A livraria gigante dentro da Bienal do Livro — Gama Revista
Reprodução/Instagram @livrariasanl

A livraria gigante dentro da Bienal do Livro

Evento em São Paulo vai abrigar “A Grande Livraria”, estande que reúne dezenas de livrarias de todo o Brasil em defesa desse espaço cada vez mais ameaçado

Leonardo Neiva 01 de Julho de 2022

Que tal se perder pelos corredores de uma livraria dentro do maior evento literário do Brasil? Além do tradicional evento que permite conhecer alguns de seus autores nacionais e internacionais favoritos — e, mais uma vez, levar para casa mais pilhas de livros do que você imaginava que conseguiria carregar –, a 26ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo vai ser palco de um grande movimento liderado por livrarias de todo o Brasil. Quem visitar os pavilhões do Expo Center Norte entre os dias 2 e 10 de julho, vai dar de cara pela primeira vez com “A Grande Livraria”.

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O espaço, que vai ocupar uma área total de 300 m², reúne dezenas de livreiros numa única loja. O projeto faz parte do movimento Tudo Começa na Livraria, criado para mostrar ao leitor como os profissionais que amam livros e também sobrevivem deles estão dispostos a dar cada vez mais relevância a esse espaço plural e democrático, considerado indispensável para a saúde da sociedade. Um dos principais pontos enfatizados é que, quando não existe uma diversidade entre as livrarias, a venda de livros se concentra nas mãos de algumas poucas empresas, que acabam oferecendo condições impossíveis de acompanhar pelo restante do setor.

O projeto — que reúne representantes como a Livraria Martins Fontes da Paulista e a Livraria Escariz, de Sergipe –, nasceu de maneira informal lá em 2020, no início da pandemia, quando as perspectivas eram sombrias e incertas. O setor de livros, aliás, já vinha passando por sucessivas crises aqui no Brasil, marcadas de forma mais expressiva pela queda das gigantes Fnac, Saraiva e Cultura. A chegada da Amazon ao país em 2012, com seus descontos tradicionalmente agressivos, provocou um descompasso na batalha de preços dos livros físicos. Para competir com a recém-chegada, grandes redes tentaram mudar o modelo de negócios, com um forte investimento no digital que, no entanto, acabou gerando uma perda de identidade. Em resumo, o plano não deu certo e muitas quebraram.

E veio a pandemia

Ao longo dos anos, o preço médio do livro por aqui caiu 34%, reduzindo os lucros e fazendo o mercado encolher 25%. A redução na compra de livros pelo governo, política crucial para a manutenção do setor editorial, também causou grande impacto no mercado. Só que a venda de volumes no geral continuava a crescer. O surgimento de novas editoras de porte pequeno e médio, investindo em bons autores e na fidelização de leitores, além da ascensão de livrarias menores e clubes de leitura, também apontavam para um futuro mais promissor.

As asinhas dessa retomada nem começaram a bater e já foram brutalmente cortadas pela chegada da pandemia. Além da crise, outro fantasma que passou a assombrar o setor foi a tentativa de tributação de livros proposta pelo governo, que poderia inviabilizar de vez os negócios livreiros no Brasil. Nos primeiros meses de 2020, em meio a todo esse contexto, um grupo de livreiros começou a se reunir virtualmente, semana após semana, para bater papo e trocar ideias a respeito desse mercado no Brasil, cujos problemas não terminam no momento em que a pandemia perde força.

Com o tempo, as reuniões foram crescendo e ganhando cada vez mais adeptos até que, no começo de 2022, o grupo assumiu o comando da Associação Nacional de Livrarias, posição de onde idealizaram o projeto d'”A Grande Livraria”. Trata-se da primeira vez, em mais de cinco décadas de Bienal, que livreiros e distribuidores do norte ao sul dão as mãos num projeto único, para mostrar ao público de leitores, editores e políticos a importância de haver uma diversidade de livrarias no país, seja nas ruas, em shoppings ou mesmo na internet.

Caminhos dos livros

Hoje, uma das principais apostas do setor é se destacar por meio da curadoria de títulos e por propostas personalizadas, que tornem a experiência de ir à livraria mais atrativas do que comprar um livro em casa. “O trabalho editorial de apresentar determinada linha conquista pessoas pela qualidade, e isso serve tanto para editoras quanto para livrarias”, disse em entrevista a Gama Rui Campos, dono da livraria Travessa, que também integra o projeto. O segredo, para ele, é encontrar nichos de público e investir em um conteúdo mais especializado.

No momento, também há um movimento em curso comandado por mulheres à frente de livrarias e editoras, que buscam romper a hegemonia masculina em cargos de liderança no setor. Foi de onde nos últimos anos surgiram projetos como o da editora Fósforo e da livraria virtual Dois Pontos.

“Um país sem livros, sem editores e sem leitores é um país sem futuro”, afirma o Tudo Começa na Livraria em comunicado oficial. O estande do grupo pode ser visitado durante todos os dias da Bienal, cujos ingressos custam de R$ 15 (meia) a R$ 30 (inteira). “Por isso o livro resiste. Porque não podemos viver sem ele. E ‘A Grande Livraria’ está aqui porque tudo começa na livraria: a busca, a descoberta, a escolha, a leitura e o livro.”

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