"Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram." Se os sofrimentos desaparecessem, o que seria da arte? É o que pergunta o autor de "Vidas Secas" ao pintor Candido Portinari, em correspondência de 1946. Na carta, disponível no Correio IMS, acervo online organizado pelo instituto, Graciliano Ramos reflete sobre a produção de obras que observam a miséria, e que espécie de arte surgiria numa paisagem sem deformações. "Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças?", questiona o escritor, angustiado, a seu amigo.