Aprenda a falar bem para uma multidão virtual
O medo de falar em público é maior do que ser enterrado vivo ou de um apocalipse. Para driblar a ansiedade e o terror de discursar para muitas pessoas por uma tela, siga essas dicas
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Faça um roteiro em tópicos, mas não um discurso (pode ser chato assistir alguém lendo) –
Ao se dirigir a um grupo grande de pessoas, um bom planejamento serve como bote salva-vidas. Nessa preparação, são três passos principais: roteiro, ensaio e estudo do público. O roteiro deve ser curto: resuma em 15 palavras a mensagem que quer passar, e não a perca de vista. Evite escrever tudo que irá falar, se não vai ter que recorrer demais à leitura e o discurso acaba engessado e monótono. Invista no ensaio e, se tiver coragem, grave: por mais que possa causar certa vergonha, assistir a si mesmo ajuda a perceber erros e vícios de linguagem, e a pensar em mudanças. Mas antes do conteúdo, é importante preocupar-se com o receptor da mensagem. “Antes do ‘o que eu vou falar’ tem o ‘para quem eu vou falar’. ‘O que’ depende de ‘para quem’”, diz a palestrante e campeã mundial de oratória Lena Souza. Para ela, antes de definir o assunto e maneira de transmiti-lo, é essencial conhecer o público e estudá-lo, para entender suas expectativas, necessidades e realidade. “Se não, a pessoa fala, fala, fala e não conecta com o outro, não engaja.” -
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Falar em público pode causar medo. Alongue-se e relaxe antes de começar –
Em 2013, uma pesquisa da empresa britânica OnePoll perguntou a 2 mil voluntários o que mais lhes causava terror. Falar em público ficou atrás apenas do medo de perder entes queridos, e superou o de ser enterrado vivo, de fogo e até de um apocalipse. Uma atividade que causa tanto pavor merece uma breve sessão de descontração, o que diminui a tensão do momento e pode até melhorar a performance. “O medo encolhe nosso corpo. Toda vez que você vai se comunicar, parte da mensagem chega antes de abrir a boca. É o olhar, o tronco, o ombro, o enquadramento. Tudo comunica, até por meio tela”, diz Lena Souza. Por isso, antes de suas palestras, ela mesma reproduz a dica: põe som na caixa e faz uma série de alongamentos para aliviar a tensão e assim melhorar a expressão corporal durante a fala em público. -
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Proponha interações para “acordar” um público já cansado das telas –
Quem nunca entrou em uma live, reunião ou treinamento virtual e logo nos primeiros segundos já se distraiu e recorreu à tela do WhatsApp? “O maior desafio hoje é prender a atenção das pessoas”, diz Lena Souza. E ela tem razão: de acordo com uma pesquisa canadense, o tempo de atenção do ser humano é hoje de apenas 8 segundos. Em tempos de overdose de telas, pode ficar ainda mais complicado manter o foco de um grupo grande de ouvintes apenas pela imagem e fala. Por isso, a dica é inovar: “Abuse um pouco, quebre padrões. Crie um cenário diferente, planeje interações ao longo do discurso, proponha atividades, instigue a curiosidade do público”, sugere Lena, que ressalta a importância de um bom enquadramento, luz e som. “Precisa cuidar desses detalhes. Sempre indico falar direto com a lente, não com a tela, porque soa mais persuasivo, e a pessoa sente que você está falando diretamente com ela.” A fonoaudióloga Michelle Uguetto acrescenta: “A linguagem não verbal é muito importante para a comunicação. Uma dica é manter a câmera na altura dos olhos — deixá-la acima do olhar passa uma ideia de arrogância, e abaixo, de insegurança. São detalhes que podem comprometer a mensagem transmitida.” -
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Module o tom de voz e encontre a melhor velocidade para a fala –
De acordo com Michelle Uguetto, a voz que transmite confiança é a que possui tom mais grave. Uma fala muito veloz passa ansiedade ao interlocutor e uma fala lenta demais exala monotonia. Por isso, “o ideal é manter uma voz grave com modulações no tom, bem como variações de velocidade, para gerar uma fala mais interessante e envolvente”. Apresentações para públicos gigantes, como o icônico discurso de Martin Luther King, “Eu Tenho um Sonho”, para 200 mil pessoas, são mais lentas: variam de 130 a 170 palavras por minuto. Mas em uma reunião virtual, live ou videoconferência, o indicado é diminuir o ritmo ao se aproximar de um tema espinhoso ou conceitos mais complicados, que demandam calma e cuidado na explicação. E acelerar a fala para construir o clímax do discurso, contar uma piada, ou abordar temas mais tranquilos. -
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Encare a experiência como uma oportunidade, não como uma ameaça –
Antes de uma situação de extrema ansiedade como falar em público, principalmente no caso de pessoas mais tímidas, é normal buscar por um refúgio: meditação, exercícios de voz, uma caminhada para liberar a adrenalina acumulada. Mas pode ser que a tentativa de permanecer tranquilo e sereno não seja a melhor maneira de evitar a ansiedade. A tese soa contraditória, mas tem fundamento: em uma série de estudos da psicóloga americana Alison Wood, em que analisou 450 voluntários antes de performances públicas, ela percebeu que as pessoas que abraçavam a ansiedade e a transformavam em empolgação, tinham a tendência de encarar a situação como oportunidade, e não ameaça. Assim, realizavam melhores performances do que os que tentavam a todo custo permanecerem calmos. Para evitar que a ansiedade transpareça na fala, a fonoaudióloga Michelle Uguetto indica vibrar língua e lábios por um minuto antes do discurso, o que contribui no controle da voz e pode frear tremulações.