Músicas para corações partidos — Gama Revista
Como lidar com o fim?

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Bloco de notas

Álbuns para curtir uma fossa

Uma seleção musical para curtir a dor de cotovelo e chorar litros até tomar coragem para recomeçar

Álbuns para curtir uma fossa

24 de Março de 2024

Uma seleção musical para curtir a dor de cotovelo e chorar litros até tomar coragem para recomeçar

  • Lançado no primeiro ano da pandemia de Covid, “Lianne La Havas” (2020) foi a trilha sonora de muitas relações que não resistiram ao confinamento. O disco-conceito, composto após Lianne após um término, passa pelas fases de um romance que prometia, mas não vingou. “Please Don’t Make Me Cry” consegue traduzir até o torpor que se sente quando tudo parece só dar errado. Mas vai passar.

  • Se a vida te der limões, faça… um grande álbum de música pop. Em “Lemonade” (2016), Beyoncé transformou a infidelidade vivida em seu casamento com o rapper Jay-Z em um dos grandes lançamentos de 2016. No fim, o casal superou a crise, mas as letras com menções explícitas a traições —e muitos palavrões para expressar a revolta de ser tratada ‘como uma vadia qualquer’— são um lembrete de que um mito também padece de dores mundanas. Um comentário comum nas redes sociais na época do lançamento era: “Se ela está sujeita a chifre, quem não está?”.

  • Cartola contraria a ideia de que samba equivale a alegria e seu segundo disco é um belo exemplo disso. “Cartola” (1976) traz o lamento devastador de “O Mundo É um Moinho”, a tristíssima “Preciso Me Encontrar” e o clássico “As Rosas Não Falam”, que simplesmente exala a desesperança sobre a felicidade no amor. Mesmo o ritmo alegre em “Não Posso Viver sem Ela” e “Sei Chorar” é mero disfarce para a mágoa de um pé na bunda. Ouça com moderação.

  • A definição de inferno astral: três semanas antes de completar 30 anos, Beck descobriu que sua noiva tinha um caso com o integrante de uma banda de Los Angeles. Com o coração despedaçado pelo fim da relação de nove anos, o cantor trocou as letras irônicas e os samples enérgicos de seus álbuns anteriores pelo machucado e introspectivo “Sea Change” (2022). As músicas, como “Paper Tiger”, revelam um compositor ainda lidando com as feridas (“just like a paper tiger / torn apart by idle hands” ou “igual a um tigre de papel / rasgado por mãos desocupadas”).

  • Goste-se ou não de sertanejo, Marilia Mendonça tem sido a trilha de fossa para milhões de brasileiros. Em “Realidade (Ao Vivo em Manaus)” (2017), a “rainha da sofrência”, que morreu precocemente, dedica todo um repertório a estimular a autoestima feminina para superar relacionamentos tóxicos. “Amante Não Tem Lar” é cantada do ponto de vista da “outra” que resolve dar um ponto final no relacionamento escondido, enquanto “Eu Sei de Cor” lembra o costumeiro círculo vicioso de erros amorosos.

  • “Rumours” (1977), da banda britânica Fleetwood Mac, foi gravado em meio ao caos na vida amorosa de todo o quinteto. Os vocalistas Lindsey Buckingham e Stevie Nicks tinham acabado de terminar um relacionamento, enquanto outro casal da banda, Christine e John McVie, estava à beira do divórcio. Para completar, Mick Fleetwood descobriu uma traição de sua esposa com seu melhor amigo. Esse clima de fratura parecia a receita para o desastre, mas acabou culminando no disco mais famoso da banda, com hits como “Dreams” e “Go Your Own Way”.

  • Inspirado pelo rock dos anos 2000 de bandas como Strokes, “Cê” (2006) foi uma renovação sonora na carreira de Caetano Veloso. Mas o que chamou a atenção à época do lançamento foram as letras, entendidas como um recado para a empresária e (então ex) mulher Paula Lavigne, de quem Caetano havia se separado dois anos antes. Alfinetadas como “chegou com a boca roxa de botox / exigindo rocks”, de “Rocks”, escalam até a mais raivosa “Odeio”.

  • Frank Ocean se posicionou como uma voz distinta no hip hop, expondo vulnerabilidades em vez de contar vantagens. “Blonde” (2016), que chegou a ter o título provisório de “Boys Don’t Cry” (garotos não choram), calou forte na juventude dos anos 2010 com canções sobre dores amorosas, pressão por afirmação da masculinidade e outras fragilidades. “Pink + White”, escrita em parceria com Pharrell Willliams e com participação de Beyoncé, revisa os altos e baixos de uma relação que não poderia mais prosperar (“It’s all downhill from here”, ou “É ladeira abaixo a partir daqui”).

  • Primeiro disco solo de Tim Bernardes, vocalista do grupo paulistano O Terno, “Recomeçar” (2017) entrega do que se trata logo no título. O sujeito das canções busca um novo norte enquanto se vê despedaçado por uma desilusão amorosa — embora veja uma luz adiante (“O que começa terá seu final / E isso é normal / A dor do fim vem pra purificar / Recomeçar“). Não à toa era comum encontrar fãs soluçando na plateia durante a turnê do disco.

  • Em “De Todas las Flores” (2022), vencedor do Grammy Latino de gravação do ano em 2023, a mexicana Natalia Lafourcade canta o amor e o desamor com uma elegância que emociona. Repleto de metáforas com elementos da natureza, o disco expõe as dores sentidas na carne após o fim de uma relação, mas também o processo de recuperação que leva ao renascimento. A faixa Maria la Curandera sintetiza essa evolução: “Entrega suas dores, que virem pó e venham novas flores”.