Letras, 2021) e “Arruda e Guiné: Resistência negra no Brasil contemporâneo” (Fósforo, 2022). Com o nome de “Leitura de Si”, o clube reúne textos em primeira pessoa que são profundas investigações de autoras e autores brasileiros e estrangeiros sobre quem são, como estão colocados no mundo e também de suas lutas. Saiba como se inscrever neste link.

A seguir, leia dicas para aproveitar melhor a participação nesses clubes.

  • 1

    Escolha um clube que tenha a ver com você –
    Não entre para um clube só porque parece bonito entender daquele tema. O efeito pode ser o oposto do esperado: o compromisso de ler aquelas obras pode se tornar algo chato, e não um hábito prazeroso. Escolha um assunto que te move, seja porque já curte ou porque tem interesse em saber mais. Há opções para todos os gostos — de fantasia a literatura contemporânea.

    “Tem clube que parece que vai te ensinar isso ou aquilo, mas se você não gostar, isso vai te desconectar e te afastar mais ainda desse hábito, da experiência de ler.  Vá atrás daquilo que faz sentido para você, diz a jornalista Eliz Oliveira, criadora de um clube do livro que vai completar sete anos. Mestre em literatura hispano-americana, ela faz a mediação do Memorial da América Latina e é autora da página @nossaliteratura.

    Também não adianta participar de um grupo que tenha um ritmo muito diferente do que cabe no seu dia a dia. Veja se funciona melhor para você encontros presenciais ou online, semanais, mensais ou com uma periodicidade maior. A ideia é que o clube te incentive a ler de forma convidativa e prazerosa, e não como mais uma obrigação na rotina.

  • 2

    Encoraje-se a falar –
    Há pessoas que são mais tímidas e vão aos clubes só para ouvir. Mas vale se encorajar a dividir seus pensamentos com o grupo, sabendo que clubes do livro são — ou deveriam ser — espaços seguros para não só dividir conclusões brilhantes, mas dúvidas e ideias não tão elaboradas. “Você não precisa ser especialista, nem ter explicações sobre nada”, afirma a escritora Bianca Santana. “Compartilhe suas perguntas, seus incômodos, as ideias que teve durante a leitura.Traga referências de outras autoras e autores que você já leu. Conte experiências vividas por você que podem ilustrar ou ajudar a compreender algum tema do livro”, completa.

    Apresentadora da TV Cultura e da rádio Eldorado, Roberta Martinelli entrou nesse universo a partir de seu programa “Clube do Livro Eldorado”, no qual entrevista escritores e especialistas em literatura. “O programa não é especificamente um clube do livro, mas me abriu as portas para os clubes. Comecei a ser chamada para participar de muitos e passei a amar essa experiência coletiva”, conta.

    Ela também gosta quando os participantes dividem experiências pessoais — e vê isso acontecer com frequência. “Às vezes a identificação com um personagem é muito poderosa. Acho legal misturar com experiências nossas na hora de trocar nos clubes”, diz.

    O jornalista Rodrigo Casarin, editor da coluna Página Cinco no Uol e autor do livro “A Biblioteca no Fim do Túnel: Um leitor em seu tempo” (Arquipélago Editorial, 2023), observa que, além de contribuir com a conversa, a experiência de dividir com o grupo as impressões sobre o livro também é enriquecedora para quem se manifesta. “Quando apreciamos um produto artístico — pode ser um livro, um filme, um quadro ou uma peça de teatro —, algumas impressões ficam internalizadas. Esse movimento de produzir um conteúdo, mesmo que seja uma fala espontânea, a respeito daquilo que você leu faz com que você automaticamente elabore e dê um formato melhor para o que aprendeu e pensou sobre aquela obra. E na hora em que você vai externar essas impressões, às vezes você percebe aspectos que estavam dentro de você, mas não estavam tão óbvios”, afirma.

    Só se lembre de que a participação é muito bem-vinda, mas ninguém precisa monopolizar o discurso e dar uma palestra de uma hora.

  • 3

    Esteja aberto a discordâncias –
    Pode ser que aquele personagem que você amou seja considerado insuportável por outro participante do clube ou que uma conclusão que parece banal para alguém desperte lembranças e reflexões dolorosas em outra pessoa. Bianca Santana lembra que é preciso estar disposto a ouvir com atenção e abertura o que dizem os demais participantes. “Você não precisa concordar nem discordar, pode refletir sobre diferentes pontos de vista”, diz.

    Roberta Martinelli conta que, de fato, dependendo do livro e do tema, ocorrem discordâncias e discussões acaloradas. Ela acredita que a recomendação de estar preparado para ouvir opiniões diferentes “para óbvia, mas é importante de ser dita nestes tempos de redes sociais, em que a gente fala só para quem gosta da gente”. “É legal quando você ouve uma coisa que não tem nada a ver com o que você pensou. Você pode se surpreender com uma história que na tua cabeça jamais faria sentido, mas que para outra pessoa fez muito sentido.”

    Rodrigo Casarin considera que esse é um dos trunfos dos clubes: serem ambientes menos hostis e mais acolhedores do que as redes sociais, nos quais as pessoas podem expressar suas opiniões e visões sobre literatura sem se preocupar em serem atacadas. “São espaços que oferecem uma coisa que a gente está perdendo, que é a abertura para a discordância respeitosa e para a confrontação de ideias, sem que aquilo se torne um embate entre as pessoas”, diz.

    Outra dica que ele dá é não achar que é preciso sair do encontro com uma conclusão ou um denominador comum. “A arte possibilita diferentes visões, diferentes leituras e contradições. Então, acho que é ir para o clube muito mais para ampliar horizontes do que para fechar a leitura numa caixinha muito específica. Os livros sempre são múltiplos.”

  • 4

    O ideal é ler o livro, mas, se não deu, não deixe de ir –
    É claro que o ideal é ter lido o livro ou o capítulo combinado no cronograma do clube, mas, se não conseguir, não precisa deixar de participar dos encontros. “Ouça as trocas e se inspire a seguir na leitura”, indica Bianca Santana.

    “Cada pessoa tem seu ritmo, sua rotina. Acompanhar a conversa sobre um livro pode até motivar alguém a terminá-lo”, concorda Eliz Oliveira. “Sempre digo: se vocês não se importarem com spoilers, podem entrar ou então assistir até a parte que vocês leram.”

    Esse ponto é importante: ter a consciência de que podem rolar spoilers. Se não for um problema para você, não deixe de participar.

  • 5

    Aproveite o impulso para ler fora do clube –
    Clubes do livro são ótimos incentivos para criar ou retomar o hábito de leitura. Eliz Oliveira vê isso na prática com frequência. “Muita gente me diz que lia um ou dois livros por ano e de repente leu 12, que é a quantidade que lemos no clube. E não estou falando só de quantidade, mas também sobre um envolvimento e um interesse real da pessoa nas leituras. Esse salto acontece mesmo”, diz.

    Mas ela recomenda não perder a autonomia. Vale aproveitar o impulso para descobrir por si mesmo outras obras. “É incrível participar de clubes, ler o que te recomendam, ser influenciado. É uma dinâmica riquíssima, mas não acho que deve ser a única. É importante também manter as suas escolhas e ir construindo a sua experiência pessoal e própria de leitor. Então, não deixe de procurar livros por si mesmo.”

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