Como começar a assistir aos filmes de Martin Scorsese
Prestes a lançar seu novo filme, “Assassinos da Lua das Flores”, o diretor norte-americano é um dos nomes mais respeitados e admirados de Hollywood. Gama dá os primeiros passos para se aventurar na filmografia do cineasta
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Seja seduzido pelos dilemas morais do crime –
Nos cinemas de todo o mundo, o nome Martin Scorsese é sinônimo de filmes sobre máfia. Também, não é para pouco: o cineasta norte-americano produziu alguns dos maiores clássicos do gênero. Entre os melhores, estão: “Os Bons Companheiros” (1990), “Casino” (1995), “Gangues de Nova York” (2002), “Os Infiltrados” (2006) e “O Irlandês” (2019). “O trabalho dele reflete a vivência de sua família em Nova York, observando os criminosos nas ruas do bairro em que morava”, afirma Natália Bridi, jornalista, crítica de cinema, apresentadora do canal Entre Migas e ex-editora-chefe do Omelete. Scorsese presenciou desde muito cedo os jogos de poder entre o crime, o estado e a igreja. “O fato de ele amar esse submundo – suas personagens, seus meandros, o senso de lealdade dos criminosos – o faz ter uma atenção especial na hora de filmar e de narrar essas histórias”, diz Bruno Ghetti, jornalista, crítico de cinema, mestre em estudos cinematográficos pela Université Paris Diderot (Paris VII), e com passagens pela Folha de S.Paulo, UOL e revista Cult.
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Encarne a culpa católica de Scorsese –
Os personagens dos filmes de Scorsese dificilmente entrarão no céu, mas isso não significa que a religião não esteja presente nos longas do diretor. Seja de forma direta ou indireta, toda a filmografia do cineasta é lavada por tons católicos. “O cinema do Scorsese é muito marcado por uma certa moralidade de natureza cristã”, diz Ghetti. Ainda de acordo com o crítico, é possível entender o fascínio do diretor com o tema ao olhar, mais uma vez, para sua infância. “Ele veio de uma família de origem siciliana que migrou para os EUA, então muita coisa do catolicismo ficou impregnada nele. Na infância, Scorsese só tinha paz em dois templos: na igreja e na sala de cinema.” Se a moral cristã está presente em quase todos os longas, alguns deles se destacam por tratar o tema da religião de forma bem explícita. “Em ‘A Última Tentação de Cristo’, ele mostrou um Jesus que era tanto divino quanto humano. Em ‘Kundun’, ele saiu do cristianismo e contou a história do Dalai Lama. E fez ainda filmes como ‘Silêncio’, em que por vezes chega ao extremo de parecer estar fazendo pregação ao espectador para aderir à fé cristã”, recomenda Ghetti.
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Fique de olho em seus atores preferidos –
O que é um artista sem a sua musa? No caso de Scorsese, musos. O diretor norte-americano já trabalhou com muitos atores e atrizes do mais alto calibre, mas foram dois homens que conquistaram o coração de Martin: Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. A parceria com De Niro é antiga e remonta aos filmes que o estabeleceram como um grande cineasta. Em 1973, De Niro se juntou a Scorsese pela primeira vez e, daí em diante, o que se seguiu foi uma parceria que dá inveja às maiores duplas da história do cinema. Em um período de sete anos, os dois artistas produziram os clássicos “Taxi Driver” (1976), “Touro Indomável” (1980) e o “Rei da Comédia” (1983). Já a relação de DiCaprio com Scorsese é mais recente. Eles se conheceram em 2002, quando DiCaprio ainda era visto como o rostinho bonito de “Titanic” (1997). Foi a partir de “Gangues de Nova York” que DiCaprio começou a ser respeitado como um ator sério e, até hoje, ele agradece Scorsese por ter lhe ensinado o que era cinema. Além do filme de estreia, o ator também participou de “O Aviador (2004)”, “Ilha do Medo” (2010) e o “O Lobo de Wall Street (2013)”. “O fato de De Niro e DiCaprio terem ascendência italiana como Scorsese é um dado a não ser desprezado”, afirma Ghetti. Tanto DiCaprio quanto De Niro estão no mais novo filme do diretor, “Assassinos da Lua das Flores” (2023).
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Entenda que seus filmes são também uma aula sobre cinema –
“Se Deus se oferecesse para encurtar a minha vida e prolongar a de Scorsese, eu aceitaria. Esse homem entende cinema. Defende o cinema. Encarna o cinema”, afirmou o diretor mexicano Guillermo Del Toro em seu Twitter. “Ele é um dos grandes conhecedores do cinema, e ver o que ele tem a dizer sobre filmes é nunca menos do que extraordinário”, diz Ghetti. Em 1990, o cineasta norte-americano fundou a “The Film Foundation”, uma organização dedicada à preservação e exibição de filmes clássicos ao redor do mundo. Ao todo, a fundação já restaurou 58 filmes de 30 países diferentes. “É um aspecto extremamente importante da carreira dele, inclusive para nós brasileiros, já que o cineasta teve papel fundamental na restauração de ‘O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro’, de Glauber Rocha”, relata Bridi. “Atualmente, Scorsese é para quem ama cinema não apenas um dos seus maiores artistas vivo, mas também o grande defensor dessa arte”. -
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Não despreze seus trabalhos documentais sobre música –
Apesar de ser famoso por seus longas de ficção, Scorsese também tem uma prolífica produção no gênero documental. Em especial, destacam-se suas obras que focam no mundo da música. “Ele tem filmes importantíssimos como ‘The Last Waltz’, sobre o último show da The Band, e ‘No Direction Home’, sobre a trajetória de Bob Dylan”, indica Bridi.
Outros longas que valem a pena ser conferidos são “Shine a Light” (2008), sobre os Rolling Stones e “George Harrison: Living in the Material World” (2011), sobre o ex-Beatle. Para Bridi, o diretor é capaz de emprestar ao mundo da música o mesmo tipo de fascínio que apresenta nos temas recorrentes de sua filmografia como máfia e religião.
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