10 documentários para entender a Ditadura Militar no Brasil — Gama Revista
Por que não esquecer o golpe de 64?

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Bloco de notas

Documentários para entender a ditadura militar no Brasil

Filmes revelam diferentes ângulos do golpe de 1964 e do regime que o sucedeu

Documentários para entender a ditadura militar no Brasil

31 de Março de 2024

Filmes revelam diferentes ângulos do golpe de 1964 e do regime que o sucedeu

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    No premiado “Torre das Donzelas” (2018), a diretora Susanna Lira reconstrói o dia a dia na ala feminina do Presídio Tiradentes, que abrigou mulheres capturadas pela ditadura militar do fim dos anos 1960 até 1972. Ex-presas políticas como a ex-presidente Dilma Rousseff, que passou três anos no local, foram convidadas a revisitar suas memórias. Nos depoimentos, elas relatam as violências que sofreram, mas também os detalhes do cotidiano com as companheiras de cela e os vínculos criados entre elas.

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    Único militar condenado como torturador durante a ditadura, o coronel Brilhante Ustra (1932-2015) foi alçado a herói pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. Em “Memória Sufocada” (2021), Gabriel di Giacomo investiga quem foi esse personagem e como ele se conecta à história presente do Brasil com uma linguagem que simula buscas na internet. Realizado durante a pandemia, o filme é todo baseado em materiais disponíveis online, mas pouco conhecidos pelo grande público — de depoimentos à Comissão Nacional da Verdade a páginas do Google Maps. O autor criou também um site com materiais usados na pesquisa e outras referências para quem quer saber mais do assunto.

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    Autor do “Manual do Guerrilheiro Urbano” e herói da militância comunista no país, Carlos Marighella (1911-1969) era, para Isa Grinspum Ferraz, simplesmente o “tio Carlos”. Sobrinha do político e escritor, assassinado pela repressão quando ela ainda era criança, a socióloga dirigiu “Marighella” (2011), no qual busca reconstruir a imagem do inimigo número 1 da ditadura, “personagem banido para fora da história, encoberto por uma nuvem de ódio e ignorância”, conforme sua descrição. O documentário, com narração de Lázaro Ramos e música composta por Mano Brown, foi lançado anos antes da cinebiografia de mesmo nome, dirigida por Wagner Moura.

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    Outra produção de um diretor que possui relações familiares com perseguidos pelo regime é “O Dia que Durou 21 Anos” (2013), do mexicano Camilo Galli Tavares. Ele é filho do jornalista Flávio Tavares, um dos presos políticos que foram soltos em troca da libertação do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil Charles Burke Elbrick, sequestrado por movimentos guerrilheiros em 1969. O documentário traz à tona documentos confidenciais a gravações originais que revelam a participação do governo americano na ditadura brasileira, desde a preparação do golpe até o apoio ao regime nos anos posteriores.

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    Em 1964, o grande documentarista Eduardo Coutinho começou a gravar um filme sobre o assassinato de um líder camponês por ordem de latifundiários da Paraíba. Com o golpe, em março daquele ano, forças da repressão interromperam as filmagens no estado nordestino, acusando a produção de comunismo. Dezessete anos depois, Coutinho retomou as gravações com entrevistas à viúva e aos filhos e lançou “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), que mostra o drama de uma família de camponeses durante o regime.

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    Vlado: 30 anos depois” (2005) reconstitui a vida, a morte e o legado de uma das vítimas mais conhecidas da ditadura. Em 25 de outubro de 1975, o jornalista e diretor da TV Cultura Vladimir Herzog foi prestar depoimento no DOI-CODI, principal órgão de repressão do Exército. Nunca mais voltou. Sua morte após tortura, justificada como suicídio pelo regime, teve grande repercussão. Dirigido por João Batista de Andrade, um dos melhores amigos de Herzog, o documentário traz depoimentos da viúva dele, Clarice, e de personalidades como o arquiteto Ruy Ohtake, o rabino Henry Sobel, o jornalista e escritor Fernando Morais e o compositor Aldir Blanc.

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    O Libelu (Liberdade e Luta), grupo trotskista universitário surgido em 1976, nasceu quando a luta armada e a oposição à ditadura já tinham se enfraquecido. Em “Libelu – Abaixo a Ditadura” (2020), vencedor de melhor documentário em longa ou média-metragem do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, o diretor Diógenes Muniz mostra onde estão e o que pensam, quatro décadas depois, ex-integrantes do movimento como o ex-ministro Antonio Palocci Filho, os jornalistas Reinaldo Azevedo, Laura Capriglione e Demétrio Magnoli e o economista Eduardo Giannetti.

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    Em “Cidadão Boilesen” (2009), Chaim Litewsk aborda o envolvimento do empresário Henning Boilesen com a ditadura. Então presidente do Grupo Ultra, controlador da Ultragaz, Boilesen não só foi um dos maiores financiadores do regime como tinha o sádico hábito de assistir às sessões de tortura. O longa traz depoimentos de figuras públicas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.

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    Série documental com oito episódios, “O Silêncio que Canta pela Liberdade” (2023) mostra o impacto da censura e da repressão sobre 33 artistas do Nordeste —como Moraes Moreira, Gal Costa e Gilberto Gil, entre outros. A produção, dirigida por Úrsula Corona e Omar Marzagão, concorreu ao Emmy Internacional naquele ano.

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    O cineasta Leon Hirszman foi para a rua registrar a mobilização massiva dos movimentos sindicais de metalúrgicos no ABC paulista no final dos anos 1970, que culminaram nas primeiras greves no Brasil desde 1968. O resultado é o documentário “ABC da Greve” (1979-1990), que só após a morte de Hirszman foi finalizado  — por obra do diretor de fotografia do longa, a partir de orientações deixadas por ele.