Venha provar meu brunch — Gama Revista
Divulgação/Tobi Meira

Venha provar meu brunch

Nascida na Inglaterra, a refeição que une café da manhã e almoço caiu nas graças brasileiras, com ingredientes locais e cardápio com influência caipira e do litoral

Ana Mosquera 06 de Julho de 2022

Comer sem pressa, reunir as pessoas, juntar café e almoço de uma vez só. A receita do brunch tinha tudo para vingar em terras brasileiras. Surgido na Inglaterra no século 19 e disseminado nos Estados Unidos a partir da década de 1930, chega ao Brasil depois dos anos 2000, inicialmente pelos salões dos hotéis, com pratos europeus e americanos, como croque monsieur, muffins e ovos beneditinos – pão, bacon, ovo pochê e molho holandês –, e drinques que dão o efeito de celebração.

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“Brunch é um tipo de hora e de comida especial, como eram os coquetéis nos anos 1950, uma festa”, lembra a pesquisadora da alimentação e editora, Joana Monteleone. Nos últimos anos, o hábito desse café tardio de domingo se ampliou, abarcando quase sempre o sábado e, eventualmente, os dias da semana, mas ainda com um clima festivo de encontrar amigos. Se antes ele ocorria entre 10h e 14h, hoje não são incomuns os lugares com “brunch all day”. O cardápio também passou por certo abrasileiramento quando a modalidade ganhou cafeterias, bares e restaurantes.

Hoje não são incomuns os lugares com ‘brunch all day’ e com cardápios mais abrasileirados

Para celebrar o movimento do brunch no país e valorizar essa cultura por aqui, a Hoegaarden promove o circuito Brunch Gaarden, até o dia 10/07. O evento reúne menus de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com cardápios que acompanham uma cerveja gelada ou um welcome drink preparado com a bebida.

Raiz britânica, sotaque nacional

Os hábitos alimentares, assim como os idiomas, são organismos vivos“, diz a jornalista e especialista em História e Cultura da Alimentação, Cíntia Marcucci. Para ela, o brunch pode ser incorporado à cultura local para valer desde que chefs e cozinheiros valorizem elementos da identidade nacional. Além dos derivados do milho, como o cuscuz, e da mandioca, como a tapioca, é possível priorizar frutas e especiarias nativas, queijos de origem – como o da Canastra –, entre outros alimentos produzidos no país.

Brunch no HM Food Café, em São Paulo.  Divulgação/Tobi Meira

No HM Food Café, em São Paulo, pioneiro em servir a refeição fora do ambiente do hotel, a conexão com o Brasil se fortalece pela matéria-prima. Mesmo que a tríade “café, pão e ovos” predomine no menu, as referências viajam da Grécia ao México, sem deixar de passar por Minas Gerais, terra do sócio Hesli Carvalho.

A Frigideira da Fazenda, por exemplo, traz o ovo frito, vegetais assados, linguiça caseira e pão de abóbora. “O café mineiro tem um peso tão importante quanto o almoço. A rosquinha com goiaba, o pudim de claras, os bolos. Sempre que a gente fala de alimentação, a gente está falando de celebração ao redor da mesa”, diz.

Se os mineiros falaram, está falado. “A gente fala que não tem brunch no Brasil, mas tem aquele café da manhã de hotel, de pousada do interior. É basicamente um brunch, o que muda é só o horário, porque ele é super-reforçado”, diz Caio Soter, chef do Pacato e do O Jardim Restô Bar, em Belo Horizonte.

Marcucci confirma a ideia, relembrando os buffets de café da manhã de padaria, que frequentava nos finais de semana mais especiais, há cerca de 15 anos. “Eu acho que café da manhã no geral deveria ser assim. A gente precisa de energia para aguentar o dia todo”, acrescenta o chef, que abusou dos elementos da sua culinária para o brunch do bar, com broa de milho com linguiça caipira, crocante de paio e requeijão de raspa.

Brunch sazonal na padaria Na Fila do Pão, em São Paulo.  Divulgação

Natural de Brumadinho (MG), Diêgo Penido, criador da padaria Na Fila do Pão, na capital paulista, também busca inspiração nos quitutes e no afeto da família para servir os clientes – e os amigos, em casa. Como padeiro, acredita que o pão tenha um papel importante, mas não fundamental para o brunch à brasileira.

Nossa variedade de alimentos é tanta, que não faz mais sentido fazer uma cópia do cardápio americano

“Você pode montar um brunch maravilhoso com macaxeira, cará e outros produtos da nossa cultura. Nossa variedade de alimentos é tanta, que não faz mais sentido fazer uma cópia do cardápio americano.” Dono de um menu sazonal, produz com frequência pães e bolos à base de milho, biscoitos com goiabada e pão de queijo.

o café é elemento universal que dá ao brunch a cara do Brasilo país é o maior produtor de grãos do mundo. Na Botanista, em São Paulo, não pode faltar a bebida de qualidade para compor a celebração. “A gente adora um café com pausa”, conta a sócia e chef, Nubia Lima. De família cearense, vive buscando referências pessoais para agregar novidades ao cardápio da casa.

Inspirações do interior e do sertão no brunch da Botanista, em São Paulo.  Divulgação

“O café da manhã no Nordeste tem esse pique reforçado, e, se você for pra roça mesmo, você come todas essas misturas mais robustas de manhã”. No menu do restaurante, que também tem influência caipira, destacam-se preparações como banana da terra, cuscuz, e pão de queijo com ovo ou picadinho.

Mais ao litoral, Edu Araújo, proprietário e chef do Café 18 do Forte, no Rio de Janeiro, inseriu no menu opções alinhadas à realidade carioca. “É ‘menos Nova York e Londres’, e ‘mais Califórnia e países nórdicos’, onde tem a cultura de introduzir os frutos do mar na culinária“. O novo Chilli do mar traz polvo, lula, camarão e mexilhão, e feijão branco, no lugar da carne bovina e do feijão vermelho do prato mexicano.

Além da comida, a celebração

Se a moda aqui está pegando agora, na Inglaterra, o manifesto à refeição tardia já data do final do século 19. Em “Brunch: A Plea” (em tradução livre, “Brunch: Um Apelo”), publicado em 1895, na Hunter’s Weekly, o escritor Guy Beringer traz argumentos incontestáveis para a inserção da prática na rotina inglesa: prolongar as noites de sábado, acordar quando o dia já está quente, exaltar ovos e bacon, substituir café e chá por cerveja e uísque.

Em seu berço inglês, a ideia do brunch era prolongar as noites de sábado, acordar com o dia quente, exaltar ovos e bacon, substituir café e chá por cerveja e uísque

Foi com o brunch, inclusive, que receitas de bebidas que misturam sucos de fruta e álcool nasceram, como a Mimosa – suco laranja com espumante – e o Bloody Mary – suco temperado de tomate com vodca. A propagação do hábito da classe alta para a classe média também permitiu popularizar o consumo de bebida alcoólica, principalmente entre as mulheres.

A cultura do brunch no Brasil, entretanto, é recente e ainda bastante restrita às capitais e cidades mais gastronômicas. Assim como nos Estados Unidos, os maiores comedores de brunch por aqui são os millennials, pessoas que têm entre 25 e 35 anos, como comenta Carvalho. Mas o padrão está mudando, e a busca por realizar refeições compartilhadas em horário diurno, por exemplo, como lembra Penido, contribui para trazer novos públicos.

“Eu acho muito legal fazer reuniões de família que são voltadas ao brunch porque não existe aquela expectativa de um jantar formal. O brunch é mais relax”, diz a escritora e cozinheira, Jaíne Mackievicz. Brasileira radicada na Califórnia, ela conta que, por lá, assim como vem acontecendo no Brasil, o brunch serviu para colocar pratos e culturas em evidência. Além de reforçar o aspecto de ser uma refeição festiva, divertida e despretensiosa. “O brunch é o epítome da casualidade, especialmente num mundo pós-pandêmico. A casualidade dos encontros é a coisa que a gente mais precisa.”

Marcas brasileiras também estão de olho no brunch, enxergando a possibilidade de levar a refeição para outros territórios, como é o caso de Hoegaarden. “Muitas pessoas acreditam que brunch não combina com cerveja, mas a verdade é que, aqui no Brasil, as pessoas também aproveitam para desfrutar deste líquido em um horário socialmente aceitável”, afirma Louis Millard, Gerente de Marketing da Hoegaarden.

“Além disso, a gente acredita que o lifestyle naturalmente diferente, que permeia todas as nossas comunicações, faz total sentido com essa refeição tão diferente e gostosa. É por isso que apostamos no brunch como algo que queremos disseminar no Brasil”, ele finaliza.

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