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Podcast da semanaValdecir Nascimento: "Como um médico pode decidir que uma mulher negra pode sentir mais dor que uma branca?"
Fundadora do Instituto Odara, da Bahia, diz que os direitos sexuais e reprodutivos da mulher negra “nunca estiveram bem” no Brasil. “O que mais ameaça o patriarcado são os nossos corpos”
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Valdecir Nascimento: “Como um médico pode decidir que uma mulher negra pode sentir mais dor que uma branca?”
Fundadora do Instituto Odara, da Bahia, diz que os direitos sexuais e reprodutivos da mulher negra “nunca estiveram bem” no Brasil. “O que mais ameaça o patriarcado são os nossos corpos”
O racismo e o machismo são as principais ameaças aos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres negras e, na visão de Valdecir Nascimento, fundadora do Instituto Odara, uma organização negra feminista centrada no legado africano e sediada em Salvador, na Bahia, eles nunca estiveram bem no Brasil. E gera números assustadores, como um alto índice de mortalidade materna, assim como o de mortalidade infantil, que estão diretamente relacionados:
“O estado que proibe o aborto e persegue as pessoas que fazem aborto é o mesmo que mata crianças e jovens negros. O índice de meninos e meninas negras assassinados pela polícia é alarmante. O mesmo estado que tem os defensores e os heróis, os donos de Deus. O aborto discriminalizado também vai assegurar que as mulheres negras tenham outro tipo de cuidado e não precisem abortar nem morrer de aborto. O racismo tem tudo a ver com isso”, afirma a Gama.
Entrevistada da edição sobre direitos sexuais e reprodutivos do Podcast da Semana, Valdecir Nascimento diz que o tipo de atendimento que uma mulher negra recebe ao ir a um posto de saúde é pior que o de uma mulher branca. “Como um médico pode decidir que uma mulher negra pode sentir mais dor que uma branca na hora de ter um filho, de receber uma anestesia?”, questiona.
Na entrevista, ela fala sobre o escopo mais amplo desses direitos, que hoje vão desde a discriminalização do aborto e o direito a um acompanhamento de gravidez e parto humanizado até o acesso a absorventes íntimos para todas as mulheres, e discorre sobre a diversidade da mulher negra brasileira: “O tailleur não cabe nas mulheres negras, nossa presença incomoda muito por isso”. Graduada em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e Mestre em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), ela se debruça há décadas sobre a situação da mulher negra e luta por direitos.
Roteiro e apresentação: Isabelle Moreira Lima
Edição de som: Laura Capelhuchnik
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