Escritoras unidas para clique histórico — Gama Revista
Mariana Vieira Elek

Escritoras unidas para clique histórico

Fotógrafa Mariana Vieira Elek narra os bastidores da manhã no Pacaembu que reuniu centenas de autoras para registro inédito

Ana Elisa Faria 14 de Junho de 2022

“Viva a escrita feita por mulheres!”, bradou Giovana Madalosso segundos antes do clique histórico realizado por Mariana Vieira Elek na manhã do último domingo (12) no Pacaembu, durante A Feira do Livro, evento organizado pela revista Quatro Cinco Um. À frente das lentes da fotógrafa, mais de 400 autoras, quase 500, ocupavam um pedaço da arquibancada do estádio para a releitura de “Um Grande Dia no Harlem” (1958), clássica foto de Art Kane com célebres jazzistas da época.

Na versão paulistana, feminina e feminista, em vez de músicos, estavam ali escritoras, brancas, pretas, trans, jovens e idosas, conhecidas e (ainda) desconhecidas, de vários gêneros, para festejar as mulheres na literatura, que, de alguns anos para cá, têm ocupado mais prateleiras e conquistado maior visibilidade. Elas se reuniram após um chamamento realizado por Madalosso e Natalia Timerman, em conjunto com a equipe da Quatro Cinco Um.

 Mariana Vieira Elek

“Foi feérico, mágico”, descreveu Mariana para a Gama, um dia após o retrato ganhar as redes sociais e os jornais do país. “Ainda estou processando tudo, foi um grande clarão de emoção”, diz, brincando com termos comuns ao seu ofício. Ela conta que, coincidentemente, está lendo “Tudo sobre o Amor: Novas Perspectivas”, de bell hooks, e o trabalho, marcado para o Dia dos Namorados, a encheu de amor. “Só senti amor por todas aquelas mulheres que saíram de casa no domingo cedo e estiveram sob o sol por algumas horas.”

Inspirações e acasos

Outra coincidência destacada por Mariana é que a imagem inspiradora de Kane faz parte do seu cotidiano: um quadro com a foto famosa dos anos 1950 fica pendurado em uma parede do seu escritório, em casa. “Achei meio místico até. No meu dia a dia, vivo brincando com os meus filhos, apontando quem é quem.” Os filhos da fotógrafa, aliás, são sobrinhos-netos de duas escritoras veteranas, Ana Maria Machado e Ruth Rocha. “Infelizmente, elas não puderam fazer parte da foto, mas, de algum modo, estavam ali presentes através de mim.”

Fã de futebol e admiradora da obra de Thomaz Farkas, a artista visual relata que a foto, inicialmente, seria feita em um dos escadões que rodeiam a praça Charles Miller, que abrigou a feira, mas devido ao grande número de escritoras que confirmaram presença o local mudou, por ideia dela, para as escadas internas do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho.

De acordo com Mariana, a nova localização – liberada prontamente por Rafael Carneiro Bastos de Carvalho, arquiteto e representante legal da concessionária Allegra Pacaembu – a lembrou das fotos icônicas que Farkas fez no Pacaembu, de torcedores e jogadores, em preto e branco, formato também escolhido por ela.

Diga xis

Das 9h30, horário que chegou para se preparar para o evento, até os últimos cliques, às 13h30, Mariana andou, abaixou, levantou, trocou as lentes da câmera várias vezes e se pendurou na grade da arquibancada – sempre supervisionada pelo Corpo de Bombeiros. No entanto, o registro final, aquele escolhido para a divulgação, foi feito de uma maneira bem inusitada, com a fotógrafa em cima das costas de um bombeiro que trabalhava para garantir a segurança de todas.

A fotógrafa Mariana Vieira Elek durante a produção da foto das escritoras em São Paulo  Daniela Ribeiro

“Na hora, disse: ‘Será que é muito bizarro eu subir no cangote de um bombeiro?’. Imediatamente, passaram um rádio para um bombeiro alto que estava por ali, mais à frente, e ele veio, me carregou, foi super solícito. Dessa forma, foi mais fácil de pegar um ângulo diferente que conseguisse enquadrar todas as mulheres presentes, algumas com crianças e bebês no colo, outras segurando cartazes ou munidas de exemplares dos próprios livros.”

Logo após a grande foto, quando as participantes já deixavam o estádio, Mariana teve mais uma ideia: fotografar apenas as integrantes do coletivo de escritoras negras Flores de Baobá, para reforçar a importância da equidade racial também na literatura.

Sou mulher, mãe, sei muito bem o que nós passamos em relação ao protagonismo; a ausência dele, na verdade

Esse grande dia das escritoras em São Paulo acendeu em Mariana Vieira Elek um desejo de fotografar mais grupos de mulheres. “Quero fazer com jornalistas, com várias profissionais, até juntar todas num grande álbum. Sou mulher, mãe, sei muito bem o que nós passamos em relação ao protagonismo; a ausência dele, na verdade. Foi um momento gigante, muito legal, cheio de encontros e trocas.”

 Mariana Vieira Elek

Vamos galera, mulheres!

A convocatória para o evento em São Paulo ecoou em várias outras cidades do país, como Rio de Janeiro, Vitória, Florianópolis, Recife e Curitiba, e atravessou o oceano Atlântico, chegando a Londres e Lisboa, reunindo centenas de autoras para diversos registros.

Esperamos que o registro incentive muitas outras mulheres a tomar coragem para reivindicar seu espaço também nas livrarias do Brasil

O perfil dA Feira do Livro nas redes sociais celebrou a foto paulistana, mas ponderou: “Embora certamente não represente a totalidade das mulheres na cena literária atual, esperamos que este registro incentive muitas outras a tomar coragem para reivindicar seu espaço também nas livrarias do Brasil — e do mundo — afora!”. Lugar de mulher, afinal, é onde ela quiser.

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