A arte indígena contemporânea na SP-Arte
Entre 24 e 28 de agosto, a edição 2022 abre exposições, lançamentos e debates e destaca artistas indígenas e nacionais, como Katú Mirim, Xadalú Tupã Jekupé e o grupo Oz Guarani
“A arte brasileira é muito rica, e a pluralidade é justamente o que nos caracteriza e nos diferencia do geral”, afirma a diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. A nova edição do evento, “Rotas Brasileiras”, destaca não só artistas nacionais como coloca um holofote especial sobre os indígenas. Por isso, a Vivo, patrocinadora oficial do evento, traz a mostra-dentro-da-mostra “Rotas Indígenas Brasileiras – Arte em Tempo Presente“. Com curadoria de Denilson Baniwa, reúne obras da cantora e compositora Katú Mirim, do artista visual Xadalú Tupã Jekupé e do grupo de rap Oz Guarani, assim como rodas de conversa mediadas pela jornalista, curadora e cineasta Olinda Yawar Tupinambá.
“O Jardim Guarani” de Xadalú Tupã Jekupé Divulgação
Vivemos em vários contextos, em cidades, comunidades, periferias. Por meio da arte, fazemos um trabalho de educação
A Gama, Yawar conta da importância deste espaço para trabalhos de artistas indígenas, e reitera, frente aos diferentes perfis de artistas em cartaz, como não há uma única arte indígena. “Tem rapper, performer, pintor, ceramista. Essa oportunidade faz com que as pessoas vejam quem são os indígenas contemporâneos, e quebra com a visão estereotipada dos indígenas no meio da mata, nus”, diz. “Vivemos em vários contextos, em cidades, comunidades, periferias. Por meio da arte, fazemos um trabalho de educação mesmo, para que as pessoas entendam isso.”
Em um espaço imersivo, denominado Aity (que significa “ninho”, em nheengatu, derivado do antigo tupinambá), são exibidas obras que discutem sobre preconceito, território, apagamento cultural, violência simbólica e física – tudo por uma perspectiva atual. A ideia é refletir sobre o ponto de intersecção entre arte indígena e tecnologia, um questionamento já levantado por uma produção audiovisual, lançada também pela Vivo no Dia Internacional dos Povos Indígenas. Nela, partindo da provocação do escritor Daniel Munduruku, “Não existem índios no Brasil, existem indígenas”, artistas de povos originários se expressam por meio de suportes e recursos tecnológicos, uma tentativa de ampliar o imaginário em torno deles.
Na imagem, Olinda Yawar, do povo indígena Tupinambá e Pataxó Hã-hã-hãe. Ela media rodas de conversas na exposição da Vivo, na SP-Arte Maurício Requião
Para Olinda Yawar, o interesse na arte desses povos vem crescendo – “Os dois últimos anos foram os que mais trabalhei”, afirma –, e que “todo mundo sai ganhando com isso”. “Os ocidentais também precisam ver essas outras realidades, e contadas por nós, por quem vive e experiencia, contadas pelos próprios indígenas.” Além da programação da Vivo, obras de Aislan Pankararu, Jaider Esbell e Gustavo Caboco estão entre os destaques nas exposições da SP-Arte.
Arte diversa
Mesmo que desde sua origem, em 2005, a SP Arte tenha sido marcada pela presença de galerias brasileiras, a edição vigente é uma espécie de reafirmação da diversidade da arte feita no país, como explica Fernanda Feitosa. Para ela, o momento é especialmente propício para uma exposição como a “Rotas Brasileiras”: “Temos que inserir artistas mulheres, indígenas, negros, de arte popular. É o momento de continuar nosso trabalho, que sempre foi de inserção, mas que ganha um caráter particular agora, diante da polarização da sociedade. Acho que é importante nos posicionarmos”.
A arte brasileira é muito rica, e a pluralidade é justamente o que nos caracteriza e nos diferencia
Assim, não só as tradicionais galerias que aparecem no cartaz do evento, como Almeida & Dale, Luisa Strina, Nara Roesler, VERVE e Zipper, há também oito projetos de fora do eixo Rio-SP que apresentam exposições próprias. Vindos da Bahia, Pará, Amazonas e Maranhão, entre outros estados, coletivos como Uma Concertação pela Amazônia, Instituto Mario Cravo Neto, PREAMAR e Fundação Pierre Verger são alguns dos convidados. “São projetos que não são, necessariamente, galerias formalmente constituídas. Buscamos amigos que pudessem estar presentes nesses espaços e apoiá-los, como foi o caso da Paulo Darzé, que está ajudando a Fundação Pierre Verger.”
“A arte brasileira é muito rica, e a pluralidade é justamente o que nos caracteriza e nos diferencia do geral”, afirma a diretora da SP-Arte, Fernanda Feitosa. “Precisamos abraçar essa identidade e celebrá-la.”