Nina Silva: "Investir nos nossos iguais é uma estratégia ancestral de sobrevivência"

Após anos atuando no mercado de tecnologia e inovação, Nina Silva estava exausta. À época, a hoje CEO e cofundadora do Movimento Black Money e da fintech D’Black Bank ainda não havia sido eleita uma das mulheres negras mais influentes do mundo pela ONU ou considerada a mulher mais disruptiva do mundo pela Women ln Tech Global Awards.

Apesar disso, ela se destacava em seu campo. No entanto, Silva não chamava só atenção por conta do seu talento, mas também por conta de seu perfil: ela era a única mulher negra em meio a inúmeros homens brancos e algumas mulheres brancas.

“Eu era alvo de piadas e apelidos racistas e machistas. Em certa empresa, fui chamada de ‘africana’. Para mim, isso era um elogio. Mas, eu sabia que o tom adotado pelos meus colegas era pejorativo.” Comentários maldosos sobre sua aparência e até mesmo insinuações de que ela era favorecida por seu chefe por ter algum tipo de envolvimento com ele se tornaram prache em sua vida profissional. Segundo ela, esse ambiente a adoeceu. “Não conseguia mais levantar da cama. Tinha chegado no meu limite.”

Durante seu burnout, Silva, que é natural da favela Jardim Catarina, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, se mudou para os EUA. Lá, ela procurou se conectar com a comunidade negra americana e se deparou com uma nova perspectiva de poder para o povo preto: a economia.

“A cultura e a estética preta são lugares necessários, mas como mantemos e alavancamos isso? Dando apoio financeiro. O empoderamento de pessoas pretas ocorre no momento em que promovemos um desenvolvimento econômico dessas comunidades.” Essa ideia foi a semente para a fundação do movimento Black Money em 2017, um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital.

“Entendi que precisava retornar ao mercado e ocupar espaços onde poderia cocriar ambientes inclusivos”, relatou Nina. “Investir nos nossos iguais é uma estratégia ancestral de sobrevivência e manutenção da nossa dignidade. É gerar mais riqueza, poder e influência dentro da própria comunidade”, explica Silva no quinto episódio da segunda temporada de “Motivações Genuínas”. A série, que investiga o que move criadores e artistas, foi criada e dirigida por Ioram Finguerman e tem o apoio da Gama.

Silva entende que é necessário organizar a revolução econômica que vem acontecendo de forma isolada. “Somos 56% da população brasileira, movimentamos 1.9 trilhão de reais, somos a maior parte dos pequenos e médios negócios. Mesmo assim, o sistema opera para que estejamos em um lugar de exclusão. Queremos mover a base dessa pirâmide.”

Nina Silva é a quinta entrevistada da segunda temporada de “Motivações Genuínas”, uma série documental que apresenta um olhar sobre a formação e as histórias de artistas e criadores que realizam projetos relevantes, originais e que têm um efeito positivo na sociedade.

Na primeira temporada, foram entrevistados: o violonista João Camarero; a instrumentista Beth Beli, fundadora do bloco Ilú Obá de Min; os psicanalistas e escritores André Alves e Lucas Liedke, que juntos fazem o podcast Float Vibes e analisam tendências de comportamento; o designer, artista plástico e criador do Erê Lab, de brinquedos para espaços públicos, Roni Hirsch; e o fundador da Casa de Francisca, Rubens Amatto.

São entrevistas de 12 a 25 minutos em que eles contam sobre suas vidas e obras. Os episódios serão lançados semanalmente. Os vídeos podem ser assistidos no site da Gama e no canal da revista no YouTube.

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