Síndrome do impostor: como mostrar suas qualidades no trabalho? — Gama Revista
Por que as mulheres trabalham tanto?
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Isabela Durão

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5 dicas

Como mostrar suas qualidades no trabalho

Xô, síndrome da impostora: especialistas em carreira e marca pessoal dão dicas para as mulheres acreditarem mais na própria competência na hora de apresentar as conquistas profissionais

Ana Elisa Faria 03 de Março de 2024
Isabela Durão

Como mostrar suas qualidades no trabalho

Xô, síndrome da impostora: especialistas em carreira e marca pessoal dão dicas para as mulheres acreditarem mais na própria competência na hora de apresentar as conquistas profissionais

Ana Elisa Faria 03 de Março de 2024

Se tem algo que acompanha as mulheres no trabalho desde sempre é a síndrome da impostora, expressão que define pessoas capacitadas que não são capazes de reconhecer o próprio sucesso e se autossabotam — o fenômeno acomete principalmente as profissionais do sexo feminino.

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Pensando em toda a autoexigência que a mulher se coloca profissionalmente e que, com algumas variáveis, somam-se às inúmeras tarefas impostas pelo gênero, como toda a gestão familiar, o trabalho doméstico e as tarefas de cuidado, seja com os filhos ou com os pais, Gama consultou especialistas em carreira e marca pessoal para dar dicas de como mostrar a experiência e o talento no mercado, uma instituição desenvolvida primordialmente por homens e para homens.

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    Aproveite bem as reuniões. Elas representam uma oportunidade de crescimento –
    Sabe aquele meme que diz: “Essa reunião poderia ter sido um e-mail”? A piada até pode se encaixar em certas ocasiões, para algumas pessoas, mas esse tipo de evento, que ocupa boa parte dos dias de funcionários e colaboradores de uma empresa, deve ser olhado com mais carinho e atenção. De acordo com a mentora de mulheres e especialista em ascensão feminina na carreira Karinna Forlenza, os encontros corporativos de rotina têm de ser encarados como oportunidades para se colocar e apresentar progressos. “As reuniões, em muitos casos, compõem até 50% do nosso tempo. Então, temos que aproveitá-las. Há quem veja que aquele compromisso é mais do mesmo e, às vezes, tem a chance de se reunir semanalmente com diretores importantes e entra muda e sai calada, acha que não tem nada para falar. Mas quando não temos nada para contar, por exemplo, podemos fazer perguntas inteligentes e bem pensadas”, ensina.

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    Não pense que uma boa entrega é suficiente. É preciso deixar evidente os seus méritos –
    Um trabalho bem feito, executado com consistência, leva os profissionais até um ponto da carreira. Porém, a partir de determinado momento, depois de alguns anos de trajetória, apenas a realização das tarefas cotidianas, mesmo que com a competência e a dedicação de sempre, não basta, é preciso se autopromover — ação que não deve ser vista com preconceito ou arrogância, mas como parte fundamental do caminho para o crescimento. É o que acredita Karinna Forlenza. “O que eu mais vejo são pessoas que continuam acreditando que o que as trouxeram até aqui, ou seja, a entrega, o resultado, a dedicação e a sinceridade extrema, vão ajudá-las a subir de cargo, o que não é verdade”, diz. A mentora comenta ainda que, a partir de certo estágio, é necessário parar de investir somente naquilo que possibilita as entregas diárias, como cursos de especialização na área, para incorporar à rotina habilidades de autopromoção. “Isso precisa ser constituinte do trabalho. E é um exercício que demanda tempo de aprendizado e prática”, afirma. Karina volta à história para lembrar que a mulher, geralmente, entra em um círculo vicioso da síndrome da impostora, de achar que não cresce profissionalmente por não ser boa o suficiente ou porque não tem trabalhado o bastante, mas, na realidade, primeiro ela tem de entender que é vítima de uma instituição que não foi criada para as mulheres. “O ponto é que estamos num sistema fechado, em que as relações, a comunicação, as regras, tudo, foi feito de homem para homem. Nós entramos nesse universo há menos de 100 anos e esse mercado de trabalho nunca se adaptou à nossa chegada e muito menos nos deu um manual para a gente subir, crescer, vencer. Desde então, estamos fazendo as coisas de acordo com a nossa maneira de pensar, por meio do trabalho duro e honesto, no entanto, é a maior pegadinha porque a gente se cansa horrores, a gente se julga horrores, se acha uma impostora, mas no fundo o que ninguém nos conta é que não há nada de errado conosco, o fato é que precisamos parar de investir tanto na construção da relevância para investir na construção da gestão de reconhecimento”, alerta. Karina explica que isso não significa deixar de realizar e entregar as obrigações. A ideia é reservar algum tempo para fazer com que todo esse trabalho seja visto. Não é uma tarefa fácil, pode dar certa vergonha ou receio, mas é fundamental. “A primeira atitude, então, é enfrentar o desconforto de fazer algo desconfortável”, afirma Lilian Cidreira, especialista em carreira. Para ela, a síndrome da impostora só poderá ser vencida com ação. “Não vai ter como inverter a ordem de colocar a mão na massa apenas quando você se sentir confortável porque talvez esse dia não chegue. A mulher vai precisar lidar com o desconforto de agir em prol do que quer que seja que ela está com medo”, analisa. Além das dicas citadas pelas mentoras, é válido, já que vivemos num mundo conectado, também compartilhar certas vitórias profissionais nas redes sociais, como o LinkedIn, plataforma focada em negócios e empregos.

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    Mostre o progresso de projetos para quem deve saber do seu crescimento –
    Saiba para quem se vender e o que vender. Mostrar os progressos dos projetos em desenvolvimento e apresentar as conquistas do dia a dia no trabalho têm de ser atividades direcionadas, feitas para quem, de fato, precisa acompanhar seu crescimento. “Existem as pessoas certas que precisam ver o seu trabalho e que também não querem ver problemas antes do tempo. “Então, não adianta pendurar uma melancia em você, até porque o que vai aparecer é a melancia, e não a sua cabeça”, enfatiza Karinna Forlenza. Ela frisa que “as pessoas certas” são aquelas que têm influência sobre você ou na companhia em que você trabalha, como um chefe direto ou o chefe do seu chefe. “O problema é que, normalmente, focamos na nossa equipe e nos nossos pares, mas nem a equipe nem os pares nos promovem. O par, inclusive, é um concorrente direto. A equipe tem um outro papel: é o grupo que vai fazer as entregas com mais volume para que você tenha tempo de promover o trabalho desse time e, portanto, o seu também.” Karina menciona que, da mesma forma, é essencial ter consciência do que vender e, para isso, indica saber o que é importante para a empresa no momento. “São aqueles assuntos que derrubam outras pautas estratégicas, os que tiram o sono da alta liderança”, lista. Sobre o tema, uma dica da mentora Lilian Cidreira é separar algumas horas para colocar no papel todos os itens que compõem a sua estrada profissional. É um texto para você se lembrar de cada conquista, de cada passo, de cada feedback que já teve para ter toda a carreira viva na memória e saber o porquê você está ali e o porquê merece mais. “Serve para as pessoas, sobretudo as mulheres, se convencerem de que já fizeram coisas grandiosas e que a síndrome da impostora está sendo injusta com elas. Só que essa carta tem uma regra, ela não pode ser em tópicos, precisa ser contada em forma de história para a pessoa perceber que tem uma trajetória. Isso já gera muito empoderamento.”

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    Tenha consciência de quem você é e da sua trajetória –
    Quem é você profissionalmente? Ter a resposta bem definida a essa pergunta vai ajudar a construir e a guiar a sua figura profissional e dar um basta na síndrome da impostora que prejudica os seus avanços. Segundo Nilma Quariguasi, especialista em marcas pessoais, o fenômeno da impostora vem de uma sensação de baixa autoestima que acompanha as mulheres em tudo. “Por isso, a primeira coisa que eu faço todos os dias, e indico para todas, é ajustar a minha autopercepção, é ajustar a minha inteligência intrapessoal [capacidade que cada um tem de se comunicar consigo mesmo e de se conectar com os próprios sentimentos e questionamentos e com as próprias emoções], que é você de fato ter um olhar mais honesto sobre você mesma”, orienta. Isso porque, muitas vezes, a síndrome da impostora, além de se manifestar nos buracos deixados por uma autoestima baixa, aparece a partir da construção social de que as mulheres nunca estão suficientemente preparadas. “Você foi lá, estudou, se formou, fez uma pós, um mestrado, cursos e está preparada. Mas, de repente, você se vê em uma sala com 200 ou 500 pessoas prontas para ouvir uma palestra sua, porém, você acha que ainda não está pronta para aquilo. Então, falta esse ajuste de realidade, falta trazer para si de uma forma mais racional que você está ali porque tem competência e porque traçou um caminho consistente”, exemplifica.

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    Pense como você quer que seja a percepção das pessoas em relação a você –
    Você quer que superiores, subordinados e colegas a enxerguem de que forma no trabalho? Como uma profissional calma, madura, assertiva, formal, confiante? Como uma pessoa que está pronta para ser uma liderança? Tendo essa definição, você vai agir como tal para passar a imagem que deseja, seja no dia a dia, seja numa reunião específica para conseguir um aumento, a permissão para seguir com um projeto, um feedback ou uma equipe maior, por exemplo. “O segredo todo está em você ter consciência e escolher como quer ser percebida por aquela audiência, por aquelas pessoas. E aí você vai construir uma pauta, uma apresentação, as suas metas. O que eu quero vai delinear e inspirar como eu quero ser percebida”, desenvolve a mentora de mulheres Karinna Forlenza. Nilma Quariguasi diz que, nesse quesito, o que faz diferença é a autenticidade. “Cada vez mais, ser autêntica é um diferencial muito grande. E a gente, às vezes, tem medo de ser um pouco mais autêntica porque, dentro dessa construção social em que vivemos, estamos sempre sendo diminuídas ou pedem para a gente se diminuir, falar mais baixo, se comportar de outra forma. Além da síndrome da impostora, tem uma síndrome que eu até me identifico mais, que é a síndrome da boa aluna, que além de não se sentir preparada, a gente sempre acha que não pode questionar quem está acima da gente, seja nossos professores, mestres ou chefes”, fala. Ela diz que usar a voz ativamente é uma forma de não só se manter mais autêntica, de mostrar essa autenticidade, nossos diferenciais e bancar nossas ideias, mas é uma forma de superar esses fenômenos que rebaixam as mulheres. “Claro que se a gente sentar na mesa hoje e sair falando de qualquer jeito, gritando e impondo qualquer coisa, dificilmente vamos conseguir nos manter sentadas à mesa. O importante é aprender a se comunicar mesmo, do tom de voz à maneira como falamos, a segurança com que apresentamos os nossos argumentos e como nos portamos.” Para conquistar isso, Nilma sugere diversas ferramentas, como cursos, se filmar falando como se estivesse numa reunião ou até uma consulta com um profissional da fonoaudiologia.