Como ter menos coisas
Viver com o essencial pode parecer difícil. Leia essas dicas para ajudar a focar no que realmente importa
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Ouça a mestra japonesa e diga adeus ao que não traz mais alegria –
Virou piada, mas é válido: esse é o principal conselho da japonesa Marie Kondo, rainha da organização, que se tornou um fenômeno mundial ao apresentar um método inovador – engraçado e controverso para alguns, sensível para outros. Por meio de livros como “A Mágica da Arrumação” (Sextante, 2015) e da série lançada pela Netflix em 2019, “Ordem na Casa”, ela ensina o desapego a partir de uma perguntinha: “Isso me traz alegria?”. Segurando cada item, seja uma peça de roupa, um calçado, um brinquedo ou um livro, você deve se fazer esse questionamento e, então, sentir como o seu corpo reage. Caso a resposta seja positiva e aquilo, de fato, ainda traga felicidade à sua vida, mantenha o objeto. Mas, se a negativa vier, pare alguns segundos, agradeça pelo tempo que aquela coisa foi útil e se desfaça dela, doando, jogando no lixo ou até vendendo. A técnica pode ser um primeiro passo para uma vida mais minimalista. -
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Pratique o “destralhe” diariamente –
Seguindo em uma linha semelhante à do KonMari, método de Kondo, de se desfazer do que não serve mais, a especialista em produtividade, gestão do tempo e organização pessoal Thais Godinho, criadora do blog Vida Organizada, costuma dizer que o ato de destralhar deve ser um hábito cotidiano. Isso porque, todos os dias, uma nova embalagem chega à nossa casa, o frasco de shampoo acaba ou perdemos o interesse em algo que, consequentemente, não será mais usado. No texto “Destralhar faz parte da rotina de uma casa minimalista”, Godinho escreve que “o destralhar verdadeiro começa no processo de ‘não-compra’ de itens que você não vai precisar. Trata-se do consumo consciente, que vai desde levar saquinhos para a feira a não comprar objetos apenas por comprar, especialmente alguns itens de decoração. O problema do consumo é que ele direciona a demanda. Se alguém compra, o produtor vai lá e faz mais para vender. E isso exaure os recursos da natureza. Se existe uma maneira de protestar no capitalismo, é deixando de comprar algo. Por ‘sorte’, esse poder é individual e depende das escolhas de cada um.” -
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Defina um endereço fixo para cada objeto –
Cora Fernandes, personal organizer e apresentadora do “Menos é Demais”, do Discovery Home & Health Brasil, acredita que, por meio da organização, selecionamos melhor o que entra na nossa casa e o que realmente precisamos. “E, a partir dela, tudo terá um endereço específico, não vai haver espaço para você colocar algo aleatório, que não faz parte do seu dia a dia, da sua vida. Quando tudo tem um endereço certo, até o consumo diminui bastante“, alerta. Entenda por endereço o local exato de cada coisa ou de determinada categoria, como aquela caixa dentro do armário que abriga meias, a gaveta dedicada às roupas de praia ou o espaço na estante onde ficam os livros da pós-graduação, por exemplo. “Às vezes, pego armários para organizar e encontro peças duplicadas, com etiqueta, roupas que ficam ali por muito tempo ou até mesmo louças que a pessoa ganhou de presente de casamento, há décadas, e nunca colocou em uso porque, na verdade, ela nem lembra que tinha aquilo e comprou itens novos no decorrer dos anos. Isso acontece porque os objetos estão sem endereço, ficam guardados, empilhados, espalhados e escondidos em lugares de difícil acesso, como no fundo de um guarda-roupa ou em espaços super altos”, detalha. A especialista ainda dá mais uma dica: “Você consome menos conforme vai se conhecendo mais e criando intimidade com as suas coisas. A organização está ligada ao autoconhecimento. O minimalismo vem conforme a organização avança.” -
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Dê nova vida às suas roupas e faça intercâmbio de peças com amigas e amigos –
Segure o impulso gastador a cada vez que uma nova “brusinha” aparecer na timeline. O seu bolso, aquela gaveta cheia de outros modelitos semelhantes – e pouco usados – e, principalmente, o meio ambiente vão agradecer. O livro “Com que Roupa? Guia Prático de Moda Sustentável” (Companhia das Letras, 2021), da comunicadora socioambiental Giovanna Nader, traz dicas práticas para evitar o consumismo desenfreado e sem propósito. “Eu trago que a moda sustentável pode ser de graça, por exemplo, por meio de troca e empréstimo de roupas entre as pessoas. Isso sempre existiu nas periferias, mas por necessidade. É uma questão de entender que isso atravessa todo mundo. Educação é a base para tomar consciência e se ver como parte desse processo de transformação”, falou a autora em entrevista a Gama. -
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Não queira abraçar o mundo e diga mais não –
Sim, esse também é um dos segredos para se ter menos coisas. Muitos especialistas comentam que a cada sim que falamos para coisas ou situações que não nos servem ou agradam mais é um não que dizemos para o que nos é essencial, seja um espaço ocupado na prateleira com algo que não queremos e aceitamos “por educação”, seja pelo tempo que perdemos fazendo atividades “por obrigação”, como aceitar o convite para um evento que não queremos ir, só porque o outro insistiu. CEO da Vida Simples, Luciana Pianaro escreveu uma coluna na revista a respeito do tema. “Hoje, com a quantidade de oportunidades e ofertas, queremos abraçar o mundo: seguir todos os perfis legais nas redes sociais, ler todos os livros necessários ao nosso crescimento, responder a todas as mensagens, trabalhar, ser esposa, mãe. Ufa. A lição é que vamos ter que dizer alguns nãos. Caso contrário, não sobra tempo para focar no essencial. Naquilo que vai nos fazer feliz, que vai nos trazer paz de espírito. Em nós.” Gama já deu algumas dicas de como dizer não.