As muitas personalidades de Helena Mattar — Gama Revista
Biografia Visual

As muitas personalidades de Helena Mattar

Além de cozinheira, sommelière e publicitária, é também apaixonada por viagens, registros, livros, som na caixa — e protetor solar

Manuela Stelzer 23 de Julho de 2021
Bruno Geraldi

Para Helena Mattar, 35, uma casa não é uma casa se não tiver uma estante cheia de livros ou música tocando ao fundo. Ela não vai até a esquina se estiver sem protetor solar; caracteriza o anel como adorno favorito, e jamais larga o celular — é a primeira da turma a arrancar o aparelho da bolsa para fazer registros aparentemente despretensiosos, mas que se tornam grandes tesouros no futuro. Sommelière, tem como fiel escudeiro o clássico saca-rolhas de duas etapas, que não falta nas casas de experts em bebidas. A paixão por gastronomia é tanta que tem moldado sua carreira e, além de cozinhar, criou uma newsletter com as receitas de seus experimentos culinários; faz lives que bombam no seu perfil do Instagram sobre comunicação gastronômica, dicas e livros de cozinha; e é relações públicas de gente como a estrelada chef Helena Rizzo, do Maní.

Mas não se engane: Mattar não iniciou a vida profissional por aí. Formada em publicidade, foi efetivada em uma multinacional ao terminar a faculdade, mas logo percebeu que aquele não era seu caminho. Resolveu ir à França aprender uma nova língua e lá se formou sommelière. De volta ao Brasil, se encontrou nos restaurantes: trabalhava no salão, mas foi na cozinha que pegou a manha do fogão e das panelas para nunca mais sair de perto deles. “Não tenho nenhuma pretensão de cozinhar para a alta gastronomia. Gosto da cozinha de casa.”

Entender-se melhor no âmbito profissional — as aptidões, os desejos, as habilidades — abriu portas para se conhecer melhor como pessoa também. Mudou o corte de cabelo, assumiu o gosto por roupas confortáveis e que não torturassem seu corpo ao longo do dia, e colocou em primeiro lugar sua saúde e autocuidado.

A seguir, Helena Mattar conta a Gama um pouco mais sobre sua história e identidade a partir de dez objetos pessoais

1 | O lema é registrar tudo e todos

“Meu interesse nunca foi pela fotografia em si, mas pelo registro, pela memória. Gosto de tirar fotos, sair nas fotos, e mais do que tudo, adoro revisitá-las, mandar aos amigos, à minha família. Tirava fotos na época em que ainda precisávamos revelar, continuei tirando com câmeras digitais, e agora com celular. Hoje, a fotografia, de alguma forma, faz parte do meu trabalho. Mas eu tiro fotos não só de comidas e pratos. Sou sempre a pessoa que, em eventos ou reuniões, saca o celular e implora por um registro. Na hora, todo mundo reclama da ideia, mas depois me pedem pra enviar a foto. Um dos meus hobbies preferidos é viajar pelo rolo de câmera do meu celular, ou relembrar fotos antigas impressas, em álbuns, que lotam a casa dos meus pais e a minha.”

2 | Estante das paixões

“Durante minha infância, ir a livrarias era um programa recorrente. Em casa nunca faltava espaço para os livros. Aquele quarto sobrando, que muitas vezes vira sala de televisão, para os meus pais virava uma biblioteca. Só recentemente reparei como, na minha cabeça, era muito normal esperar que toda casa fosse recheada de livros. Só adulta fui entender que não era bem assim. Quando me mudei para a casa onde moro hoje, logo disse que queria pelo menos uma parede só para os livros. Construímos uma sala em volta da estante. Hoje é meu cantinho favorito. Entre os títulos que tenho, claro que os de gastronomia se destacam. O clássico ‘Fundamentos Da Cozinha Italiana Clássica’, escrito pela italiana Marcella Hazan, que é um catatau e não tem nenhuma foto, é meu livro favorito dentre a pilha que tenho em casa. Além de receitas maravilhosas, a escrita dela é muito encantadora. Não é um título para ser consultado, como as pessoas comumente fazem com livros de receita, é para ser lido.”

3 | Música para todas as situações

“Gosto de som no ambiente, mais do que no fone de ouvido. Acho que isso une as pessoas, amo a sensação de compartilhar boas músicas. Minha casa nunca está em silêncio, tirando esses momentos de home office quando meu marido [o ilustrador Fabrizio Lenci] ou eu precisamos nos concentrar ou estamos em reunião. Essa paixão vem da infância, meus pais adoravam sentar na sala para ouvir música. É um hábito que cultivamos. Hoje, acho esquisito ir num almoço de domingo que não tenha música, é como se algo estivesse faltando. Até recomendo para pessoas que não curtem tanto cozinhar, colocar uma música para fazer isso, porque música muda tudo, muda uma casa inteira. Minha caixinha de som vai comigo para onde eu vou: ao banho, às viagens, à cozinha, ou até mesmo ao tapete da sala.”

4 | A melhor amiga da cozinheira

“Cozinhar, definitivamente, faz parte da minha vida, de quem eu sou, de como gasto meu tempo livre também. Começou cedo, quando eu tinha uns 11 ou 12 anos. Fiz muitos bolos ruins, que minha família maravilhosa teve que engolir e ainda apoiar. Agora, dez anos depois que eu fiz um curso para entender melhor e aprender a cozinhar de fato, me sinto mais confortável entre panelas. Mas não tenho qualquer pretensão de fazer comidas de alta gastronomia — adoro frequentar restaurantes, mas o que gosto de cozinhar é a comida caseira, e a colher de pau é um ótimo objeto para representar a cozinha de casa.”

5 | E o melhor amigo da sommelière

“Esse objeto representa o momento em que eu abracei a transição para a gastronomia. Sou formada em publicidade, mas assim que fui efetivada no lugar onde trabalhava, percebi que não era aquilo que eu queria fazer. Fui passar três meses na França, inicialmente para aprender outra língua, pensar na vida, mas acho que inconscientemente eu sabia que estava indo para um lugar onde a gastronomia era culturalmente muito forte. Acabei ficando um ano e meio, e me formei como sommelière.

É indiscutível que esse é o melhor abridor de vinhos que existe. Temos diversos abridores cheios de tecnologia, automáticos e incríveis, mas nada é melhor do que o de dois estágios. Ele traz mais uma vez essa ideia da comida de casa, analógica, o modo de fazer de sempre, as técnicas passadas de geração em geração, que eu valorizo demais. Gosto dele justamente porque ele é simples.”

6 | Corte novo, vida nova

“Cortar meu cabelo bem curtinho foi o momento em que me encontrei visualmente. Na adolescência, lembro que eu já achava muito bonito cortes mais curtos, mas não tinha coragem de arriscar. Uma amiga me relembrou recentemente que, naquela época, eu disse a ela que iria cortar com uns 20 e poucos anos — dito e feito. No momento em que decidi cortar, liguei no salão e já marquei horário, porque achava que as pessoas pudessem me dissuadir dessa ideia. E quando cortei acima dos ombros foi libertador. Olhei no espelho e pensei: ‘esse é o meu cabelo’. Era como se eu estivesse mais confortável em mim mesma, com um corte que fazia mais sentido. Muitas mulheres me perguntavam o nome do cabeleireiro, do salão, pediam para tirar foto do corte porque queriam cortar igual. Foi uma sensação muito legal. Era como se fosse uma nova Lena, como se eu precisasse trocar todo o meu guarda-roupa, porque nada mais combinava com a nova estética do cabelo curto.”

7 | Viajar para comer

“Acho que todo mundo gosta de viajar, mas eu sou a pessoa que não pode ver um dinheiro sobrando no fim do mês que já começa a planejar a próxima viagem. E ainda bem, o Fabrízio é igual a mim. Óbvio que tudo fica mais fácil já que somos um casal sem filhos, tanto em termos financeiros quanto de liberdade. Pode ser que não seja sempre assim. Mas viajar é uma coisa muito importante para nós. Planejamos os passeios e destinos de acordo com a gastronomia, porque viajar, para nós, é sinônimo de comer. Nossas viagens são sempre em função da comida, e topamos tudo, do restaurante mais estrelado à comida de rua de qualidade duvidosa. O importante é arrumar as malas e se aventurar por aí.”

8 | Cuidado e saúde acima de tudo

“É um pouco peculiar, mas eu sou viciada em protetor solar. Tive câncer de pele aos 12 anos de idade. Óbvio que na época não tive noção da gravidade daquilo, só lembro do meu pai ficar muito neurótico na praia, em cima de mim o tempo todo para que eu passasse protetor solar. Durante algum tempo, ainda mais nova, burlei as regras, queria ser morena, ter a pele queimada de sol. Mas conforme fui ficando mais velha, percebi que eu não precisava me expor a esse mal só para alguém me achar bonita. Hoje, passo protetor fator 90 no rosto, não importa para onde eu vá, e só tomo sol às 8h. Acho que sou e sempre fui uma pessoa precavida nas minhas escolhas. Precaver para não precisar remediar, sabe? E o protetor solar carrega esse significado para mim.”

9 | O adorno favorito

“Ou estou com um anel maior, ou vários mais finos. É aquela coisa: se saio de casa sem anel, me sinto pelada. Não sei de onde isso veio, como começou, mas é algo que gosto muito. Lembro de uma vez, brincando de palíndromos, descobrir que anel ao contrário era Lena. Achei uma coincidência feliz. O sentimento é de que o anel é o meu objeto. Na pandemia, como esse acessório ficou um pouco de lado, o que impediu a sensação de que estou pelada foi a aliança, que tem uma história legal. Eu e o Fabrízio queríamos casar, mas nos desvencilhar dessa indústria. Ficamos pensando o que fazer sobre a aliança, porque eu queria mais um anel para minha coleção. Até que uma amiga joalheira deu a ideia de fazermos a nossa. Fizemos dourada, fininha, discreta, a minha com três pedras pequenas, para cada ano de namoro. Hoje eu carrego esse anel no dedo e lembro do dia em que fomos fazê-lo, juntos, como foi gostoso aquele momento.”

10 | A revolução do guarda-roupa

“Sobretudo depois que visitei o Japão, as roupas confortáveis me representam muito. Foi quando eu percebi que dava para ser estilosa, se sentir bem e bonita usando roupas largas, que não marcam o corpo o tempo todo. Agora, vivo em busca dos looks-pijama. É uma nova característica minha. Já não uso mais salto alto, nem quando vou a casamentos. Opto sempre pelo confortável. Foi uma mudança de consciência mesmo, entender que você não precisa usar o sutiã apertado que vai te deixar marcada no fim do dia, o sapato que vai destruir seu pé. Acho uma evolução, eu vivo de pantufa em casa, calças e blusas confortáveis. Espero que o moletom tenha vindo para ficar.”

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