E ainda dizem que a mentira tem pernas curtas
Mas há quem consiga enganar uma legião por muito tempo. Gama listou histórias de grandes trambiqueiros e golpistas
Todo mundo mente, mas tem gente que é capaz de levar calúnias ao patamar da genialidade – ou do absurdo. Nesta lista, Gama apresenta um pouco de tudo: vigaristas que lucraram milhões com seus esquemas; mentirosos compulsivos desinteressados pelo dinheiro, mas em busca de reconhecimento e, por que não, amor; além de exímios falsificadores. Em comum, todos ludibriaram um imenso grupo de pessoas.
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Frank Abagnale
O vigarista que virou colaborador do FBI
© Kenn Bisio (Getty Images) Vigarista estilo classudo dos anos 1960, o norte-americano Frank Abagnale incorporou várias identidades quando ainda era adolescente e foi eternizado no cinema por Leonardo DiCaprio no filme “Prenda-me Se For Capaz” (2002), de Steven Spielberg. Traumatizado pelo divórcio dos pais, Frank tinha apenas 16 anos quando fugiu de casa e decidiu se tornar um piloto da Pan Am Airlines – sem jamais se preocupar em descobrir como realmente pilotar um avião. Bastou-lhe arranjar um uniforme, forjar documentos e usar seu charme para voar de carona pelo mundo. Ele fingiu ainda ser um médico (tornando-se o responsável por supervisionar toda a equipe noturna de um hospital) e um advogado – sempre fabricando gordos cheques falsos que lhe renderam cerca de US$ 2,5 milhões. Aos 21, ele foi preso primeiro na França, depois na Suécia e, por fim, nos Estados Unidos.
Após cumprir cinco dos 12 de sua sentença, Abagnale foi posto em liberdade sob a condição de ajudar o FBI a desmascarar cheques forjados e outros esquemas. Desde então, ele inaugurou uma parceria de décadas com a agência americana e tornou-se um consultor de segurança com sua própria empresa, a Abagnale & Associates.
“A percepção é a realidade”, afirmou Abagnale ao jornal britânico The Guardian, em 2003. “As pessoas acreditam no que elas vêem”. No caso, o que elas viam era um jovem de sorriso convincente vestido num uniforme de piloto ou de médico. A aparência e o charme eram – quase – tudo. “Antigamente, um vigarista tinha que ser bonito, bem-vestido, falar e se apresentar muito bem”, contou ao site The Wired, em 2017. “Esses dias acabaram, porque não é mais necessário. Não tem mais nada a ver com charme. É apenas uma questão de saber usar um computador e entrar nos sistemas.”
Para assistir: “Prenda-me se for Capaz” (2002), dirigido por Steven Spielberg. A Wired, Abagnale afirmou que o diretor fez um “ótimo trabalho”, mas aponta três correções: diferentemente do filme, ele tem três irmãos; nunca mais viu o pai depois que fugiu de casa; e, quando escapou de um avião, foi pela cozinha que abastece a aeronave, e não pelo banheiro.
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Maria Verônica Aparecida
A grávida de Taubaté
© Arquivo pessoal A gravidez pode ser um dos momentos mais felizes da vida de uma pessoa, mas para a felicidade de fato existir há um pequeno empecilho: a gravidez tem de ser real. Esse mero detalhe não foi o suficiente para impedir que Maria Verônica e seu marido, Kléber Eduardo Melo, tentassem enganar o programa “Hoje em Dia” e contassem, em rede nacional, a história da suposta gravidez de quadrigêmeos de Verônica.
O que eles não esperavam era que a apresentadora Chris Flores revelasse a farsa que até hoje permeiam o imaginário popular brasileiro – a grávida de Taubaté. O golpe da barriga angariou inúmeros presentes e favores para o casal, que afirmava não ter condições de criar quatro filhos. Mas com a data da gestação chegando, e cada vez mais desconfiança daqueles que acompanhavam o caso, a verdade veio à tona.
Com direito a ultrassom falso, barriga de silicone e até o choro do apresentador Edu Guedes, o Brasil descobriu que a gigantesca barriga de Maria Verônica não passava de um golpe do casal. As piadas e memes viralizaram, até samba enredo de escola campeã existiu, e Verônica o marido acabaram respondendo judicialmente pelo ocorrido – apesar do processo, o caso foi resolvido por um acordo com a justiça, sem qualquer tipo de punição.
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Marcelo Nascimento da Rocha
O picareta VIP
© Arquivo pessoal Provavelmente o picareta mais divertido do Brasil, o curitibano Marcelo Nascimento da Rocha se passou por policial, produtor da Globo, guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii e olheiro da seleção brasileira. Alcançou fama nacional em 2001 ao fingir ser Henrique Constantino, filho do fundador da companhia aérea Gol, para entrar no camarote da Recifolia, o carnaval fora de época da capital pernambucana. Na festa, foi entrevistado por Amaury Jr. – que ficou “chateado” ao descobrir a farsa. “As pessoas caem nas minhas mentiras porque eu mexo com a ambição delas. Sou quem eles quiserem que eu seja”, costumava explicar Marcelo.
Quando esteve preso em Bangu, no Rio de Janeiro, chegou a se apresentar como Julião, suposto chefe do PCC, e liderou uma rebelião dos detentos. Sem armas, mas com lábia, conseguiu que as reivindicações dos presos fossem atendidas. “O que o Marcelo quer é ser VIP, não importa onde”, já afirmou a escritora Mariana Caltabiano, autora de um livro sobre Marcelo, “Vips – Histórias Reais de um Mentiroso” (Ed. Jaboticaba, 2011), que inspirou ainda um filme estrelado por Wagner Moura e um documentário. Ele já foi condenado pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica, associação com o tráfico e apropriação indébita e uso indevido de farda e insígnia – esses últimos quando estava no Exército e fingiu ter uma patente mais alta para leiloar motos da corporação. Marcelo já foi preso mais de 16 vezes, em 12 estados diferentes, e escapou da prisão nove vezes. Cumpria pena em prisão domiciliar no ano retrasado quando chegou a ser preso outras duas vezes por supostamente apresentar atestados falsos para a progressão de regime. Em outubro de 2018, conseguiu deixar a cadeia.
Para assistir: A história de Marcelo inspirou o longa-metragem de ficção “Vips” (2011), dirigido por Toniko Melo, premiado no festival do Rio e estrelado por Wagner Moura. Também rendeu o documentário “Vips – Histórias Reais de um Mentiroso” (2011) com as entrevistas que deu na cadeia à escritora, diretora e roteirista Mariana Caltabiano.
Para ler: Para conseguir a compra dos direitos de um estelionatário, Mariana Caltabiano seguiu as orientações da advogada de sua produtora audiovisual, a O2, e escreveu um livro sobre Marcelo. “Vips – Histórias Reais de um Mentiroso”, narrado em primeira pessoa, é o resultado de um ano de entrevistas com Marcelo.
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Lee Israel
A falsificadora de cartas
Durante os anos 1970 e 1980, a escritora americana Lee Israel gozava de algum sucesso com a publicação de biografias best-sellers de mulheres como a atriz Tallulah Bankhead e a a jornalista e apresentadora americana Dorothy Kilgallen. Sua terceira biografia, da magnata dos cosméticos Estée Lauder, no entanto, não foi tão bem e, na década de 1990, a carreira da escritora estagnou. Sentada diante da máquina de escrever, ela não conseguia produzir. Recorreu, então, a falsificações. Lee começou a forjar cartas de autores famosos, como Dorothy Parker, Ernest Hemingway e Edna Ferber, e a vendê-las para lojas pelo país por US$ 50 a US$ 100 cada – o suficiente para pagar o aluguel e alimentar seu amado gato. Perfeccionista, a falsificadora comprava máquinas de escrever antigas para garantir autenticidade, pesquisava as memórias de suas personagens em busca de detalhes bibliográficos e vasculhava suas cartas originais à procura de erros de digitação e outras idiossincrasias. Em seu livro de memórias “Can You Ever Forgive?”, publicado em 2008 e que inspirou o filme homônimo lançado em 2018, Lee escreveu: “Eu ainda considero as cartas meu melhor trabalho”.
Investigada pelo FBI, foi acusada de falsificação literária e confessou os crimes diante de um tribunal federal em 1993. Quinze anos depois, no livro de memórias, afirmou que suas falsificações nasceram menos de ganância e mais do pânico, após uma série de críticas ruins e um forte bloqueio criativo, misturados com álcool e imprudência – Lee era conhecida por sempre recorrer à bebida. A escritora morreu aos 75 anos, em 2015, vítima de mieloma múltiplo, um câncer nas células da medula óssea. Ela vivia sozinha em Nova York e não teve filhos.
Para assistir: A história da carreira de Lee como falsificadora de cartas é contada no filme “Poderia me Perdoar?” (2018), interpretado por Melissa McCarthy.
Para ler: Em 2008, a escritora lançou um livro de memórias sobre os anos em que ficou na mira do FBI, “Can You Ever Forgive Me?”. O título faz referência a uma das frases que ela inventou para a escritora Dorothy Parker.
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Milli Vanilli
A dupla que devolveu um Grammy
© Fryderyk Gabowicz (Getty Images) No final dos anos 1980, a dupla pop Milli Vanili, formada pelo germano-americano Rob Pilatus e o francês Fab Morvan, embalou pistas de dança no Brasil e no mundo com hits como “Girl You Know It’s True” e “Blame It Into The Rain“. Vendeu 14 milhões de álbuns e, em 1989, ganhou o Grammy por Melhor Artista Revelação. Acontece que eles não eram cantores de verdade e nem cantavam suas próprias músicas. Numa era pré-internet, fãs começaram a desconfiar do talento da dupla depois de apresentações em que o uso de playback ficou evidente – como num show da MTV em que a gravação travou, repetindo várias vezes a frase “girl you know is, girl you know is”. Diante das suspeitas, Pilatus e Morvan começaram a insistir com seu produtor, Frank Farian, para que os deixasse cantar no próximo álbum. Após três músicas terem chegado ao topo das paradas americanas, a pressão tornou-se insustentável e, em novembro de 1990, Farian foi a público revelar que a dupla apenas simulava as gravações. Os verdadeiros intérpretes eram John Davis e Brad Howell.
Depois da confissão de Farian, Pilatus e Morvan também deram uma entrevista coletiva, na qual afirmaram que foram obrigados pelo produtor a mentir em público. Naquele mesmo ano, o Grammy revogou o prêmio da dupla. Em 1993, os dois tentaram seguir sua carreira com o álbum “Rob & Fab” – um fracasso de vendas. Foi o início do fim para Pilatus, que, três anos depois foi preso em Los Angeles sob suspeita de tentar roubar um carro e, em 1998, foi encontrado morto no quarto de um hotel em Frankfurt. Já Morvan continuou na indústria da música.
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Kelly Samara Carvalho dos Santos
A Bonequinha de Luxo
Ela era mais conhecida como Kelly Tranchesi, sobrenome da dona da butique Daslu, um ícone da moda em São Paulo dos anos 1990 e 2000. Mas também se apresentava como Kelly Lambertini, Kelly Caramazoff ou Daniela Garcete. A estelionatária sul mato-grossense ficou famosa ao – vestida com roupas de marca da cabeça aos pés – se apresentar como uma jovem rica e aplicar uma série de golpes em lojas de luxo nos Jardins, em São Paulo. Começou a aparecer na imprensa após ter sido acusada de roubar uma gravura do pintor espanhol Joan Miró do filho da dona de uma galeria de arte, crime do qual diz ter sido absolvida – “Não tinha nem força para erguer a moldura“, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo, em 2011. Procurada por furto e estelionato em três estados, incluindo o Rio de Janeiro, Kelly se notabilizou por usar cheques e cartões alheios para se hospedar em hotéis de luxo, apagar rapazes com gotinhas de tranquilizante, circular entre celebridades e jogadores de futebol e ser uma habitué do Fasano.
Abandonada pela mãe ainda bebê, Kelly foi criada pelos avós maternos em Amambai, no interior do Mato Grosso do Sul. Aos 19, veio para São Paulo e, após queimar o filme na cidade, se mudou para o Rio de Janeiro. Quando foi detida pela polícia pela primeira vez, em 2007, estava dirigindo um carro importado alugado na capital paulista. Desde então, foi presa também no Rio e em Barretos (SP), em 2009, e em Bebedouro (SP), em 2011. A última notícia que se tem dela é que, desde 2012, está foragida da cadeia de Dourados (MS), onde cumpria pena em regime semiaberto.
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Bernard Madoff
O fazedor de pirâmides
© Stephen Chernin (Getty Images) O americano Bernard Madoff foi o criador do maior esquema de pirâmide financeira da história dos Estados Unidos. Ao longo de 20 anos, fez mais de 24 mil vítimas, incluindo grandes bancos internacionais, como o UBS e o Santander, fundos de pensão e de caridade, além de famosos como o ator John Malkovich e o diretor Steven Spielberg. Seu esquema consistia em pagar seus primeiros investidores com o dinheiro captado de novos, sem nunca investir realmente um centavo, numa pirâmide que continua funcionando enquanto novos participantes entravam no esquema e os antigos não resgatavam seus lucros. Com seu ar de respeitabilidade e credibilidade, Madoff chegou a ser presidente da Bolsa de tecnologia Nasdaq no início dos anos 1990, e em determinado momento foi responsável por mais de 5% do volume de negociações na Bolsa de Nova York.
A verdade veio à tona com a crise financeira de 2008. Com o pânico que se instalou no mercado, muitos de seus clientes pediram para resgatar o dinheiro — ele tinha em mãos US$ 250 milhões, mas precisava pagar US$ 7 bilhões pagar os investidores. Em dezembro daquele ano, ele confessou a fraude à mulher e aos dois filhos, que recorreram ao FBI. No dia 11 de dezembro, Madoff se entregou às autoridades. Menos de um ano depois, aos 71 anos de idade, foi condenado a 150 anos de prisão por fraude, perjúrio, lavagem de dinheiro e roubo. Hoje aos 82 anos, Madoff passa seu tempo livre na prisão estudando o sistema prisional americano, conforme seu advogado contou ao jornal Folha de S.Paulo. Enquanto isso, o advogado Irving Picard trabalha para recuperar os milhões de dólares desviados por Madoff. Até agora, cerca de US$ 13 milhões de US$ 20 milhões foram reavistos.
Para assistir: “O Mago das Mentiras” (2017), com Robert De Niro como Madoff e Michelle Pfeiffer no papel de Ruth, sua inseparável esposa.
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Stephen Glass
O jornalista que inventava suas reportagens
© Hugo Espinozas Aos 25 anos de idade, Stephen Glass era um dos repórteres mais procurados da capital americana, publicando histórias bizarras e impressionantes semana após semana em revistas de peso, como “Rolling Stone” e “Harper”, além da “The New Republic”, onde ele trabalhava. Ninguém imaginava que o que parecia ser uma estrela em ascensão, um jovem descrito como talentoso, inseguro, doce e solícito, era, na verdade, um ficcionista, responsável por uma das maiores farsas da história do jornalismo. A fraude foi descoberta em 1998, quando dois editores de um site da “Forbes”, uma das primeiras iniciativas de jornalismo digital, pesquisaram os detalhes de uma reportagem publicada por Glass sobre um jovem hacker de 15 anos que havia entrado no sistema de uma suposta “grande empresa de software”. Era um tempo sem buscadores rápidos, e os editores tiveram que percorrer um longo caminho para encontrar detalhes da empresa e de uma convenção de hackers citada na matéria. Não encontraram absolutamente nada, porque era tudo mentira.
Diante do escândalo, a própria “New Republic” começou a checar as reportagens de Stephen – que, vale dizer, já havia sido chefe do departamento de checagem da revista –, e descobriu que ele inventou personagens, cenas, eventos e histórias inteiras, da primeira palavra ao ponto final. Mais impressionante ainda foi a descoberta de quão longe ele foi para manter a farsa. Segundo Hanna Rosin, que trabalhava com Stephen na época na “New Republic”, ele preenchia cadernos com entrevistas que nunca tinham acontecido, criava cartões falsos e até recados de voz. Em 2014, para comemorar os 100 anos da revista, Rosin entrevistou Stephen — que se formou em Direito e atualmente trabalha em um escritório de advocacia — sobre suas falsificações. “Conforme eu avançava, as mentiras ficavam mais e mais extremas, e eu fui ficava mais e mais ansioso, maluco e fora do controle”, afirmou.
Para assistir: O filme “Shattered Glass” (2013) – “O Preço de uma Verdade”, em português – com Hayden Christensen no papel de Stephen mostra a escalada do repórter e sua queda abrupta com a descoberta da farsa.
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“Tania” Head
A mulher que não estava lá
Poucos eventos afetaram o mundo como o atentado do 11 de setembro. O impacto global foi tão grande que, quase duas décadas depois, aqueles que estavam vivos na época sabem responder de bate-pronto a pergunta: “Onde você estava quando as torres gêmeas foram atingidas?”. Dentre inúmeras pessoas que foram afetadas pelo ocorrido, Tania Head rapidamente se tornou uma das faces públicas que representam as vítimas do atentado. Nascida em Barcelona, sua história era comovente – ela estava dentro Torre Sul quando o segundo avião atingiu o edifício. Seu namorado, que se tornou marido a medida que a história foi sendo contada, estava na Torre Norte no momento do ataque e não sobreviveu.
De acordo com Head, ela estava no 78º andar quando o avião atingiu o prédio – o que a tornaria uma das 19 pessoas que sobreviveram ao atentado estando em andares superiores ao local da batida do avião. Ela se tornou presidente do grupo de suporte às vítimas e falou em inúmeros eventos e cerimônias, chegando a liderar o tributo às vítimas diversas vezes ao longo dos anos. O único problema? No dia 11 de setembro de 2001, ela estava em Barcelona assistindo uma aula em sua faculdade.
Após anos mantendo a história de que era uma das sobreviventes, Tania Head – ou Alicia Head, seu nome verdadeiro – foi desmascarada pelo New York Times. Em uma matéria de 2007, o jornal americano revelou ao mundo as diversas contradições na história de Head. Dave, o noivo/marido, realmente existiu, mas a família do homem jura de pés juntos que ele jamais teve qualquer tipo de relacionamento com Head. A companhia para qual ela dizia trabalhar na época também não tem qualquer registro de que a mulher um dia trabalhou lá.
Após a publicação da matéria, Head perdeu o cargo de presidente do grupo de suporte às vítimas e desapareceu da vida pública, se recusando a conceder entrevistas para a mídia desde então.
Para assistir e ler: A história de Head originou um livro e um documentário, ambos com o mesmo nome “The Woman Who Wasn’t There” (2012).
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Roselyn Keo
A stripper Robin Hood
© Lars Niki (Getty Images) Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. A frase pode ser batida, mas serviu como mote para Roselyn Keo em sua jornada de golpes nos homens mais poderosos de Wall Street. Stripper desde os 17 anos, Rosie – como gosta de ser chamada – fez parte de um grupo de dançarinas que, após a crise de 2008, passou a ludibriar os maiores figurões da bolsa de valor americana.
O plano era simples – ela e suas amigas seduziam grandes empresários e investidores e, quando eles já estavam caidinhos por elas, gastavam horrores as custas das contas bancárias dos milionários. Nas vezes em que a sedução não dava conta, drogas eram colocadas nas bebidas dos homens que, embriagados e fora da realidade, não percebiam os milhares de dólares que faltavam em seus bolsos.
Os golpes deram certo por anos e as mulheres faturaram uma bolada no processo. Segundo Keo, muitos dos clientes sequer se importavam de gastar fortunas com as meninas e liberavam de bom grado as senhas dos cartões. Aqueles que se revoltavam ao descobrir o roubo usualmente tinham vergonha do ocorrido e medo de serem descobertos pela família ou por seus chefes.
Em 2014, a narrativa moderna de Robin Hood chegou ao fim. Após anos de denúncias contra o grupo, a polícia grampeou o telefone de Keo e descobriu todo o esquema. Entretanto, ela fez um acordo com a polícia e não chegou a pisar em uma cadeia. Sua mentora, Samantha Barbash, também escapou da prisão.
Em 2015, a New York Magazine publicou um perfil de Keo. A história fez tanto sucesso que adaptada para a telona. “As Golpistas” (2019), se baseia livremente na história e tem nomes como Jennifer Lopez, Cardi B, Lizzo e Constance Wu no elenco. Keo também publicou sua autobiografia intitulada “The Sophisticated Hustler”.
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Anna Anderson
A falsa Anastasia
© Ullstein Bild (Getty Images) Em julho de 1918, bolcheviques tomaram o poder na Rússia e assassinaram o Czar Nicholas II, a imperatriz e seus cinco filhos. No entanto, cresceram os rumores de que, talvez, a filha mais nova da família real, Anastasia, tivesse milagrosamente escapado. Muitas impostoras tentaram se passar pela princesa desaparecida, mas a mais famosa delas foi Anna Anderson. Em 1920, Anna se apresentou como Anastasia, herdeira da família Romanov. Ela dizia ter sido salva por dois irmãos e levada à Romênia por segurança. Parentes dos Romanov acusaram-na de ser uma impostora. Mesmo assim, ela conquistou o apoio de algumas figuras importantes, incluindo Maria Rasputin, filha de Grigori Rasputin, um dos conselheiros mais próximos dos Romanov.
Em 1938, Anna entrou com uma ação para provar sua identidade – e seu direito à herança, é claro –, sem sucesso. Ela morreu em 1984, com o mistério ainda em aberto. Sua farsa só foi confirmada de fato nos anos 1990 com um teste póstumo de DNA, que provou que Anna não tinha nenhum parentesco com a família real. Sua história, no entanto, inspirou vários livros e filmes, como o de 1956 estrelado por Ingrid Bergman.