Os melhores filmes de 2021 segundo Gama — Gama Revista
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Os melhores filmes de 2021 segundo Gama

Desde um drama sobre nômades contemporâneos até a busca de cinco irmãos por um pai, uma traição no seio dos Panteras Negras e a chegada de uma vaca, veja as indicações de cinema da equipe Gama

05 de Janeiro de 2022
Noom Peerapong/Unsplash
  • 1

    Nomadland

    por Betina Neves, redatora
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    Reprodução/Searchlight Pictures

    Em setembro, o vencedor do Oscar de melhor filme deste ano finalmente chegou ao streaming no Brasil. O longa é baseado no livro “Nomadland: Sobrevivendo na América no século XXI” (Rocco, 2021), da jornalista americana Jessica Bruder. Ela acompanhou americanos que trocaram o boleto de aluguel por trailers, vans e outros veículos, abrindo mão de confortos materiais em nome da liberdade e autonomia. Misturando realidade e ficção, a diretora chinesa Chloé Zhao traz no filme um mergulho sensível, guiado pela protagonista Fern (papel da Frances McDormand) e suas memórias e fragmentos, nessa comunidade que vive às margens do país mais rico do mundo. Na vastidão das paisagens do Oeste dos EUA, “Nomandland” fala da falência e devastação do sistema, mas também de relações, entre encontros e despedidas, movimento e estabilidade, escolhas e imposições. Emocionante, mesmo.

  • 2

    Deserto Particular

    por Amauri Arrais, editor
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    Reprodução/Pandora Filmes

    Assisti ao filme, representante brasileiro que acabou ficando de fora da disputa do Oscar, para uma entrevista com o diretor Aly Muritiba. A história do policial Daniel (Antonio Saboia) me prendeu logo nas primeiras sequências. Dividido entre os cuidados com o pai, o afastamento da corporação por agressão e a paixão virtual por Sara, ele decide largar tudo e viajar até o interior da Bahia para encontrar a mulher que nunca viu pessoalmente. O filme ganha ares de road movie com uma fotografia exuberante, que me lembrou “O Céu de Suely” (2006). O longa do cearense Karim Aïnouz foi elogiado à época por mostrar um sertão pop, além das eternas referências da seca e da fome. Na história contada pelo baiano Muritiba, é como se essa imagem fosse de novo atualizada: estão lá o forró e a música pop, a pobreza e as SUVs, as igrejas neopentecostais e uma personagem ambígua como Sara. Causou um certo estranhamento que um filme que trafega por ambientes tão hostis para quem não se alinha a um padrão não tenha uma única cena de violência. Mas não é papel da ficção exatamente inventar outros mundos possíveis? Na entrevista a Gama, Muritiba contou que quis fazer um filme sobre amor e que a reação do público em Veneza ou na Mostra de São Paulo mostrou que estávamos precisando de uma história assim nesses tempos bicudos. Seguindo o conselho do diretor, revi o longa no cinema. Realmente, foi catártico.

  • 3

    O Novelo

    por Daniel Vila Nova, redator
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    Reprodução/Apple TV

    Baseado em uma peça de mesmo nome, “O Novelo” é um drama familiar sobre masculinidades. Quando um senhor chega em coma à UTI, a suspeita de que ele possa ser o pai que os abandonou leva cinco irmãos a se reunirem e confrontarem suas desavenças. Dirigido por Claudia Pinheiro, o elenco é composto somente por homens negros — diferentemente da montagem original da peça de 2009. O filme, que ganhou o prêmio de melhor longa pelo público no Festival de Gramado de 2021, nos apresenta diversas facetas da masculinidade e discute as diferentes formas de ser homem nos tempos atuais. Sincero, delicado, engraçado e por vezes brutal, fala sobre como o abandono paterno causa inúmeras cicatrizes em quem foi deixado para trás. O trabalho de Nando Cunha — prêmio de melhor ator em Gramado –, Sérgio Menezes, Rocco Pitanga, Rogério Brito e Sidney Santiago Kuanza é espetacular. Quando conversei com Cunha sobre o filme, ele me contou o quão importante para os atores foi demonstrar que, apesar de todas as dores, havia um enorme afeto entre os homens da família. Segundo o ator, esse é o filme da sua vida.

  • 4

    Shiva Baby,

    por Luara Calvi Anic, editora-chefe
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    Reprodução/Mubi

    O filme da diretora canadense Emma Seligman, de 26 anos, é uma tragicomédia millennial. Com uma hora e meia de duração, acontece durante um shivá, cerimônia de luto no judaísmo. Nele, a jovem Danielle (Rachel Sennott) parece ter tirado um dia de azar ao ter de lidar com personagens de diferentes facetas de sua vida em um mesmo ambiente: uma casa meio apertada, cheia de visitantes e com clima de velório. Lá estão sua ex-namorada, seu sugar daddy, que aparece no evento acompanhado de esposa e filho, e seus pais, munidos de comentários constrangedores sobre sua vida profissional. O roteiro rápido, a câmera tensa e a excelente atuação de Sennot fazem do longa uma esquete bem amarrada, afinada com os debates atuais da geração que hoje tem vinte e poucos anos e muitas crises.

  • 5

    Ataque dos Cães

    por Isabelle Moreira Lima, editora-executiva e colunista
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    Reprodução/Netflix

    Você ainda vai ouvir falar muito desse filme. Aliás, talvez já tenha começado a ouvir. “Ataque dos Cães” (Netflix) foi lançado no finzinho do ano, mas é um dos grandes de 2021. Dirigido pela veterana Jane Campion, a mesma de “O Piano” (1993), traz a história triste, triste de pessoas muito solitárias: uma viúva batalhadora que vive com o filho delicado e que acaba por se casar com um homem rico e afetuoso, mas que é companheiro de vida de um irmão quase vilão, um cowboy bruto que se torna algoz da nova cunhada ao perseguir seu filho. A história é baseada em um romance homônimo de Thomas Savage que também inspirou “Brokeback Moutain” (2005). As atuações de Benedict Cumberbatch como o cowboy; de Kirsten Dunst como a mãe preocupada; de Jesse Plemons, como o homem generoso e apaixonado; e do impressionante jovem Kodi Smit-McPhee são capazes de nos trazer para o centro do conflito e nos deixar tensos pelas 2h08min de filme. E isso sem falar na brilhante trilha sonora de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, que já havia arrebentado em longas como “Trama Fantasma” (2017) e “Sangue Negro” (2007). Se ainda não viu, vá para a TV o quanto antes.

  • 6

    Cruella

    por Manuela Stelzer, redatora
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    Reprodução/Disney+

    Entre figurinos exuberantes e atuações brilhantes, “Cruella” é uma peça rara entre os remakes da Disney. A inconfundível vilã de “101 Dálmatas” (1961), nesta versão ganha o rosto da vencedora do Oscar Emma Stone, capaz de equilibrar duas personalidades: de um lado, Estela, uma ladra de grande talento, e do outro, Cruella, a perversa e obstinada estilista. A construção complexa da vilã, que ao mesmo tempo mistura experiências traumáticas na infância com uma identidade geniosa e avessa aos padrões, faz do longa um ótimo entretenimento para a família — para a minha, foi! Os looks fascinantes e divertidos também provocam o espectador, que pode relacionar cada novo modelo com questões pessoais da personagem. De uma história um tanto manjada — pelo menos é isso que achamos ao dar play –, “Cruella” encanta pelos detalhes do roteiro, produção impecável e complexidade dos personagens.

  • 7

    First Cow – A Primeira Vaca da América

    por Leonardo Neiva, redator
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    Reprodução/Mubi

    Dois bons amigos, uma enorme extensão de terras ainda praticamente inexplorada e uma vaca. Esses três elementos são o ponto de partida para uma história enganosamente simples. Disse enganosamente porque ela acaba tocando em conceitos complexos, como a impossibilidade do sonho americano desde a sua concepção, as armadilhas do capitalismo e a amizade pura e simples. Em “First Cow”, disponível no Mubi no Brasil, Cookie (John Magaro), um cozinheiro que acompanha um grupo de brutais caçadores de pele, e King-Lu (Orion Lee), um imigrante chinês em fuga após ter matado um homem, se encontram num lugar impossível. Ali, descobrem um no outro uma delicadeza inesperada, especialmente na América selvagem e inóspita dos anos 1820. Essa delicadeza é representada pela chegada de uma dócil vaca europeia, bicho raro na região. Com o leite que roubam da vaquinha, os dois acabam criando um próspero comércio de biscoitos. Mais uma vez, a cineasta americana Kelly Reichardt, do excelente “Wendy e Lucy” (2008), conta uma história silenciosa e delicada sobre pequenos lapsos de humanidade em ambientes brutais. O carisma da dupla central, coração do filme, é o que nos conduz ao longo da narrativa em direção a um final que parece inevitável.

  • 8

    Judas e o Messias Negro

    por Andressa Algave, estagiária de texto
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    Reprodução/Netflix

    Com atuações arrepiantes que renderam a Daniel Kaluuya o Oscar de melhor ator coadjuvante e a Lakeith Stanfield uma indicação na mesma categoria, “Judas e o Messias Negro”, disponível no HBO Max, conta a história real de perseguição e luta do jovem Fred Hampton, líder dos Panteras Negras, e da traição de um infiltrado no grupo, William O’Neal. Dirigido por Shaka King, em seu primeiro longa, o filme emociona nos detalhes — o fervor da voz de Hampton e a culpa nos olhos de O’Neal são gritantes nas cenas compartilhadas pelos atores. Assistir à dupla sabendo do desfecho de Fred transforma a experiência em uma mistura de angústia, admiração e inspiração para uma sociedade mais justa. “Judas e o Messias Negro” é o discurso de Hampton sobre amor, educação e vida para todos que continua reverberando até os dias de hoje.

  • 9

    tick, tick… BOOM!

    por Roberto Soares, estagiário de produção audiovisual
    Imagem de destaque
    Reprodução/Netflix

    Jonathan Larson teve uma morte repentina em janeiro de 1996, um dia antes da primeira performance off-Broadway de “Rent”, musical que começou a compor em 1989. Não pôde ver o sucesso que a peça teria, permanecendo 12 anos em cartaz na Broadway. Também não recebeu em vida os prêmios Tony e Pulitzer que viria a ganhar. Até então, Larson lutava para realizar algo relevante antes dos 30 anos de idade, vivendo como um artista pobre em Nova York. Antes de “Rent”, escreveu “tick, tick… BOOM!” para retratar essa busca incessante pelo reconhecimento. À época, o musical não foi visto por quase ninguém. Adaptado para a tela por Lin-Manuel Miranda, de “In the Heights” e “Hamilton”, o filme com Andrew Garfield está na Netflix. Na releitura, o musical se transforma em uma homenagem ao compositor, além de prestar tributo à própria Broadway, com participações especiais de dezenas de atores e atrizes do meio. Tal como a peça original, é também uma homenagem a Stephen Sondheim, criador de grandes musicais como “West Side Story” e “Company”, ídolo de Larson morto em novembro. Uma experiência catártica para os fãs de musicais, também capaz de emocionar qualquer um que já sofreu com a pressão para realizar grandes feitos antes dos 30.

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