O fenômeno Taylor Swift: por que a cantora faz tanto sucesso?
Dona de 12 Grammys, cantora norte-americana se prepara para os shows da turnê “The Eras Tours” no Brasil; veja alguns motivos que fazem dela uma estrela da música
Ela é onipresente. Seja no cinema, com o filme da sua atual turnê; em lojas de departamento, com seus hits já clássicos dos anos 2010; nas redes sociais, com os seus fãs engajados; e nos principais estádios do mundo, com seus shows superproduzidos, Taylor Swift está no Olimpo da música pop contemporânea.
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Até mesmo na NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, a cantora se sobressaiu. Ao anunciar seu namoro com o jogador Travis Kelce, um dos principais atletas do campeonato, toda a cobertura jornalística da modalidade se voltou para o relacionamento dos dois. Durante os jogos do Kansas City Chiefs, time no qual Kelce joga, a câmera da transmissão foca na cantora sempre que possível para registrar suas reações ao jogo.
Sua atual turnê, uma celebração de todas as suas “eras” musicais, quebrou recordes e mais recordes de bilheteria, é uma febre por onde passa e transformou Swift em bilionária. Detentora de 12 Grammys, a cantora de 33 anos é um fenômeno.
Com o início da “The Eras Tour” no Brasil, que tem seu primeiro show nesta sexta-feira (17), no Rio de Janeiro, Gama separou cinco motivos para você entender a razão pela qual a “loirinha”, como é chamada por seus fãs, faz tanto sucesso. Confira:
Ela escreve
Taylor Swift não tem a voz mais poderosa ou os arranjos musicais mais complexos, nem é a melhor dançarina do mundo: a sua força reside em sua escrita. Desde 2006, quando lançou o seu primeiro álbum aos 18 anos, Swift é responsável pelas letras de todas as suas canções.
Os versos, que costumam falar sobre amor, términos, traições e sentimentos de inadequação, têm a capacidade de contar uma história extremamente pessoal, mas com alto poder de identificação. A cantora norte-americana é mestre em criar narrativas sobre mulheres apaixonadas e explorar os sentimentos e traumas que envolvem a experiência universal de amar.
Se você tem uma dor de amor, tenha certeza de que Taylor tem uma canção que fala sobre ela
Seja em uma canção simples dos seus primeiros álbuns como “Love Story”, em que Taylor compara a sua situação amorosa com o romance de Romeu e Julieta, ou nas três músicas que compõem o chamado “triângulo amoroso” do álbum “Folklore” (2020), em que Swift explora temas de infidelidade e amor proibido sob a perspectiva de três personagens diferentes, ela se tornou referência no mundo da música quando se trata do gênero canções de amor.
Se você está sofrendo por um coração partido ou nunca esteve tão feliz com o seu parceiro, não se preocupe: Taylor Swift tem uma música em sua discografia capaz de descrever perfeitamente a sua atual situação emocional, independentemente de qual seja ela.
Seus fãs são muito engajados
Poucas coisas são tão nocivas para o bem-estar de alguém na internet quanto falar mal de Taylor Swift. Caso você ouse criticá-la nas redes sociais, prepare-se. Os swifties, como são conhecidos os fãs de Taylor, são implacáveis.
Na última quinta-feira (16), a jornalista Carol Prado publicou uma análise sobre a cantora norte-americana no G1. Em seu texto, afirmou que Swift “não tem voz incrível, nem melodias interessantes”, mas que era uma ótima letrista. Pouco tempo após a públicação, o nome de Prado era um dos assuntos mais comentados no X, o antigo Twitter, e o que não faltavam eram swifties criticando, e em muitos casos xingando, a profissional.
Há, no entanto, inúmeros exemplos de momentos em que o engajamento dos fãs foi utilizado de forma positiva. Para sua primeira visita ao Rio de Janeiro, os fãs da cantora se mobilizaram e garantiram uma homenagem à Taylor na estátua do Cristo Redentor. Até mesmo o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PSD-RJ), entrou na brincadeira.
Os fãs da cantora, os swifties, formam uma comunidade forte e aguerrida, baseada no sentimento de pertencimento e prontos para defendê-la
O senso de comunidade criado por Swift é enorme. Em seus shows, tornou-se prática comum a troca de “braceletes da amizade” entre fãs. A tradição foi criada em referência a música “You’re On Your Own, Kid”, do álbum “Midnights” (2022) em que Taylor canta: “So make the friendship bracelets/ Take the moment and taste it/ You’ve got no reason to be afraid (Então faça as pulseiras da amizade/ Aproveite o momento e saboreie/ Você não tem motivos para ter medo)”.
Antes dos shows, os fãs montam diversas pulseiras personalizadas com as músicas de Taylor e as trocam entre si durante o espetáculo, mesmo sem se conhecerem. Para eles, o bracelete significa fazer parte de uma comunidade em torno da cantora e suas músicas; é um símbolo de pertencimento.
O drama dela é sempre uma ótima fofoca
Durante os anos iniciais da carreira de Taylor, seu nome era sinônimo de drama. A garota ficou conhecida por seus relacionamentos e, acima de tudo, pelos términos. A piada de que, ao se envolver com ela, seu parceiro tinha a certeza de que eventualmente seria “vítima” de uma música foi repetida à exaustão. E nem sempre de forma tão amigável ou agradável.
Ao longo dos anos, Swift namorou figuras bastante famosas: Joe Jonas, Harry Styles, Jake Gyllenhaal, John Mayer, Tom Hiddleston, Calvin Harris, entre outros. E, é claro, todos eles protagonizaram suas canções. Para os fãs — e para a mídia —, não há nada mais divertido do que bisbilhotar a vida de Taylor e buscar entender os significados ocultos e as indiretas que a cantora coloca em suas músicas para seus antigos relacionamentos.
Taylor também chegou a brincar com a situação e, em mais de uma oportunidade, fez piadas com a sua fama. Muitos fãs, no entanto, questionam o tratamento dedicado à Swift pela imprensa e acreditam que tal percepção está enraizada no machismo. Canções de término são comuns, eles argumentam, e nenhum homem teve de enfrentar o escrutínio social encarado por Taylor ao escrever sobre o fim de relacionamentos.
Mas a vida amorosa dela não é a única fonte de fofoca. O incidente no VMA de 2008, quando Kanye West pegou o prêmio da mão de Taylor e afirmou que era Beyoncé quem merecia vencer por “Melhor Clipe” ou sua infame disputa com Katy Perry, a quem ela acusava de roubar uma dançarina, também vivem no imaginário popular. O que falar então da homérica briga com Kim Kardashian, que resultou em Taylor sendo cancelada e tendo de reinventar sua persona artística? Onde Taylor Swift pisa, há drama.
#militante, mas não muito
No ano de 2017, a revista Time elegeu como “Personalidade do Ano” as mulheres que participaram do movimento “#MeToo”, que expôs inúmeros predadores sexuais que atuavam na indústria do entretenimento. Entre as pessoas escolhidas para representar as inúmeras mulheres que denunciaram os abusos e assédios sofridos, Taylor Swift era a mais famosa. Ao lado de outras vítimas, ela foi uma das mulheres que ilustraram a capa da revista. Naquele ano, a cantora ganhou seu caso judicial contra o DJ David Mueller, que a assediou sexualmente em 2013 durante um evento com fãs.
A escolha de Swift para a capa, no entanto, gerou controvérsias. Muitos questionaram a aparição da cantora norte-americana, argumentando que havia pessoas mais importantes para o movimento e relembrando o histórico de falta de posicionamento político de Taylor. A crítica de que Swift é somente uma “feminista liberal branca” é comum, com muitos argumentando que ela não se engaja em causas sociais como outros artistas. E que, quando o faz, é de forma muito superficial e sempre buscando capital social.
Entre as principais críticas está o fato de que não se mete em polêmicas. Sua principal causa é a dos direitos autorais para os artistas
Nos últimos anos, a cantora se aproximou mais de assuntos políticos. Além da capa da Time, Taylor demonstrou apoio ao Black Lives Matter em suas redes sociais, compôs uma canção em que se coloca a favor da comunidade LGBTQIA+ e apoiou publicamente um candidato democrata para o governo do Tennessee. Para seus detratores, no entanto, isso não é suficiente. Eles entendem que, para manter seu apelo universal, Swift somente apoia causas que são bem-vistas pelo mainstream e que não vão gerar ruídos em sua imagem.
Ela mudou o jogo. E continua mudando
Desde a estreia, Taylor Swift já se reinventou inúmeras vezes. As raízes country, tão presentes em seus primeiros álbuns, deram vez aos tons mais pop de discos como “1989” (2014) e “Reputation” (2017). E, quando todos já a classificavam como uma artista pop, ela apostou em uma sonoridade folk com “Folklore” (2020) e “Evermore” (2020).
Taylor domina a perfomance em estilos diferentes e se mostra versátil enquanto artista a cada novo lançamento. Ela é capaz de apelar para um público imenso e generalista que a acompanha há quase duas décadas e, ao mesmo tempo, se manter revigorada e capaz de explorar novos gêneros musicais.
O grande impacto de Swift na indústria musical, no entanto, se deu com as “versões da Taylor”. Ao longo de sua carreira, Taylor lançou seis álbuns com o selo Big Machine Records. Ao final do seu contrato com a gravadora em 2018, a cantora se ofereceu para comprar os direitos de seus discos e, assim, ter controle total sobre sua obra.
O selo musical, no entanto, foi comprado pelo polêmico empresário Scooter Braun antes que o negócio pudesse ser fechado. Ele, que já cuidou da carreira de Justin Bieber, Ariana Grande e Kanye West, assumiu os direitos da obra de Swift após a aquisição da gravadora. O problema é que a cantora e o empresário não se dão bem. De acordo com ela, Braun foi um dos responsáveis pelo “bullying incessante e manipulador” que ela sofreu na época em que Kanye West e Kim Kardashian a atacaram.
“Agora Scooter me despiu de uma vida de trabalhos, que eu não tive a oportunidade de comprar. Essencialmente, meu legado musical está prestes a ficar na mão de alguém que tentou arruína-lo”, afirmou Swift em um post feito após a venda da sua antiga gravadora.
Revoltada com a situação, Taylor optou por uma estratégia que nunca havia sido feita na indústria musical: ela regravou e relançou todos os seus álbuns, apelidando as novas versões de “Taylor’s Version”, ou “versão da Taylor” em português. Com isso, a cantora não só conseguiu recuperar os direitos de suas canções, como também lançou um movimento que advoga pela luta para que os direitos autorais das obras sejam dos próprios artistas.
Até o momento, Swift já relançou quatro dos seis álbuns produzidos pela Big Machine Records. A jogada também permite que Taylor reviva o interesse por álbuns que já haviam sido lançados. Cada novo lançamento de uma versão da Taylor é tratado como um novo disco, com direito a nova identidade visual, novas versões de músicas, clipes, entrevistas e, claro, novos recordes.