Tarsila do Amaral em mostra surrealista em NY
Exposição no Metropolitan Museum em Nova York reconsidera o movimento surrealista de forma mais abrangente, incluindo também artistas brasileiros, caribenhos, asiáticos, africanos e outros nomes de mais de 45 países
Botas com cabeças, cubos de açúcar numa gaiola e um telefone em forma de lagosta são algumas das imagens que vemos na mostra “Surrealism Beyond Borders” — surrealismo sem fronteiras, em tradução livre –, em cartaz até 30 de janeiro no museu Metropolitan em Nova York. O Surrealismo foi um movimento artístico surgido no começo dos anos 20 em Paris, que priorizava o inconsciente e o mundo dos sonhos no lugar do familiar e do cotidiano. Além de ter inspirado obras de arte poéticas e bem-humoradas, o movimento também foi usado ao redor do mundo como forma de manifestação política e social.
Na primeira sala da exposição (acima), uma tela de Tarsila do Amaral, “Cidade (A Rua)”, de 1929 Divulgação/The Met
O termo surrealismo é vasto, mas, como sugere o texto na parede de entrada da exposição, “surrealismo é (…) na essência, uma interrogação”. Não apenas um momento histórico, mas um verdadeiro movimento — dinâmico, que continua evoluindo até hoje, mais em busca de perguntas do que tentando oferecer respostas.
As cerca de 300 obras apresentadas no Met vêm das mais diversas partes do mundo e revelam interesses compartilhados por muitos artistas em várias regiões. Na primeira sala, nos deparamos com uma tela de Tarsila do Amaral, “Cidade (A Rua)”, de 1929. Nessa pintura, a artista brasileira faz referências tanto ao Brasil quanto ao Surrealismo. Tarsila passou alguns anos em Paris e fazia parte de um círculo de imigrantes e de artistas franceses, incluindo o poeta surrealista Benjamin Pérez. A essa altura, ela e seu parceiro Oswald de Andrade já haviam sugerido a Antropofagia, como forma de escapar da dominação europeia nas artes e na cultura brasileira.
A exposição inclui também artistas caribenhos, asiáticos, africanos e outros nomes de mais de 45 países Divulgação/The Met
Esse é apenas um dos exemplos da nova abordagem que o museu dá ao movimento, incluindo também artistas caribenhos, asiáticos, africanos e outros nomes de mais de 45 países. A cronologia vai para além dos anos 1920 — cobre oito décadas de produção artiística. Max Hollein, diretor do museu, acredita que “mesmo aqueles familiarizados com o Surrealismo vão se surpreender com essa exposição. Geralmente, o movimento é apresentado como algo canônico, monolítico e essa mostra apresenta algo mais dinâmico e conectado, que permitiu que artistas do mundo todo imaginassem suas próprias situações políticas, sociais, culturais e artísticas”.
Detalhe da obra “Long Distance”, idealizada por Ted Joans e executada por 132 colaboradores de várias partes do mundo Divulgação/The Met
Espalhada em oito galerias do museu, a exposição se divide em temas como “o corpo do desejo”, “o trabalho dos sonhos” e “uncanny” — “estranheza familiar”, em tradução livre. Entre os artistas apresentados estão Dorothea Tanning, Wilfredo Lam, Roberto Matta, e alguns dos representantes mais famosos do movimento, Marcel Duchamp, Salvador Dalí e René Magritte. Uma das obras que mais chamam a atenção trata-se de um papel sanfonado de 10 metros de comprimento. “Long Distance” (1976-2005) foi idealizado por Ted Joans e executado por 132 colaboradores de várias partes do mundo. A identidade de Joans era marcada por deslocamento e viagens, uma forma de se livrar das restrições impostas por nacionalidade, idioma e cultura. Seu lema representa bem o intuito da exposição: “Jazz é minha religião, surrealismo, meu ponto de vista”. Depois de NY, a mostra viaja para a Tate Modern em Londres, de fevereiro a agosto de 2022.
www.metmuseum.org
Até 30 de janeiro de 2022
Quinta Avenida, 899
Nova York