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Depoimento

O que a arte drag ensina sobre orgulho?

Drags de diferentes gerações compartilham aprendizados

Amauri Terto e Leonardo Neiva 22 de Junho de 2025

O que a arte drag ensina sobre orgulho?

Amauri Terto e Leonardo Neiva 22 de Junho de 2025

Drags de diferentes gerações compartilham aprendizados

Hoje uma das drag queens mais famosas do Brasil, o ator, cantor e compositor paulista Diego Martins, 28, não se iniciou na arte por esse universo, mas sim no teatro. “Foi minha primeira grande paixão, meu primeiro amor. E em seguida, a música”, conta a Gama. Graduado em artes cênicas, seguiu desde cedo uma carreira de sucesso nos palcos, em musicais como “Peter Pan” e “West Side Story”.

Embora não tenha se dado conta na época, ele acredita que foi no “X Factor Brasil” (2016), reality da Band, que começou de fato a sua atuação como drag. “Eu estava num programa em rede nacional sendo um rapaz gay com muita maquiagem e uma performance bem feminina, mas não entendia que aquilo já era drag.” Em 2019, passou a se montar, apresentando-se pela primeira vez como drag queen no musical “Brilha La Luna”.

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Martins venceu em 2022 o reality “Queen Stars Brasil”, da HBO Max. Ficou ainda mais conhecido pelo público no ano seguinte, na pele do personagem Kelvin, um dos destaques da novela da Globo “Terra e Paixão” (2023-2024). Como drag, hoje ele traz consigo referências do Brasil e do mundo, de Pabllo e Ney Matogrosso a RuPaul, que está há mais de 16 anos à frente do “RuPaul’s Drag Race” (2009-).

De uma cultura primordialmente noturna, muitas vezes vista com preconceito, na visão de Martins, a arte drag tem ganhado respeito e conquistado espaços importantes no Brasil. “A gente tem drags apresentando programas na TV, drags que são cantoras mundialmente famosas, drags que fazem teatro. Temos drags em todos os lugares, para todo mundo”, destaca. Ele diz que ser drag hoje já se firmou como arte, um trabalho que exige estudo, tempo e paciência. Mas também lembra que ainda é uma arte difícil, solitária e nem sempre valorizada financeiramente: “Às vezes ela ganha um cachê baixíssimo em um evento, e gastou o triplo para estar lá.”

Para Martins, ser drag é “dar tanto a cara a tapa, vestir tanto a sua bandeira, a sua verdade, que você transforma tudo isso em arte. Você transforma o seu orgulho, a sua verdade em trabalho. Então, a arte drag é o ápice do orgulho.”

Como forma de celebrar essa arte, Gama conversa a seguir sobre o orgulho de ser drag com pessoas que, como Martins, são ícones desse universo — uma dica: você verá boa parte delas na próxima temporada do “Drag Race Brasil”, que estreia em julho no WOW Presents Plus.

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    “Sou um artista que em breve completará 60 anos. Estar vivo é significado de resistência e orgulho neste país”

    Silvetty Montilla, 57, drag, atriz, humorista e apresentadora paulista, é considerada uma das maiores artistas drag do Brasil, com uma carreira de 38 anos nos palcos

    “Trabalhar na noite LGBT por mais de 37 anos é algo que me traz muito orgulho. Sei da importância das artistas que vieram antes de mim, as que me abriram portas, criaram espaços e me formaram. Muito do que sou hoje é fruto dessa referência. Sei também da minha contribuição pra aquelas que vieram depois, da luta e resistência presente no nosso país. O Brasil ainda é o país que mais mata LGBTs no mundo. Participar de uma manifestação como a Parada LGBT de São Paulo em 2025 com a temática ‘Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro’, é símbolo de orgulho. Sou um artista que em breve completará 60 anos. Estar vivo é significado de resistência e orgulho neste país.”

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    Fernando Tomaz

    “A arte drag me ensinou a não ter medo de quem eu sou!”

    Lia Clark, 33, cantora e compositora paulista, uma das primeiras drags do funk brasileiro

    “A arte drag me ensinou a não ter medo de quem eu sou! Eu cresci como uma criança afeminada e, por muito tempo, tive medo e vergonha do meu lado feminino, por tudo que a sociedade me fez acreditar. Eu realmente acreditava que esse lado feminino era algo ruim. Quando descobri a drag, encontrei um espaço onde eu podia me expressar de verdade, sem medo, sem culpa. Foi ali que consegui me aceitar, me libertar e me orgulhar de ser quem eu sou. Foi um processo muito profundo de autoconhecimento nesses dez anos de carreira, a Lia mudou minha vida. Para mim, o orgulho vem justamente desse processo de transformar aquilo que antes era motivo de insegurança em força, em arte, em celebração.”

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    “A partir da arte drag eu pude me munir de mim mesma”

    Reddy Allor, 26, drag, cantora e compositora paulista de música sertaneja, uma das vencedoras do reality “Queen Stars”

    “A arte drag me ensinou basicamente tudo sobre orgulho. Foi através dela que eu tive força para me mostrar pro mundo sem as inseguranças que sempre me acompanharam. A partir da arte drag eu pude me munir de mim mesma e aprender a me amar e me orgulhar da pessoa que sou e venho me tornando. O orgulho acontece para mim como uma construção que a cada dia fica maior e mais bonita, por isso sou muito grata a essa arte que me ensina tanto.”

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    “Adora Black nasceu da necessidade de expressar o orgulho”

    Adora Black, 26, drag goiana, eleita Drag Revelação 2024 no Prêmio Jorge Lafond de Arte e Cultura e confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Adora Black nasceu da necessidade de expressar o orgulho. A arte drag fez com que eu pudesse me entender ainda muito novo enquanto uma pessoa LGBTQIAPN+ e também foi um grande impulsionador criativo para as minhas criações, tanto no meio drag quanto para minhas outras vertentes no mundo da moda.”

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    Jonas Dias

    “É a forma mais poderosa de expressão, resistência e orgulho dentro da nossa comunidade”

    Ruby Nox, 31, multiartista drag pernambucana, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Ao longo de 12 anos experienciando drag em minha vida, vejo a arte drag para além do brilho, figurinos e perucas, é a forma mais poderosa de expressão, resistência e orgulho que a gente pode ver dentro da nossa comunidade. Apesar de estar relacionada e colaborar com as descobertas de identidades de gênero, ela subverte o comum e leva nossos papéis sociais para uma outra perspectiva. Desde os tempos em que a vivência LGBTQIAPN+ era ainda mais marginalizada, as drags foram símbolo de coragem, ousadia e criatividade. E continuamos sendo um ato político para a sociedade, mostrando que há beleza em cada forma de existir.”

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    Jonas Dias

    “A arte drag me preparou para entender a comunidade e sua diversidade”

    DesiRée Beck, 34, drag, atriz e modelo baiana, participante do reality “Caravana das Drags” e confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “A arte drag me ensinou a olhar pra dentro, me conhecer e estar preparada para entender a comunidade e sua diversidade. Todos nós somos diferentes e isso cria uma potência como um megazord poderoso que irá nos proteger de quem acredita que só existe um caminho a seguir. No final das contas, aceitar essa pluralidade é o feijão com arroz da força que a gente precisa pra ser feliz. E as diferenças de um jeito gostoso é o que faz a vida ser interessante de ser vivida.”

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    “A arte drag me ensinou a beleza da inadequação”

    Mercedez Vulcão, 36, drag, atriz, cantora e compositora paulista, participante do reality “Queen Stars Brasil” e confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Em um mundo que nos direciona a achar que somos inadequadas, ter orgulho é fundamental. A arte drag me ensinou a beleza da inadequação. A partir do exagero dos fatores estéticos, eu posso revelar quem sou e me orgulhando disso. Convido tantas outras pessoas inadequadas a celebrar comigo a existência na potência de ser quem se é.”

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    “Uma ferramenta poderosa para afirmar presença e lutar por visibilidade e aceitação”

    Melina Bley, 30, drag e DJ paraibana, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Melina Bley, como uma drag queen brasileira, provavelmente diria que a arte drag a ensinou sobre a importância de abraçar a própria identidade e se orgulhar de quem se é. Ela poderia mencionar que, por meio da performance e da expressão artística, aprendeu a celebrar sua individualidade e a se conectar com outras pessoas que compartilham experiências semelhantes. A arte drag, para ela, seria uma forma de resistência e empoderamento, mostrando que, mesmo diante de desafios, o orgulho é uma ferramenta poderosa para afirmar sua presença e lutar por visibilidade e aceitação. Em resumo, a arte drag a ensinou que o orgulho é uma celebração da diversidade e da autenticidade.”

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    “A arte drag me adotou. Me dá o que comer e o que vestir”

    Mellody Queen, 30, drag multiartista mineira, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Eu sou a prova viva de que a arte drag muda vidas. Não me vitimizo nem coloco os meus problemas pessoais nos ombros de ninguém, mas a vida não é fácil para nós, mulheres trans e travestis. Sou negra, periférica e, muitas vezes, marginalizada por simplesmente me assumir e me amar como sou e isso jamais foi uma escolha; nasci assim. A arte drag, depois que encarei a vida sozinha, me adotou. Hoje em dia, ela me dá o que comer e o que vestir, proporciona estabilidade financeira e cobre meus gastos: virou de fato a minha profissão. Na arte drag, eu me esforço a cada instante para me tornar melhor e entregar às pessoas que acreditam no meu trabalho a expressão viva que existe em mim, pois literalmente, ser drag me salvou.”

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    “Essa arte me liberta”

    Bhelchi, 37, drag e coreógrafa paulista, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Ao longo dos anos, muitas coisas mudaram, mas uma verdade permanece: nascemos, crescemos e vivemos em um mundo machista e preconceituoso, que frequentemente tenta limitar nossa autenticidade. A arte drag, independentemente de gênero, surge como um poderoso instrumento de libertação, exploração e inspiração, permitindo-nos ser quem somos e quem queremos ser. Estar na maior plataforma drag do mundo me enche de orgulho, não apenas pelo que conquistei, mas pelo que represento: a celebração da diversidade e a busca incessante por nossos sonhos. Com a cabeça erguida, sigo propagando essa arte que me liberta e inspira tantos outros.”

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    “A drag é uma armadura”

    Chanel, 22, drag e apresentadora carioca, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “Eu já fui uma criança muito tímida, dependente da aprovação alheia. Por ter começado a me montar muito cedo, ainda na escola, a arte drag teve um impacto muito grande na forma em que me entendo como pessoa. Para mim, a drag é uma armadura. É construir uma identidade visual que me permita mostrar na íntegra tudo aquilo que eu teria vergonha de ser e fazer de cara limpa. E foi dando essa ‘outra cara’ a tapa que eu entendi que existe, sim, um espaço para mim no mundo, e que minha contribuição tem, sim, valor. Foi a partir da drag que eu construí o orgulho de ser eu mesma quando estou desmontada.”

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    “Tenho orgulho de ter a coragem de sair na rua montado e não ligar para os julgamentos”

    Poseidon, 28, drag e atriz pernambucana, confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    “A arte drag em si já é um orgulho! Eu tenho orgulho de ser drag, tenho orgulho de fazer as pessoas sorrirem, tenho orgulho de levar amor e arte para as pessoas, tenho orgulho de ter a coragem de sair na rua montado e não ligar para os julgamentos, tenho orgulho de ser quem eu sou por causa da minha drag! Então a arte drag respira orgulho! Drag queen é amor, drag queen é arte! A arte drag transformou minha vida, como não sentir orgulho de ser livre?”

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    “Posso ser quem eu sou sem medo”

    Paola Hoffmann Van Cartier, 36, drag capixaba confirmada na segunda temporada do “Drag Race Brasil”

    O que a arte drag me ensinou sobre orgulho é que eu posso ser quem eu sou sem medo, sem julgamentos e sem me preocupar com o que as pessoas vão pensar ou dizer a meu respeito. Acho que ela me deu toda essa força e essa confiança necessária e esse foi o principal ensinamento que eu tive sobre orgulho com a arte drag.”

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