Tudo o que você precisa saber sobre o 50 Best Latin America no Rio
Lista com os melhores restaurantes da região será anunciada nesta terça-feira no Rio de Janeiro e promete colocar o país no mapa da gastronomia mundial
O mundo da gastronomia brasileira está em polvorosa, pode estar vivendo o começo de uma nova fase. Nesta terça-feira (28), o Rio de Janeiro será sede da premiação mais importante para os chefs latino-americanos, o 50 Best Latin America. Isso já é bastante coisa. Mas, para a gastronomia brasileira, o evento, que atrai jornalistas especializados e cozinheiros de toda a região, pode significar mais: é um jeito de atrair os holofotes para os nossos ingredientes nativos, para o uso que damos a eles e também para os nossos expoentes da cozinha, colocando o Brasil no mapa da gastronomia mundial. Foi isso o que aconteceu com países como o Peru, por exemplo, que já sediou o evento três vezes e hoje tem a capital Lima como uma das cidades mais gastronômicas, não só da região, mas do mundo.
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A expectativa é de muitos chefs do país, como já declarou por exemplo Rodrigo Oliveira, do Mocotó, nesta entrevista, em que ele dizia que era preciso ter um esforço de “gastrodiplomacia” para atrair a ateção para o que cozinhamos por aqui. A escolha do Rio de Janeiro como sede é estratégica, ao usar de um cartão postal perfeito do país para deixar premiação ainda mais atraente para cozinheiros e foodies de outros países. Mas não foi sem polêmica: segundo apuração da Gama, muita gente do mercado achou que São Paulo, tida como a capital gastronômica do país, é que deveria sediar o evento.
Polêmicas à parte, o que todos concordam é que o 50 Best demorou a chegar ao Brasil, considerando o tamanho e a diversidade da cozinha brasileira. Além do Peru, México, Colômbia e Argentina já sediaram o anúncio da lista, tornando-se cada vez mais relevanes no cenário mundial.
Abaixo, você lê um pequeno guia feito pela Gama para entender como funciona a lista e como será a festa no Rio de Janeiro. As dúvidas são respondidas por Rosa Moraes, representante oficial brasileira da lista e que foi também criadora do primeiro curso de gastronomia do país, e por Martina Barth d’Avila, dona da Sonimage, agência que produz a festa por aqui.
O que é o 50 Best?
Em 2002, a revista inglesa Restaurant, pertencente ao grupo William Reed, que tem 160 anos na área de publicação e, agora, eventos, resolveu fazer um ranking dos melhores restaurantes do mundo. O que começou como uma reportagem de capa, deu tão certo que virou uma tradição. Hoje, o ranking se descolou da publicação para se tornar um produto à parte. Tornou-se também uma premiação com uma festa que é considerada o Oscar da cozinha e não é exagero dizer que trata-se do maior evento da gastronomia mundial atualmente.
O que é o 50 Best Latin America?
Com o sucesso do 50 Best e seu descolamento da revista Restaurant, outros rankings e produtos passaram a ser criados. Em 2013, nasceu a primeira lista de uma região específica, o da Ásia. Logo depois, veio o da América Latina. Em 2022, Oriente Médio e Norte da África também ganharam seus rankings. O 50 Best foi para outras áreas também. Começaram a fazer também outros rankings, dos bares; e o discovery, que inclui restaurantes muito bem votados, mas que ficam além do número 100.
Como o ranking é feito?
Na América Latina, 300 jurados votam e cada um é selecionado por ser alguém capaz de dar uma opinião fundamentada e especializada. A região foi dividida em cinco sub-regiões, que têm presidentes que escolhem os votantes. O Brasil sozinho compõe uma região e é presidido por Rosa Moraes, que foi também criadora do primeiro curso de gastronomia do país, que convida especialistas a votarem: 34% dos escolhidos são chefs; 33% são jornalistas e influencers que falam sobre comida e bebida; e 33% são gourmets que viajam o mundo para comer. Moraes conta que 50% dos votantes são de mulheres e 50% de homens e que, a cada ano, 25% desse corpo votante têm que mudar.
Por que ficou tão relevante?
“É uma lista diversa e diferente”, afirma Rosa Moraes. “Uma coisa independente e democrática. Qualquer restaurante pode entrar nessa lista, não existem critérios, como no guia Michelin, por exemplo. A Casa do Porco, longe de qualquer restaurante formal, está no mesmo ranking que inclui Le Bernardin, super tradicional e elegante de Nova York”, explica. Segundo Moraes, a todas as casas têm uma comida excelente mas o salão pode apresentar diferentes estilos, do mais sofisticado ao mais despojada.
Outra coisa que explica a popularidade da lista são os muitos novos prêmios que estão atrelados a ela, como o Best Chef Awards, que premia cozinheiros que estão em destaque, os prêmios de sustentabilidade, melhor chef mulher de cada região, melhor confeiteiro, e por aí vai.
Briga com o Guia Michelin?
Segundo Rosa Moraes não tem disputa, fica cada um no seu quadrado. O guia Michelin tem critérios claros, inspetores contratados. O 50 Best tem regras mais livres e quem vota são convidados. “Não dá para falar que um é melhor que o outro. Ambos têm importância equivalente. Mas a lista é mais democrática, tem restaurantes mais modernos. É um bom termômetro para ter tendências.” Mas parte da relevância do 50 Best pode ser explicada por um declínio no Michelin, considerando que pouca gente hoje compra o guia de papel, o que levou a célebre marca ligada à gastronomia começar a fazer acordos de patrocínio com prefeituras para premiar seus restaurantes, o que tem sido visto como escandaloso por parte da comunidade gastronômica mundial. No último fim de semana, foi a vez de Buenos Aires sediar uma festa de lançamento do Michelin, que agora faz um guia da cidade. Em 2023, o guia volta a ser editado no Brasil.
Quem deve levar?
Isso nós só vamos saber à noite. Mas há 12 dias já foram revelados que restaurantes brasileiros entraram no ranking dos cem melhores da América Latina, nas posições que vão de 50 a 100. Há nove restaurantes brasileiros entre eles: Charco, em São Paulo (56); Fame Osteria, em São Paulo (57); Mocotó, em São Paulo (63); Kotori, em São Paulo (64); D.O.M., em São Paulo (65); Origem, em Salvador (76); Ristorante Hotel Cipriani, no Rio de Janeiro (95); Ocyá, no Rio de Janeiro (96) e Kan Suke, em São Paulo (97).
Como vai ser a festa do Rio?
Segundo a organização, feita pela empresa Sonimage, comandada por Martina Barth d’Avila, os chefs estão vindo em comitivas gigantes, alguns com funcionários de seus restaurantes, outros com família, com dias de antecedência ou com planos de ficar mais no país para aproveitar as praias brasileiras. Segundo ela, a escolha do Rio foi importante como destino turístico para atrair um número massivo de participantes.
A premiação desta terça-feira (28), é considerada o Oscar da gastronomia e começa às 18h30, no Copacabana Palace, com a entrada dos premiados no tapete vermelho. Os chefs que fazem parte do ranking de 1 a 50 já sabem que foram escolhidos, mas não sabem ainda que posição ocupam. Nesta noite serão entregues também prêmios como o de melhor chef mulher, que neste ano foi para Janaína Rueda Torres, d’A Casa do Porco e do Dona Onça. Depois da premiação, há uma festa no hotel Fairmont, uma festa extraoficial, com muita comida, bebida e pista.
A comida servida na premiação é do próprio Copacabana Palace, mas que segue briefing do 50 Best, que encomendou uma degustação de petiscos brasileiros. Já na festa que acontece depois, há estações de comida que servem a comida típica de botequim carioca, com galeto, bolinho de bacalhau, empadinhas, biscoito de polvilho, etc. “Existe uma expectativa muito grande em relação a essa festa porque todos os os chefs dizem que Rio de Janeiro é sinônimo de festa. Há uma adesão gigantesca, todos os chefs estão confirmados, alugando Airbnb, trazendo a família junto. O Rio tem essa magia”, diz d’Avila.
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