E um drinquezinho nesse calor?
Se celebrar as festas e aproveitar o verão parecem missões impossíveis, essas dicas e receitas devem ajudar a refrescar a cabeça e animar o espírito
Este foi um ano tão atípico que é até difícil falar sobre a temporada de “festas” de fim de ano. “Que festas?”, você pode se perguntar (e eu me pergunto também). Da mesma forma, é difícil imaginar (e celebrar) um verão enclausurado. Mas, como estamos há poucos dias dele — que começa em 21 de dezembro –, o jeito é se preparar como dá. Uma ideia é ressignificar a estação e o conceito de festa, e aproveitar o calor e o que sobrou do espírito de celebração com um drinque na mão — feito por você mesmo.
Um bom coquetel de verão é feito de dois predicados, além de muito gelo: refrescância e leveza. E isso se consegue com a mistura exata de ingredientes e com diluição. “A gradação alcoólica baixa vai fazer com que ele seja mais fácil”, afirma Ingrid Shindo, bartender do Caracol, no centro de São Paulo. Entre os ingredientes, caem bem frutas cítricas e tropicais, ervas frescas, especiarias para temperar e até raízes e flores para dar um toque exótico. No lado dos alcoólicos, além do destilados, pode-se testar outros como aperitivos, vermutes e alguns estilos de vinho.
Gama ouviu especialistas em bebidas para saber o que faz um bom drinque de verão e como prepará-los em casa. De quebra, ainda reuniu as receitas que você lê ao fim deste texto.
Tá com sede? Bebe água (de coco, com gás, tônica)
Talvez você tenha alguma lembrança de infância que inclua um parente mais velho bebendo uísque com água de coco. Essa sabedoria ancestral tem tudo para ser resgatada neste verão, uma vez que a água de coco tem se mostrado um excelente insumo para a coquetelaria. Pode ser na forma de gelo ou como ingrediente para mistura, o importante é não subestimar jamais o poder do coco.
A carbonatação também é amiga da refrescância e por isso a água com gás vira parte do elenco fixo no seu bar caseiro. Isso sem falar na água tônica, que vive dias de glória ao lado do gim — mas que pode muito também com outras companhias.
Nem só de destilado vive um coquetel
“Destilado é destilado”, afirma a consultora Isadora Fornari, que lembra que não há um mais veranil que outro, todos podem ser bons para o calor se usados com a mistura e nas proporções certas. “Um uísque pode ficar muito legal em um drinque de verão. Em Santa Catarina, fizemos o Giramundo, que mistura uísque e cachaça com tangerina e ficou sueprfrutado, dá vontade de tomar de balde”, ela afirma sobre a receita abaixo.
Mas, embora sejam quase sempre os protagonistas, os destilados podem dar a vez a outros alcoólicos. Vinhos espumantes, Jerezes e vermutes podem e devem ser explorados como alcoólico principal. “Sempre penso em vermute com água com gás, tônica ou espumante. Pode incluir ainda um amaro e um toque cítrico”, afirma Alexandre D’Agostino, da linha de negronis prontos e bar Apothek. Ele sugere a proporção de duas partes de tônica para uma de Jerez, do vermute ou do aperitivo (Campari, Aperol, etc.).
“Eu iria de espumante, ainda mais que estamos no fim do ano. É festivo, leve, pouco alcoólico. Dá para fazer mil variações do Spritz [espumante, aperol, gelo e uma fatia de laranja-baía]”, afirma Gabriel Santana, do Santana Bar.
Maurício Barbosa, bartender do Tujuína, virou um aficcionado dos vinhos de Jerez. “É a melhor dica que posso dar. Ele é perfeito para os drinques refrescantes, tem muita adstringência, muita acidez e é menos alcoólico. Um Jerez tônica com uma casca de laranja ou limão e gelo é simples e delicioso”, afirma.
É verão, mas pode ser amargo (e bom)
O gin tônica e o negroni foram os dois grandes pioneiros para a festa do amargor (sem trocadilhos) que se abateu sobre a coquetelaria. “Tudo era doce e frutado e de repente a gin tônica mostra um mundo de possibilidades”, afirma Alexandre D’Agostino. Segundo ele, as tônicas podem dar a tônica do verão. “Com menos açúcar, os drinques ficam ainda mais leves. Na Itália bebe-se assim há muito tempo”, afirma e indica que elas são boas para diluir bebidas mais complexas como os vinhos de Jerez sem que elas percam suas características.
Também amargos, os aperitivos italianos, que ficaram superpopulares nos últimos anos, vão bem justamente com ela, a tônica. E muito, muito gelo. E, quem sabe, uma rodela de limão.
Não se preocupe se não leu ainda a palavra açúcar neste texto. Ele é muito usado na coquetelaria para dar corpo às bebidas. No verão, na busca pela leveza, pode ser dispensável.
Da horta, com muito gelo
Manjericão, alecrim, hortelã e até coentro (sim, o polêmico coentro também virou ingrediente de coquetelaria) podem dar um toque herbáceo e exótico às bebidas. Como são muito delicadas, o ideal é que estejam frescas e que sejam manipuladas apenas na hora de entrar na coqueteleira. “Bata com gelo e depois coe. No movimento, elas soltam todos esses aromas”, afirma Gabriel Santana. Ele alerta, no entanto, para nunca cozinhar as ervas na tentativa de fazer um xarope. “Já estraguei muita hortelã nessa vida”, conta. E infusão, recomenda só a frio.
Assuma o tamanho da sua sede
Se há mais de um bebedor para saborear o coquetel, talvez seja melhor assumir a sede e usar uma jarra para preparar a receita. “Pode ser até a jarra do liquidificador que ajuda por já trazer as medidas marcadas. Dá menos trabalho e funciona muito na proposta de drinque fácil”, diz Isadora Bello Fornari.
Drinques clássicos de jarra, como sangrias, clericot e ponche (tem este aqui natalino), são outra boa pedida.
Giramundo
Coquetel assinado pela equipe do Bar Cauim, na Praia do Poá (SC) indicado por Isadora Bello Fornari
30 ml de bourbon
20 ml de cachaça envelhecida em amburana
20ml de xarope simples (uma parte de água para uma parte de açúcar) 10ml de limão
100 ml de suco de tangerina
Molhe a borda de um copo e aplique coco queimado. Encha o copo de gelo e junte dos os ingredientes. Misture com uma colher e sirva. Se quiser fazer uma quantidade maior, multiplique as quantidades por cinco ou seis e prepare em uma jarra.
Chevette
Releitura de drinque popular servido no Gem Mini Bar, de Salvador, criado por Talita Simões, Stephanie Guimarães, Daniel Anjos e Isadora Bello Fornari
50 ml cachaça branca
25 ml sumo de limão
25 ml de xarope baunilha (xarope simples de açúcar com adição de essência de baunilha)
25 ml de água de coco
25 ml de água com gás
Casca e de limão e bala de goma para decorar
Misture todos os ingredientes em um copo de uísque com gelo. Decore com uma casca de limão e uma bala de goma.
Shisolada
Criado por Maurício Barbosa, do Tujuína, de São Paulo
45 ml de gim (pode usar um mais cítrico)
1 1/2 folha de shisô
20 ml de xarope de mel com infusão de rosas
1 colher de sopa de água de rosas
15 ml de suco de limão
30 ml de jerez
Macere as folhas de shisô (pode dobrá-las umas seis vezes para que liberem bem os aromas). Para fazer o xarope de mel, use uma parte de mal para a mesma de água quente e use pétalas de rosas comestíveis para aromatizar. Depois, leve todos os ingrediente à coqueteleira com gelo. Sirva em copo baixo com gelo e decore com folha de shiso e casca de limão.
Highball Green Apple
De Ingrid Shindo, bartender do Caracol Bar, em São Paulo
50 ml de scotch uísque
15 ml suco de limão
30 ml de cordial de maçã verde*
Água com gás
Junte todos os ingredientes em um copo água com gelo. Complete com água com gás, misture. Use fatias de maçã verde para decobrar.
*Para fazer o cordial, bata 750 g de maçã verde, 100 ml de xarope de mçã verde, 100 ml de licor de maçã verde, 150 g de suco de pera no liquidificador e coe.
Fresh Passion
Receita de Gabriel Santana, do Santana Bar em São Paulo
20 ml Fernet Branca
30 ml maracujá (fruta)
3 folhas de hortelã
1 colher de açúcar (opcional)
50ml espumante
Bata tudo na coqueteleira com bastante gelo. Coe e sirva em uma taça e complete com espumante.