Evento debate o futuro e os desafios da filantropia com participações globais
Em sua terceira edição, o Filantropando, do Instituto Beja, busca ir além do imediatismo e discute estratégias para um terceiro setor mais atual e tecnológico
Ainda é comum enxergarmos a filantropia como uma ação instantânea e que tem um fim em si mesma. Ou seja, algo simples como doar dinheiro ou recursos materiais aos mais vulneráveis, prestar apoio às vítimas de uma tragédia, contribuir ocasionalmente com alguma causa social. E sim, a filantropia também engloba e depende de tudo isso, mas não só.
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Foi para discutir aquilo que vai além da ajuda imediata, espontânea e desestruturada que o Instituto Beja — organização que propõe um ecossistema filantrópico mais fortalecido, inovador e colaborativo no Brasil — criou em 2023 o movimento Filantropando.
“O Filantropando nasceu como um espaço seguro, com a participação de filantropos e empreendedores sociais num mesmo lugar, para a troca de ideias sem restrição sobre assuntos desafiadores para a filantropia, que não estão na pauta do dia a dia: a questão racial, climática, da justiça social… Sempre com uma visão mais ampla e recursos próprios”, aponta a idealizadora e presidente do Instituto, Cristiane Sultani.
A terceira edição do evento acontece nesta terça-feira (5) com um olhar todo voltado para aquilo que está por vir. Com o tema Imaginar Futuros, o encontro traz ativistas, estudiosos e empreendedores sociais do Brasil e de outros países, que fazem trabalhos de destaque no terceiro setor.
O Filantropando nasceu como um espaço seguro para a troca de ideias sem restrição sobre assuntos desafiadores para a filantropia
Em três painéis que abordam pontos diferentes desse ecossistema, os convidados debatem formas de ressignificar a filantropia, remodelando os processos e caminhos tradicionais, por meio da colaboração e co-criação. Todos eles são mediados pela co-fundadora, diretora geral e publisher da Gama, Paula Miraglia, que é também fundadora da Journalism & Tech Task Force — iniciativa global com sede no Brasil, que tem a proposta de refletir sobre os desafios da mídia relacionados às tecnologias.
Serão dois eixos principais de diálogo: a filantropia e os futuros possíveis, futuros emergentes, futuros ancestrais; e tecnologia para transformar. “A proposta este ano é pensar futuros e contar com a imaginação coletiva para delinear caminhos de forma mais prospectiva, intencional e menos reativa aos problemas que a filantropia se dedica a responder”, afirma a curadora Graciela Selaimen, co-fundadora do Instituto Toriba. “É uma oportunidade de trazer pessoas de outros lugares do mundo e instituições filantrópicas que já estão fazendo isso.”
Para explorar a fundo a amplitude desse desafio global, o evento vai contar com participantes de diversos países, como Índia, África do Sul, Nigéria, República Tcheca e, é claro, Brasil.
O primeiro painel terá a ativista indígena Josimara Baré, originária da Terra Indígena Cue Cue Marabitana, no Alto Rio Negro, e coordenadora do Fundo Indígena Rutî, em Roraima, num debate sobre filantropia e futuros ancestrais. Quem se junta a esse diálogo é a professora e pesquisadora sul-africana Geci Karuri-Sebina, que ensina governança digital na Wits School of Governance em Joanesburgo. Sebina, também diretora na School of International Futures (SOIF), é reconhecida por seu trabalho em planejamento de desenvolvimento, políticas públicas e inovação.
Outro tema para debate é a necessidade de uma infraestrutura que permita florescer a criatividade e a expressão. O diálogo conta com a líder e empreendedora social Yoanna Okwesa, fundadora do hub criativo The Assembly, que apoia empreendedores da África e da diáspora em negócios sustentáveis, e colaboradora do fundo de justiça racial Baobá. Ela debate com Ondřej Liška, ex-ministro da Educação da República Tcheca e diretor regional da Europa na Porticus, organização filantrópica global dedicada a promover um futuro mais justo e sustentável.
“Nos últimos anos, vivemos uma aceleração de múltiplas crises que se misturam. Crise climática e econômica, guerras, um adoecimento geral da população e os desafios de uma tecnologia que a gente ainda desconhece e não tem certeza de para onde vai”, exemplifica a curadora. E é de uma das maiores dúvidas atuais sobre a tecnologia que trata o painel que encerra o evento: a filantropia no mundo da Inteligência Artificial.
É mais importante do que nunca não apenas olhar para o presente, que é o que a filantropia e o ativismo já fazem, mas para como identificar novas dinâmicas e possibilidades no horizonte
Participam do último debate nomes de peso, como o empreendedor indiano Sanjay Purohit, CEO do Centre for Exponential Change e curador do Societal Thinking, que propõe resolver desafios sociais complexos de forma rápida, em escala e sustentável. Também integram a conversa o pesquisador, tecnólogo, professor de Mídia Global e diretor do Digital Narratives Studio na Universidade Chinesa de Hong Kong, Nishant Shah, e a professora e pesquisadora brasileira Nina Santos, uma das maiores referências no combate à desinformação no país, diretora do Aláfia Lab e pesquisadora no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital.
Para Selaimen, os debates devem escancarar a necessidade cada vez mais urgente de ir além do aqui e agora no terceiro setor. “É mais importante do que nunca não apenas olhar para o presente, que é o que a filantropia e o ativismo já fazem, mas para como identificar novas dinâmicas e possibilidades no horizonte, estendendo esse olhar para uma maneira de pensar e atuar a longo prazo”, declara.
O Filantropando é um evento fechado, mas o conteúdo dos debates será disponibilizado posteriormente para o público geral. Os diálogos também servirão de base para reportagens publicadas pela Gama explorando o universo da filantropia, numa parceria com o Instituto Beja, que contempla ainda a publicação de uma edição temática da revista e de 12 colunas escritas por convidados da organização.