“O humor salva, transforma, alivia, cura, traz esperança para a vida da gente. Rir é um ato de resistência”

Paulo Gustavo (1978 – 2021), em especial de fim de ano da TV Globo

Lançada em junho, a série documental “Meu Amigo Bussunda” (2021) traz a trajetória de Cláudio Besserman Vianna, morto há 15 anos. Com direção geral do colega de “Casseta & Planeta” (1992-2009) Cláudio Manoel, a série relembra personagens de Bussunda como “Ronaldo Fofômeno” e “Luiz Desocupácio Lula da Silva”. No último episódio, a filha do humorista, Júlia Besserman, hoje com 27 anos, entrevista amigos e familiares para entender mais sobre a figura do pai. Sexismo e outras polêmicas em relação ao HUMOR DO CASSETA são discutidas, mas a conclusão é que é injusto descolar o que era feito ali do seu tempo.

Falando nisso, vale rever esse episódio do quadro “Piada em Debate” do “TV Pirata” (1988-1992) – do qual Bussunda foi redator –, no qual uma “socióloga”, um “antropólogo” e um “português” (“presidente do sindicato dos personagens de anedotas”) ironizam elementos de uma PIADA DE FREIRA para a esquerda e para a direita. Atualíssimo.

Há toda uma geração de cubanos que se tornaram influenciadores digitais depois da popularização da internet na ilha e que têm se unido às manifestações recentes para reivindicar mudanças – alguns deles inclusive foram presos. O canal de humor de Adriano López, cubano que vive em Miami, faz PARÓDIAS MUSICAIS CRÍTICAS à situação na ilha, como “El Hambre en Cuba va a Matarme”.

Difícil olhar para parte do humor feito hoje sem lembrar dos britânicos do Monty Python, os “Beatles da comédia”. O grupo misturava “erudição, subversão, nonsense e controvérsia”, nas palavras do jornalista Alexandre Matias, e trazia um olhar cômico para temas que iam da Inquisição Espanhola a entrevistas de emprego. Desde 2018, parte da obra deles está disponível em streaming, como o clássico “Em Busca do Cálice Sagrado” (1975).

Em um momento em que o riso é tão necessário, vivemos um APAGÃO DO HUMOR na TV aberta, segundo o roteirista Tony Goes, no jornal Folha de S. Paulo. Só há dois programas de humor com conteúdo inédito no ar, “Encrenca”, na RedeTV!, e “A Praça É Nossa”, no SBT – “Zorra” foi cancelado pela Globo no ano passado, e outros projetos recentes da emissora foram derrubados ou não vingaram. Só tem coisa nova no streaming Globo Play, como “Adnet na CPI”, no qual o humorista narra o desenrolar da CPI nas vozes de Galvão e Casagrande.

O HUMOR SAGAZ E DESBOCADO da escritora paulistana Juliana Frank dá o tom de “Meu Coração de Pedra-Pomes” (Companhia das Letras, 2013). O livro fala sobre Lawanda, uma adolescente que trabalha em um hospital, coleciona besouros, cria as próprias macumbas e é cheia de ideias amalucadas. Frank já foi elogiada por Reinaldo Moraes, também conhecido por seu humor louco, e chegou a trabalhar no roteiro da adaptação do clássico contemporâneo “Pornopopéia” (Objetiva, 2009) – o autor, aliás, escreveu para Gama.

Entre os PERFIS DE HUMOR mais legais que estamos seguindo na Gama está o do Yuri Marçal, que usa ironia para abordar temas importantes como racismo e intolerância religiosa, e @a.vida.de.tina, que, mesmo entre polêmicas, continua arrasando no (auto)deboche da juventude burguesa meio intelectual, meio de esquerda.

Essas são as 21 MELHORES COMÉDIAS DO SÉCULO 21 nos EUA segundo o New York Times. Graças à recente chegada do streaming HBO Max no Brasil, mais delas estão disponíveis no país, como “Larry David: Curb Your Enthusiasm” (2000), do cocriador de Seinfeld, “The Comeback” (2007 e 2014), com Lisa Kudrow (ou a Phoebe, de “Friends”) e a ótima “Girls” (2012-2017). Estão na lista “The Office” (2005-2013), “Parks and Recreation” (2009-2015) (ambas na Amazon Prime Video), “Community” (2009-2015) e “BoJack Horseman” (2014-2020) (na Netflix). Candidata a estar em uma próxima edição é a absurda “I Think You Should Leave”, que ganhou uma segunda temporada neste mês.

O indefinível PODCAST DE HUMOR “Informe do Almanaque do Jovem Fazendeiro” tem quatro temporadas de episódios curtinhos que não seguem propriamente uma lógica entre si. Ele traz uma espécie de boletim de notícias e causos aleatórios com uma narrativa “elusiva, não-linear e contada de forma fragmentada” da cidade fictícia de Bom Jesus. Só ouvindo para entender – e às vezes nem assim.