Meu maior aprendizado profissional — Gama Revista
Curriculum Vitae

Meu maior aprendizado profissional

Da comida à tecnologia, dos direitos humanos à ciência, seis profissionais contam quais foram os maiores aprendizados que obtiveram ao longo de suas carreiras

23 de Dezembro de 2021
Bruna Rossifini/Adriano Vizoni/Folhapress/Gil Inoue/Divulgação

Seja na hora de redirecionar a carreira, de mudar de emprego ou de procurar novas oportunidades, bons conselhos são extremamente importantes em tomadas de decisão relacionadas ao futuro profissional de alguém. E não importa de qual seja a área de atuação, um bom profissional pode ter uma visão valiosa para nos ajudar a ver um caminho diferente e melhor.

Ao longo de 2021, Gama entrevistou profissionais das mais variadas áreas e buscou, por meio de suas trajetórias profissionais, bons conselhos que podem funcionar como filosofia de trabalho. Do vinho ao sorvete, da diversidade aos direitos humanos, seis profissionais compartilharam suas histórias e contaram quais foram os maiores aprendizados que obtiveram ao longo de suas carreiras.

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    ‘Ninguém é só bom ou ruim. É preciso ter a percepção do porquê chegamos aonde estamos, e a partir disso buscar transformar esses espaços’

    Clara Serva, head de empresas e direitos humanos na TozziniFreire

    “O primeiro aprendizado foi ouvir empaticamente as pessoas, uma coisa que a gente chama de escuta ativa. O que entendi ao longo do tempo é que ninguém é só bom ou ruim. A mulher racista pode ser superengajada na militância contra o machismo. O homem machista pode ser sensível à temática das pessoas com deficiência. Os conflitos e as injustiças são formados por pessoas. Só entendendo suas potencialidades e qualidades, e das instituições que elas ocupam, conseguimos enxergar formas de transformar e evitar injustiças. Não pode se calar, mas sim, com empatia, tentar construir e transformar. Sem achar que todo mundo está de má-fé ou que as coisas precisam continuar como estão. Por exemplo, espaços corporativos não devem se manter iguais só porque a maioria das empresas ainda é branca, cis, hétero etc. É preciso ter a percepção do porquê chegamos aonde estamos, e a partir disso buscar transformar esses espaços.”

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    ‘Não se deve desistir diante dos reveses e obstáculos’

    Anderson F. Brito, virologista, pós-doutorando na Universidade Yale, nos EUA e um dos especialistas brasileiros mais consultados na pandemia

    “Uma coisa que ficou clara na minha carreira é que a gente não deve desistir diante dos reveses e obstáculos – eu tropecei muitas vezes com reprovações e notas ruins. Nesse contexto, nunca apostava todas as minhas fichas numa coisa só. Em cada momento de transição, como da graduação para o mestrado, eu sempre tinha pelo menos duas opções caso uma não desse certo. Outra coisa que aprendi foi a não me subestimar e não me deixar consumir por essa síndrome de vira-lata que pode acometer alguns brasileiros. Eu tive o privilégio de ir para fora e ver que eu tinha muito potencial e não deveria duvidar disso. Tem muita gente brilhante no Brasil que, até por todos esses cortes na área da ciência, não têm essa oportunidade. Além disso, em termos de progressão de carreira, aprendi que é interessante guardar meus planos para mim mesmo e para as pessoas em quem eu confio e sei que vão me apoiar. Porque quando a gente anuncia por aí nossos planos antes que eles se concretizem, podem aparecer pessoas que vão questionar nossa capacidade e nos desencorajar.”

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    Gil Inoue

    ‘Existem muitas conexões e possibilidades valiosas para entender o mundo por meio de um assunto’

    Gabriela Monteleone, head sommelier e wine director do Grupo D.O.M.

    “Para mim, o grande aprendizado foi entender que o vinho é um alimento, que existem muitas conexões e possibilidades valiosas para entender o mundo através dele. É uma bebida extremamente importante para a humanidade por vários fatores. Ela é uma das grandes monoculturas do mundo, uma das agriculturas mais antigas da humanidade, com grande impacto econômico e ambiental. Só isso já representa muita coisa. Aprendi a sair desse lugar de somente tomar um vinho e sentir o tanino, a acidez ou o cheiro de fruta vermelha. Aprendi a tomar um vinho e entender qual o lugar em que ele está, a realidade, as dificuldades, desafios e superações das pessoas que fizeram aquele vinho. A coisa mais valiosa foi ter essa tomada de consciência.”

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    ‘Eu não consigo vender nem um picolé sem ter propósito’

    Francisco Sant’ana, fundador da Escola Sorvete, projeto social e escola que forma microempreendedores e incentiva sorveteria genuinamente brasileiras

    “O mundo do sorvete é muito pequeno: são poucas empresas que fazem máquinas, há poucas formações e fornecedores independentes. Eu tive que provar que não precisa ser branco e italiano pra falar do assunto – e hoje eu vendo sorvete até na Sibéria. Para isso, eu sempre foquei em entender o sistema de vendas mais adequado para cada lugar, além da cultura local em relação ao consumo de sorvete. Isso tem a ver com minha formação como geógrafo, entender o humano e o espaço. Aqui eu faço todo funcionário meu assistir o documentário ‘O Povo Brasileiro’, do Darcy Ribeiro. Eu formei minha personalidade lendo gente que foi contra o sistema, eu não consigo me enquadrar no sistema – eu sou rebelde mesmo, e eu sofro muito com isso. Às vezes eu acordo pensando: ‘mais um dia contra tudo que está aí’, como dizia o Brizola. Eu poderia ser só sorveteiro, dar minhas aulas, ser um sujeito isento, ganhar meu dinheiro, e tá tudo certo. Mas eu não consigo, minha natureza não é essa. Eu não consigo vender nem um picolé sem ter propósito.”

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    Adriano Vizoni/Folhapress

    ‘Não é um modelo que concentra riqueza que vai gerar distribuição de riqueza’

    Gustavo Glasser, fundador da Carambola, startup que leva diversidade ao mercado de tecnologia

    “Um grande aprendizado foi quando entendi que não precisava fazer as coisas do jeito que as pessoas me diziam que tinha que fazer. Isso foi o que mais mudou minha cabeça e a direção da minha carreira. As pessoas podem me perguntar por que criei um modelo totalmente diferente, sendo que existem outros já prontos. Mas se fizer da forma como as coisas já foram feitas, vou cair no mesmo buraco. É burrice pensar que, se quero acabar com a desigualdade social, tenho que reproduzir um modelo de empresa que existe hoje. É esse modelo que causou a desigualdade. As pessoas não têm água, sabe? Não é um app como o Uber que vai resolver esse problema. Não é um modelo que concentra riqueza que vai gerar distribuição de riqueza. Durante toda a minha vida, achei que eu não podia fazer diferente porque ‘não é assim que as coisas funcionam’. Mas partindo de que ponto? Deixamos que as pessoas coloquem verdades na gente que nem sei se são realmente verdades. Temos que encontrar as nossas. Você vai sofrer consequências disso? Claro que vai, mas seguir o caminho da verdade dos outros também vai trazer consequências. Então, meu maior aprendizado é que arco com as consequências das minhas próprias verdades, e não vou mais arcar com as consequências das verdades dos outros.”

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    Bruna Rossifini

    ‘Não é só contratar mulheres, pessoas negras e LGBTs. Precisa transformar o ambiente, que ainda é hostil, antes que elas cheguem lá’

    Ana Bavon, sócia fundadora e diretora executiva da consultoria B4People Cultura Inclusiva

    “Não é só contratar mulheres, pessoas negras e LGBTs. Precisa transformar o ambiente, que ainda é hostil, antes que elas cheguem lá. E para isso é necessário um trabalho complexo, longo, custoso e dolorido. Antes esse assunto era muito uma questão de causa, de bandeira, coisa de voluntariado. Era uma pauta encarada com superficialidade, um lugar muito mais de ‘parecer’ do que de ‘ser’. Hoje eu vejo o interesse das empresas aumentou muito, meu crescimento na pandemia foi exponencial. Muito porque a gente tem um ambiente de negócios que não admite mais que não haja investimentos em gestão de diversidade. Todas as engrenagens precisam ser observadas para que elas rodem na mesma lógica. Então trabalhamos com as presidências e diretorias para que isso cascateie para o resto da empresa.”

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