Sete livros para entender o 11 de Setembro
Na data em que o atentado que abalou o mundo completa 20 anos, Gama reuniu obras com diferentes perspectivas sobre o 11 de Setembro
Na manhã do dia 11 de setembro de 2001, um avião colidiu contra a torre norte do World Trade Center, em Nova York. Cerca de 15 minutos depois, uma segunda aeronave atingiu a torre sul. Os ataques, assim como um terceiro que foi se abater sobre o Pentágono, foram causados por sequestradores que assumiram o controle de aviões comerciais nos EUA. Na ocasião, os dois prédios no coração da cidade americana desmoronaram, com um saldo de quase 3 mil mortos e um conflito de mais de uma década.
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Pouco tempo antes do aniversário oficial de 20 anos dos atentados do 11 de Setembro, o mundo presenciou as imagens do grupo extremista Taleban novamente no poder no Afeganistão. Isso só aconteceu devido à retirada definitiva das tropas americanas do país. As mesmas que, quase 20 anos atrás, destituíram o grupo de seu trono sob alegações de que estariam protegendo Osama Bin Laden, então líder da organização terrorista al-Qaeda, responsabilizada pelos ataques.
Desde então, muita coisa aconteceu. Em 2011, Bin Laden foi morto por forças americanas no Oriente Médio. Os Estados Unidos deram início a novos conflitos em regiões como Iraque e Paquistão. E o grupo Estado Islâmico ascendeu à posição de maior ameaça terrorista no globo. Além disso, os EUA perderam força no cenário mundial, principalmente com o antagonismo da China como potência econômica.
Ainda assim, para muita gente que acompanhou os atentados e as suas consequências, a volta do Taleban ao poder soa como o fim de um ciclo. E, para os mais novos, pode parecer difícil lidar hoje com o impacto que o 11 de Setembro foi capaz de causar.
Em meio aos eventos que se seguiram, escritores buscaram retratar o 11 de Setembro por diferentes óticas, seja pelos relatos de quem o vivenciou, seja por uma perspectiva histórica, sociológica ou até mesmo ficcional. Vinte anos depois, já temos alguns livros importantes para entender melhor o que a data significou, inclusive com lançamentos recentes, como “O Único Avião no Céu”, de Garrett M. Graff (Todavia, 2021) e ‘O Vento Mudou de Direção’ (Fósforo, 2021), da jornalista brasileira Simone Duarte.
A seguir, Gama reúne algumas das obras mais relevantes publicadas nesse período, que tratam dos diversos ângulos do 11 de Setembro.
Todavia, 2021
‘O Único Avião no Céu’, Garrett M. Graff
O distanciamento pode ser importante para colocar em perspectiva um evento histórico, mas poucas coisas são capazes de recriar tão bem um acontecimento quanto os relatos das pessoas que dele participaram. É a partir deles que o historiador e jornalista americano, que já colaborou para veículos como o New York Times e a Esquire, busca evocar o ataque mais traumático da história recente dos Estados Unidos. Numa conjunção de vozes que incluem desde funcionários do aeroporto que conduziram terroristas para seus voos até bombeiros que se depararam com cenas de caos, “O Único Avião no Céu” tem como base transcrições inéditas, documentos tornados públicos recentemente, entrevistas com funcionários do governo, além de relatos de testemunhas, sobreviventes, amigos e familiares de vítimas. Um retrato pungente e bastante humano do 11 de Setembro.
Simone Duarte (Fósforo, 2021)
‘O Vento Mudou de Direção’, Simone Duarte
Hoje em Lisboa, a jornalista carioca Simone Duarte vivia em Nova York em 2001, quando cobriu os atentados para a TV Globo, emissora na qual trabalhou por 15 anos. Ao finalmente escrever um livro sobre um evento do qual esteve tão próxima, ela o faz por uma perspectiva inusitada: a de sete pessoas de quatro nacionalidades distintas, inicialmente sem ligação alguma, mas que tiveram sua vida revirada por causa do 11 de Setembro. Seja um jovem preparado na infância para ser garoto-bomba ou uma poeta obrigada a se refugiar nos Estados Unidos, “O Vento Mudou de Direção” traça a importante história de pessoas comuns para mostrar o impacto da guerra travada pelos americanos contra o terror — ainda mais urgente num momento em que o Taleban volta ao poder no Afeganistão. Geralmente contada pela visão ocidental, a jornalista usa algumas dessas histórias também como um alerta do perigo de se aceitar uma única versão dos fatos sem questioná-la.
(Bertrand, 2002)
’11 de Setembro’, Noam Chomsky
Que o linguista, filósofo e sociólogo norte-americano Noam Chomsky é um dos principais nomes do pensamento contemporâneo não chega a ser novidade. Mas o que pensa Chomsky sobre um dos eventos que abalaram de forma tão poderosa o início do século 21? Para responder essa pergunta, o livro “11 de Setembro” (Bertrand, 2002) recorre a algumas das principais entrevistas que ele deu sobre o assunto. Em suas 160 páginas, a obra reúne as falas do sociólogo a jornalistas estrangeiros no mês que se seguiu aos atentados. Nelas, Chomsky vai descortinando o pano de fundo da fatídica data, apontando algumas das motivações para o ataque. E ele não poupa palavras ao descrever o apoio histórico dos Estados Unidos à violência sempre que dirigida àqueles considerados inimigos da nação, num feitiço que, segundo Chomsky, pode ter acabado se voltando contra o feiticeiro.
(Zahar, 2005)
‘102 Minutos’, Jim Dwyer e Kevin Flynn
Dois repórteres do New York Times buscam em “102 Minutos” (Zahar, 2005) reproduzir os momentos de angústia e tensão sofridos ao longo do atentado contra as Torres Gêmeas. O título faz alusão ao tempo que se passou entre o momento em que o primeiro avião atingiu a torre sul do World Trade Center e o instante em que a torre norte desabou. Para isso, recorreram a uma estratégia semelhante à de Graff: deixar as testemunhas e vítimas que estiveram dentro do prédio contarem suas próprias histórias. Assim, vão surgindo não apenas entrevistas que a dupla fez com agentes de resgate e sobreviventes, mas também gravações de telefone, emails e pedidos de socorro aos serviços de emergência. O livro explora detalhes como falhas nos contingentes de polícia e bombeiros detectadas naquele dia e relatos detalhados do caos que reinou dentro dos edifícios. Um trabalho importantíssimo de reportagem para quem quer entender o que significou estar naquela hora e naquele lugar, dentro do epicentro dos atentados.
Companhia das Letras, 2017
‘O Último Grito’, Thomas Pynchon
Meses antes dos atentados, uma especialista em fraudes fiscais é contratada por um documentarista para investigar as suspeitas ações de uma startup. No centro de uma complexa teia de pistas, parece estar um misterioso investidor, interessado em usar a deep web para seus objetivos escusos. Quem é familiarizado com a obra do escritor americano Thomas Pynchon (“O Arco-Íris da Gravidade”, “Vício Inerente”) sabe que, no livro, nem tudo é o que parece ser e os desdobramentos vão surpreer a cada virada de página. Abrangendo temas que vão desde o contrabando de sorvetes até o sigiloso financiamento de grupos terroristas, Pynchon cria nessa história de ficção mais um de seus engenhosos labirintos. E, se a literatura de alguns dos nossos melhores escritores contemporâneos tem sempre algo a dizer sobre a sociedade em que vivemos, “O Último Grito” (Companhia das Letras, 2017) deveria ser leitura obrigatória para todos os interessados em saber sobre terrorismo e o atentado contra as Torres Gêmeas.
Alfaguara, 2007
‘O Fundamentalista Relutante’, Mohsin Hamid
Um encontro aparentemente ao acaso com um norte-americano num café de Lahore, cidade fronteiriça do Paquistão, serve de ocasião para que um jovem paquistanês desfile sua história de vida para o leitor. Finalista do prêmio Man Booker Prize, “O Fundamentalista Relutante” (Alfaguara, 2007) conta de forma irônica como o protagonista foi de uma pessoa próspera e aparentemente integrada à vida nova-iorquina a uma rotina de preconceitos e agressões verbais após o 11 de Setembro, que acaba por afastá-lo do país onde acreditava viver sua melhor vida. O romancista de origem paquistanesa Mohsin Hamid (“Passagem para o Ocidente”, “Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente”) explora em suas páginas temas complexos como a xenofobia, laços afetivos e o nacionalismo no despertar de um evento de proporções catastróficas, em um livro que fala também sobre perda, indignação e reencontros.
Alfaguara, 2007
‘À Sombra das Torres Ausentes’, Art Spiegelman
O autor, quadrinista e ilustrador Art Spiegelman é mais conhecido por sua obra-prima “Maus” (Companhia das Letras, 2005), na qual reconta a história de sua família, de origem judia, durante o nazismo e a Segunda Guerra Mundial na Europa. Ainda que menos conhecido, “À Sombra das Torres Ausentes” (Companhia das Letras, 2004) é um relato não menos primoroso dos impactos da atentado às Torres Gêmeas. Além de explorar como o ataque o atingiu no âmbito pessoal, o autor usa novamente o formato dos quadrinhos para refletir sobre temas mais profundos, desta vez envolvendo os desdobramentos desse evento e as guerras contra países do Oriente Médio que se seguiram a ele, em artes que foram publicada em jornais europeus e dos EUA. A capa, inclusive, é a mesma imagem histórica que o ilustrador fez para a revista New Yorker logo após os ataques. Sobre um fundo bastante escuro, ela reproduz a silhueta das torres inteiramente pretas, quase indistinguíveis.
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