Sociedade

Joseph Stiglitz: “A imprensa é absolutamente crucial para monitorar a democracia”

Em conversa com diretora-geral da Gama, Paula Miraglia, o economista ganhador do Nobel denuncia práticas autoritárias do governo dos EUA e defende o incentivo ao jornalismo

Leonardo Neiva 11 de Dezembro de 2025
Divulgação / IPI World Congress 2025

O que é crucial para o futuro da sociedade? E qual o papel da liberdade de imprensa para sustentar essa realidade? As perguntas foram tema de um dos principais debates do Congresso Mundial IPI (International Press Institute) e Festival de Inovação na Mídia, que aconteceu em Viena, marcando o 75º aniversário da instituição. Em 23 de outubro, primeiro dia do evento, a cofundadora e diretora-geral da Gama, Paula Miraglia, CEO da Momentum – Journalism and Tech Task Force, mediou uma conversa com o economista vencedor do Nobel e professor da Universidade de Columbia, Joseph Stiglitz, em que discutiram essas e outras questões.

O debate abordou a importância da informação de qualidade para o funcionamento adequado da economia e da sociedade democrática — e, é claro, o papel central do jornalismo nessa equação. Em setembro, durante o Fórum de Informação e Democracia, Stiglitz fez parte de um time de 11 economistas que assinaram um manifesto em defesa do investimento dos governos na mídia de interesse público, como forma de garantir a prosperidade econômica e o progresso da sociedade.

Na visão de Stiglitz, a informação é um bem que precisa ser sempre compartilhado em benefício da sociedade. “É como um termostato. A sala está muito quente ou muito fria? Estamos fazendo a coisa certa? Precisamos de alguém para monitorar como o sistema está performando. E a imprensa é absolutamente crucial para cumprir esse papel”, afirma Stiglitz na conversa.

Em determinado momento do debate, Miraglia aponta que o economista está usando um bottom em defesa dos estudantes nos EUA e o questiona sobre a relação entre a liberdade acadêmica e de imprensa no país. Além de barrar estudantes estrangeiros, Trump tem cortado verbas federais de universidades como Harvard e Columbia, pressionando para que as instituições se alinhem à política conservadora de seu governo.

“Estou usando este distintivo como reflexo do fato de que o ICE veio até o nosso campus, levou alguns dos nossos estudantes e os deportou”, responde Stiglitz. Para ele, a relação do que tem acontecido no ambiente acadêmico e na imprensa norte-americana é o uso do poder regulador para censurar e controlar a informação. “Uma das principais ferramentas deles é instilar o medo para que as pessoas não reajam nem escrevam sobre isso.”

Sobre inovação e tecnologia, temas chave no debate das redes e da imprensa atual, o economista acredita que inovação sem regulação leva a fenômenos como a polarização e a desinformação nas redes, que acabam causando ainda mais danos à sociedade. Por isso, defende a existência de um bom sistema regulatório como forma de estimular a inovação, no sentido contrário do apelo das big techs. “Brecar algo que está afetando negativamente nossa sociedade não é censura.”

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Além disso, a desinformação e a captura da mídia podem gerar desigualdades sociais e políticas? À pergunta formulada por Miraglia, o economista evoca a discussão sobre taxar bilionários, um mecanismo que busca reduzir essas desigualdades, mas que costuma ser rechaçado sob o argumento de que fazê-lo implicaria desincentivar o empreendedorismo. Para Stiglitz, há evidências de que o problema não tem acontecido na maioria dos lugares. E, mesmo que seja o caso, ele aponta que existem alternativas, como criar uma taxa de saída, que impediria que os recursos deixassem o país.

Ao citar o caso do Brasil e da China, que enfrentaram as tarifas agressivas impostas pela gestão Trump, Stiglitz se declara cautelosamente otimista sobre o estado da democracia no mundo. O que ainda lhe dá esperança, diz, é, apesar das movimentações autoritárias, ver tantos jornalistas e acadêmicos se levantando a favor da liberdade de expressão: “Indivíduos que colocam suas vidas e carreiras em risco para que todos tenhamos acesso à informação de que precisamos para que a sociedade continue funcionando”.

E isso mesmo com os desafios da violência contra a imprensa, em zonas de guerra como Gaza ou regiões de conflitos ambientais, a exemplo da Amazônia. “Alguns dizem que o jornalismo está morrendo, e jornalistas são constantemente atacados em muitos países do mundo. Ainda assim, estamos aqui celebrando os 75 anos de uma organização que defende a liberdade de imprensa, em uma sala repleta de pessoas esperançosas”, conclui.

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