A voz do samba — Gama Revista

A voz do samba

No aniversário de 50 anos de carreira, Alcione seleciona seus dez objetos mais especiais que remetem ao samba carioca, ao futebol e à cultura popular maranhense

Manuela Stelzer 03 de Junho de 2022

Antes de se tornar uma sambista consagrada, Alcione foi professora de português no Colégio São Luís, na capital maranhanse, aos 20 anos. Na tentativa de conter uma sala de crianças agitadas, prometeu que tocaria seu trompete, que aprendeu com o pai na infância, caso os alunos se comportassem. Com o silêncio e calmaria instaurados, subiu na mesa para cumprir a promessa e tocar seu instrumento favorito – mas desceu dali com a demissão em mãos. A história foi uma das muitas contadas pela artista no projeto “Depoimentos para a posteridade”, uma iniciativa do MIS.

Alcione em 1970, logo que chegou ao Rio.

Em 1967, Alcione chegou ao Rio de Janeiro, onde deu início à carreira artística, sua verdadeira paixão. Três anos mais tarde, venceu o programa de calouros “A Grande Chance”, da TV Tupi, e em 1972, enquanto se consagrava como uma voz importante da noite carioca, conseguiu gravar seu primeiro single na gravadora Philips. Naquele ano, cantou “Fina de Guiné”, de Reginaldo Bessa e Nei Lopes, e “O Sonho Acabou”, de Gilberto Gil, em um compacto. Tomando esse lançamento inicial como marco zero da trajetória, em 2022, Alcione completa meio século de carreira. Em comemoração, a artista sobe ao palco carioca do Theatro Municipal no dia 5 de junho, para gravação de um show especial em que comemora os 50 anos de música.

Desde então, foram turnês, lançamento de álbuns, atuações, abertura de novelas, discos de ouro e de platina e, claro, muitos carnavais. Apelidada de Marrom logo no início da carreira, Alcione foi convidada a desfilar pela escola de samba Mangueira em 1979, e desde então seu nome e o Carnaval são como uma coisa só. Livre e dona de si, não precisou esperar por um pretendente que se ajoelhasse para fazer o grande pedido – ela mesma propôs o casamento a Roberto Carlos. Mas como não espera por ninguém, algum tempo depois, o relembrou que “a fila anda”. Hoje, aos 74 anos, diz não ter “pendurado as sapatilhas”, ao ser questionada sobre a vida sexual na maturidade.

A seguir, essa grande dama do samba, que comemora 50 anos de carreira, resgata seus dez objetos pessoais de maior valor simbólico.

1 | Uma lembrança paterna

“Meu Pai, S. João Carlos, era professor de música e maestro da Banda da Polícia Militar do Maranhão e me ensinou a tocar trompete, clarinete e saxofone alto. Mas o trompete, os pistons, sempre foram minha paixão, tanto pela memória do meu pai quanto pela possibilidade de sons. Claro que quando vim tentar a vida artística no Rio de Janeiro, o trompete veio comigo. Foi ele o responsável por vários empregos que consegui na noite carioca.”

2 | O primeiro disco de ouro a gente nunca esquece

“Foi o primeiro disco de ouro que eu ganhei, em 1977 com ‘Pra Que Chorar’, meu terceiro LP. ‘Pandeiro é Meu Nome’, ‘Ilha de Maré’, ‘Pedra Que Não Cria Limo’ fazem parte desse álbum que é muito especial na minha carreira. Recebi esse disco de ouro das mãos de Maria Bethânia e, a partir daí, começamos nossa amizade, que dura até hoje. É um dos álbuns favoritos da minha carreira, justamente pelo repertório, como ‘Tambor de Criola’, que fala dessa dança típica do Maranhão que tanto me fascina.”

3 | Maranhão na bandeira e no coração

“Tenho ela na parede da minha sala, de frente para a poltrona que gosto de sentar. Olhar para ela é lembrar da minha terra, da minha infância, dos meus pais, dos meus irmãos… Viva o Maranhão!”

4 | Mangueirense ferrenha

“A Estação Primeira de Mangueira ocupa um lugar mais do que especial (e primordial) no meu coração. Não se torce para a Mangueira, se É Mangueira. E eu SOU Mangueira. Comecei a ser Mangueirense desde a minha adolescência, ainda no Maranhão, quando via as fotos dos desfiles na revista ‘O Cruzeiro’ e me encantei com as cores verde e rosa.”

5 | Fé profunda e calorosa

“Ganhei essa peça de uma caixeira de Alcântara, no Maranhão, onde a Festa do Divino é tradicional. Quando eu era adolescente, tocava trompete nas ladainhas e ficava encantada com as caixeiras tocando e rezando os Benditos. Um amigo que já fez a passagem, Chico Coimbra, amante da cultura maranhense, que me presenteou com essa caixa. Continuo tendo profunda e calorosa fé em Deus, Jesus, Nossa Senhora e no Divino Espírito Santo, que é o homenageado do folguedo onde toca-se a caixa.”

6 | Bumba-meu-boi e a cultura maranhense

“O bumba-meu-boi é a expressão máxima da cultura popular do Maranhão. Só em São Luís são mais de 400 grupos, divididos em ritmos como matracas, orquestra, costa de mão e zabumba. Sempre fiz questão de gravar toadas em meus discos, como ‘Maranhão, Meu Tesouro Meu Torrão’, ‘Mimoso’, ‘Se Não Existisse o Sol’, ‘Boi de Lágrimas’. Lembro do meu pai saindo para brincar de bumba-meu-boi. Quando ele vinha ao Rio me visitar, sempre comprava fitas coloridas para enfeitar o chapéu dele.”

7 | Camisetas e autógrafos especiais

“São os dois times do coração da Marrom! Sampaio, a Bolívia querida dos Maranhenses, e o Rubro-negro, a maior torcida do planeta! Essa camiseta da Arte Fla foi um presente de Zico e está autografada por Ronaldinho Gaúcho. Admito que não gosto de assistir aos jogos, pois fico muito nervosa, mas mesmo assim, até minhas unhas torcem comigo: quando tem jogo do Brasil, pinto de verde e amarelo. Quando tem jogo importante do Flamengo, elas ficam vermelhas e pretas. Já pintei até o escudo do Mengão.”

8 | A imagem sagrada

“É o santo de devoção dos maranhenses, difícil ter uma família em que não tenha um Ribamar, em homenagem ao Santo. Na minha casa, a imagem fica em um aparador de frente para a mesa de jantar, onde faço minhas principais refeições, junto com minhas irmãs e sobrinhos.”

9 | Oxê de Xangô

“Apesar de ter criação católica, encontrei muitas respostas na espiritualidade: no Kardecismo, na Umbanda e no Candomblé. Me considero espiritualista. Sou filha de Xangô e Yansã. Essa peça foi um presente do designer Diego de Oxóssi. Kao Kabesile, meu Pai! Guardo ela no altar que tenho no meu quarto, junto com outros objetos e imagens sagradas.”

10 | Unhas coloridas e perfeitas

“Tenho mais de 500 vidros! Adooooro ter unhas bem feitas, coloridas e decoradas. Já viraram uma espécie de marca registrada, tanto que em 2016, tive uma linha assinada por mim, em edição limitada. Quem sabe não as reativo? É um hábito que herdei da minha mãe, que sempre gostou de estar com as unhas bem feitas. Na época da criação, escolhi pessoalmente todas as cores, com base nas que eu mais usava.”

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