Maria Ribeiro
Uma presença forte, enérgica, doce e atenta
Wagner Moura é daquelas pessoas que mudam a vida de quem está ao seu lado. Um espelho que, há anos, só me mostra o que importa
“Esse filme é uma homenagem ao jornalismo.” Em uma conversa com Dríade Aguiar, da Mídia Ninja, sobre o lançamento do filme “Guerra Civil”, Wagner Moura deu alguns indícios do que acontece sempre que vem ao Brasil em sua percepção cada vez mais aguçada sobre o que é democracia e e o que é “verdade” — palavra que hoje, inacreditavelmente, parece precisar de aspas.
Eu, provavelmente por egoísmo, também gostaria de contar sobre outro acontecimento bem menos político e relevante, mas que é fundamental para a parte do meu cérebro que me dá vontade de coisas tão díspares quanto escrever uma coluna como essa, pensar no que vou fazer para o jantar, e fazer projetos de cinema e de vida: sua presença física em minha existência. Uma presença forte, enérgica, doce e atenta. Um espelho que, há anos, só me mostra o que importa. E que, feliz ou infelizmente, só aparece de vez em quando.
Wagner é daquelas pessoas que, de fato, mudam a vida de quem está ao seu lado. E agora não me refiro à sua inteligência, ao seu sucesso como ator e diretor — no nosso país e em outros —, ou à admiração que nutro por seus posicionamentos como cidadão. Estou falando de algo que está ao alcance de todos nós, mas que nem sempre temos coragem de levar adiante: conversar de fato, sem aquelas preliminares que se referem à previsão do tempo ou coisas do tipo. Estou falando sobre trocar “de fato”. Como se cada diálogo fosse o último.
Wagner Moura é capaz de algo que está ao alcance de todos nós, mas que nem sempre temos coragem de levar adiante: conversar de fato
Esse texto, por exemplo, não era pra ser assim. Combinei com a Isabelle, minha editora, que falaria sobre o filme. Afinal, estamos na Gama, lugar que a gente leva a sério. Gostamos de pautas quentes.
Pensando assim, peguei três ou quatro frases do Wagner para contar sobre a experiência de estar, mais uma vez, em um superêxito de bilheteria, feito em Hollywood, mas agora sobre um tema — polarização — que lhe é especialmente caro, dado seu histórico de falas sobre o que passamos no país nos últimos anos.
A questão é que eu não vi o filme. Gravando dez horas por dia, e com uma momentânea fobia a pré-estreias, acabei não conseguindo ir ao cinema, o que farei logo mais. Desisti das frases dele sobre o filme e entendi que tinha algumas coisas a dizer sobre o frisson que atende pelo nome de Wagner Moura.
Um, é que ele merece cada palavra bonita que recebe: o cara é talentoso e não se deslumbra — raridade das raridades. Dois, é que a gente tá mesmo precisando de ídolos grandiosos nos representando nos DDIs: foram anos de jogadores de futebol envergonhando a camisa brasileira, #WagnerEVinyPraPresidente. Três, é que nada disso seria possível sem sua companheira.
Wagner é pai de três meninos e seu mérito é também o de Sandra Delgado, fotógrafa e diretora brilhante que logo estará aqui lançando seu filme, enquanto meu amigo cuida dos meninos, o que ele faz igualmente bem.
Por último, reproduzo uma de suas falas à minha amiga Dríade: “Todos os líderes que possuem tendências autoritárias tentam calar os jornalistas, a universidade e os artistas, porque são três forças que fazem pensar e que nos conectam com a realidade”.
Para não dizer que não falei das flores.
Maria Ribeiro é atriz, mas também escreve livros e dirige documentários, além de falar muito do Domingos Oliveira. Entre seus trabalhos, destacam-se os filmes "Como Nossos Pais" (2017) e "Tropa de Elite" (2007), a peça "Pós-F" (2020), e o programa "Saia Justa" (2013-2016)
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