Sua vida está em suspenso? Dê o play nessas biografias
Gama seleciona dez livros para a quarentena sobre a vida agitada de notáveis brasileiros. Entre eles, Tim Maia, Elza Soares, Raul Seixas e Rita Lee
Quem está em casa por conta da pandemia do novo coronavírus pode ter a impressão de que a vida está paralisada. Quando os sentimentos negativos se acumulam — e eles têm se acumulado como nunca —, distrair-se é um paliativo eficiente. Se você não pode dar “play” na sua própria história, essas dez biografias de artistas nacionais podem tirar sua cabeça do mundo ao redor e levá-lo a se perder na vida (quase sempre tumultuada) de brasileiros e brasileiras que encantaram o país.
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1
Tim Maia
Os sucessos e os excessos do rei do samba-soul
Da juventude humilde na barra da Tijuca ao posto de símbolo da black music brasileira, Tim Maia percorreu um longo caminho até o sucesso. A prisão nos Estados Unidos, sua fase racional e seu amor por guaraná são contados no livro “Vale Tudo: O Som e a Fúria de Tim Maia” (Objetiva, 2014), de Nelson Motta. O poder da voz de Tim Maia só era comparável à força de sua personalidade e Motta, um de seus maiores amigos, foi capaz de capturar a essência única do cantor em um livro fundamental para qualquer fã do rei do samba-soul. A biografia deu origem a um musical e inspirou um filme sobre Maia.
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Clarice Lispector
A dama da literatura brasileira em todo o seu esplendor
O jornalista Benjamin Moser ganhou, no começo de abril, o Prêmio Pulitzer por sua biografia de Susan Sontag. Em 2009, o autor se dedicou a contar a história de outra artista, a ucraniana mais brasileira que já existiu. “Clarice, uma Biografia” (Cia. das Letras, 2017) detalha a vida da polêmica escritora Clarice Lispector. A infância violenta na Ucrânia, a vida no Rio de Janeiro e a fama internacional são os palcos em que Moser desmistifica a vida da dama da literatura brasileira. Para Moser, Clarice é a melhor escritora judia depois de Kafka.
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Zé do Caixão
O mestre do horror brasileiro é revisitado em edição de luxo
Vida e obra do mestre do horror brasileiro foram transportadas para as belíssimas e assustadoras páginas de “Zé Do Caixão – Maldito, A Biografia” (Darkside Books, 2015). O livro, escrito por André Barcinski e Ivan Finotti, foi publicado originalmente em 1998 mas ganhou uma nova versão com 200 páginas a mais pela editora Darkside — agora são macabras 666 páginas. A biografia detalha a jornada de José Mojica Marins, figura máxima do terror nacional, na produção de clássicos como “À Meia-Noite Levarei Sua Alma” (1964) e “O Despertar Da Besta” (1969). Com fotos de bastidores inéditas e capa dura, a leitura é a maneira perfeita de se aterrorizar com a genialidade de Zé do Caixão.
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Rita Lee
Chocando as pessoas da sala de jantar desde 1947
A ovelha negra mais bem sucedida do Brasil narra sua história em uma autobiografia tão honesta que pode ser confundida com algo “não-oficial”. A vida da vocalista dos Mutantes, uma das bandas mais revolucionárias do rock brasileiro, é esmiuçada ao longo de mais de 300 páginas de muito porre, loucura e sabedoria. A prisão, os romances, a família, os fracassos e os sucessos são contados em uma jornada psicodélica. “Rita Lee: Uma Autobiografia” (Globo Livros, 2016) foi um sucesso estrondoso de vendas no Brasil, o que explica o porquê de seu reinado ser longo.
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5
Fernanda Young
Fernanda Young desafia homens e mulheres em textos autobiográficos
“Pós-F: Para além do masculino e feminino” (Leya, 2018) talvez não seja uma biografia propriamente dita, mas desde quando Fernanda Young é conhecida por respeitar regras? A escritora por trás de séries de TV como “Os Normais”, “Minha Nada Mole Vida” e “Como Aproveitar o Fim do Mundo” reflete, em textos autobiográficos, o que é ser mulher e o que é ser homem nos dias de hoje. Em sua primeira obra de não-ficção, a escritora se calcou no não pertencimento — sentimento presente por toda sua vida — para realizar uma análise pós-feminista sobre seus sentimentos e suas vivências.
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6
Elke Maravilha
Os mistérios, finalmente revelados, de uma das mais extravagantes figuras da cultura brasileira
A vida de Elke Maravilha sempre foi envolta em mitos e histórias fantásticas. A realidade nua e crua não daria conta do espetáculo que foi a apresentadora de TV mais chamativa do Brasil. Suas roupas extravagantes influenciaram a cultura LGBT brasileira e coube ao jornalista Chico Felitti desvendar os inúmeros mistérios deixados por Elke. Ela era Russa? Alemã. Foi convidada pelo produtor do Chacrinha para estrelar um programa na TV? Não foi bem assim. Foi despatriada pelo regime militar? Mais ou menos. Esse e outros segredos são revelados em “Mulher-Maravilha” (Storytel, 2020), a biografia de Elke em audiobook que celebra a vida de uma das mais icônicas figuras da televisão nacional.
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7
Nelson Rodrigues
A revolução teatral do reacionário Nelson Rodrigues
Seja com peças, livros ou adaptações de suas obras, Nelson Rodrigues é capaz de gerar polêmica mesmo morto há mais de 30 anos. Conhecido pelo sexo e pela morte — elementos quase sempre interligados em seus romances — coube ao biógrafo Ruy Castro desvendar o gênio do escritor pernambucano. Por meio de centenas de entrevistas, Castro detalha a trágica vida da família Rodrigues para explicar as obras revolucionárias do autor reacionário. A paixão pelo futebol e o início da carreira no jornalismo criminal complementam a narrativa de “O Anjo Pornográfico” (Cia. das Letras, 1992), biografia definitiva de um dos maiores escritores brasileiros.
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Jô Soares
Os beijos do gordo que marcaram as madrugadas da TV brasileira por décadas
Não é todo mundo que tem uma vida interessante o suficiente para ter uma biografia. Jô Soares, entretanto, tem tantas histórias para contar que publicou sua autobiografia em dois volumes. “O Livro de Jô – Volume 1 e Volume 2 ” (Cia. das Letras, 2017 e 2018) contam a história do homem que se tornou sinônimo de entrevista no Brasil. A primeira parte foca na juventude e no começo da carreira de Jô , já o segundo livro conta os bastidores de uma das trajetórias mais bem sucedidas do show business brasileiro. Escrito em colaboração com o jornalista Matinas Suzuki Jr., a biografia é uma celebração do homem que marcou as madrugadas brasileiras por décadas.
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Raul Seixas
O cowboy fora da lei do rock nacional
Nascido há mais de 10 mil anos atrás, Raul Seixas é um dos maiores ícones do rock brasileiro. O Maluco Beleza ganhou sua primeira biografia das mãos do escritor e crítico musical Jotabê Medeiros em “Raul Seixas: Não Diga Que A Canção Está Perdida”(Todavia, 2019). A vida de Raulzito é o foco de um livro que não tem medo de ir fundo: os problemas com drogas e bebida, as filosofias esotéricas e até mesmo uma possível traição ao seu maior parceiro, Paulo Coelho, são exploradas nas 416 páginas que compõem o livro. Um olhar sincero sobre a vida do Maluco Beleza.
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Elza Soares
A mulher do fim do mundo e sua voz do milênio
“Não tenho vergonha de dizer que sofri, que fui pobre, que limpei o chão, não tenho vergonha de nada. Muito pelo contrário. Isso me dá força, coragem”, disse Elza Soares no lançamento de sua biografia em Portugal. A afirmação forte só poderia ser de alguém que sustenta o título de “Mulher Do Fim Do mundo” com uma leveza ímpar. A biografia, escrita pelo jornalista e apresentador Zeca Camargo, caminha da infância pobre ao sucesso internacional — Elza foi eleita a cantora brasileira do milênio pela BBC — como história oral contada pela própria cantora. “Elza” (Leya, 2018) aborda machismo e racismo e exalta a vida e a obra da mulher que, assim como alguns vinhos, parece ficar melhor a cada ano que passa.