Eleições americanas — Gama Revista

Eleições americanas

Repórter do Washington Post em Brasília, a jornalista Marina Dias indica conteúdos para compreender melhor o atual pleito nos Estados Unidos e a crise democrática norte-americana

Ana Elisa Faria 04 de Novembro de 2024

Em uma disputa acirrada entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump, os Estados Unidos vão eleger, a partir desta terça-feira (5), quem assumirá a Casa Branca em 20 de janeiro de 2025, substituindo o presidente Joe Biden.

A corrida para escolher o 47º ocupante do cargo mais poderoso do mundo é uma das mais concorridas da história americana, com índices de pesquisas variando dia a dia, o que, muito provavelmente, levará a um resultado definido voto a voto.

Com um sistema indireto de votação decidido pelo Colégio Eleitoral — em que nem sempre a pessoa mais votada pela população na eleição presidencial é quem leva —, bastante diferente do brasileiro, em um cenário de polarização com uma extrema-direita radical, a democracia do país está em risco. A fim de compreender melhor o que está em jogo no atual pleito nos EUA, conhecer os principais personagens e a crise democrática por ali, Gama convidou a repórter do Washington Post em Brasília, Marina Dias, para indicar cinco conteúdos culturais para entender as eleições americanas.

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    “As Verdades que Nos Movem” (Intrínseca, 2021), de Kamala Harris

    “O livro foi lançado nos Estados Unidos em 2019, quando Kamala se preparava para concorrer nas primárias democratas para se candidatar à Casa Branca em 2020. Ela queria se projetar nacionalmente por ainda ser pouco conhecida — na época, Kamala estava no primeiro mandato como senadora; antes, foi procuradora na Califórnia. É uma leitura interessante porque todo mundo tem muita dificuldade de definir a candidata. Trump, por exemplo, tem dificuldade em defini-la, até para criticá-la. Kamala é uma progressista radical, socialista, comunista? Ou é uma conservadora? Porque na Califórnia ela foi uma procuradora conservadora, tanto que muitos adversários dizem que ela costuma mudar de opinião a depender da maré. É um bom momento para essa leitura e, assim, entender como ela quer que a gente a entenda. Mas tem um alerta: trata-se de uma autobiografia, ou seja, não vai ter um monte de nuance negativa ou grandes paradoxos.”

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    “As Garotas do Ônibus: Jornalistas de Campanha” (2024), de Amy Chozick e Julie Plec

    “É uma série [disponível na Max] bem novelesca, tem certos exageros, algumas romantizações sobre o trabalho de cobrir uma campanha eleitoral nos Estados Unidos, mas o legal é que a série se inspirou no livro “The Boys on the Bus” (Random House Trade Paperbacks, 2003), do Timothy Crouse, sobre a cobertura jornalística na estrada durante a campanha presidencial de 1972. “As Garotas do Ônibus” mostra quatro mulheres com perfis diferentes: uma é influencer, outra trabalha na TV, tem a jornalista das antigas e a de jornal impresso, meio idealista. As personagens estão cobrindo as primárias democratas, e a gente aprende um pouco sobre como funciona a cobertura da imprensa americana, em que os repórteres vão todos juntos dentro de um ônibus, estado por estado, durante esse período, passando por várias coisas, criando uma relação de amizade. É muito interessante.”

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    Newsletter “Kamala x Trump”, de Fernanda Perrin

    “Uma dica mais factual é a newsletter gratuita da Fernanda Perrin, correspondente da Folha de S.Paulo em Washington. Ela chega toda segunda-feira com informações do dia a dia. A Fernanda escreve de um jeito fácil, às vezes com uma pitadinha de humor. É bom para acompanhar um resumo rápido do que aconteceu na semana anterior. Tem eventos de campanha, os fatos mais quentes e relevantes e pesquisas.”

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    “American Whitelash” (Mariner Books, 2023), de Wesley Lowery

    “‘American Whitelash: A Changing Nation and the Cost of Progress’ é um livro em inglês, mas, na minha avaliação, é uma obra fundamental para entender a eleição mais disputada da história dos Estados Unidos, com a democracia americana sob a maior ameaça desde a Guerra Civil. Ele é a chave para compreender a dinâmica da política norte-americana como uma reação não só econômica, mas social e racial. O Lowery explica que os EUA tiveram o Trump e o crescimento de uma extrema-direita tão raivosa porque elegeram o Obama como o primeiro presidente negro em 2008. Como os americanos chamam, é um backlash, uma resposta forte no sentido contrário. Ele faz essa brincadeira com o whitelash, a reação dos brancos para a eleição do Obama, e explica bem essa correlação de forças, além de escancarar os Estados Unidos como um país racista, mostrando como a extrema-direita tem reagido à democracia multirracial que se formou por lá nos últimos anos. A maioria branca e cristã dos Estados Unidos não é mais maioria, e o livro analisa como esse grupo está reagindo ao fato de ter perdido esse status social dominante.”

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    “A Subversão da Democracia Americana”, de Steven Levitsky para a Folha de S.Paulo

    “É um texto que dá para relacionar com o livro do Lowery. Neste artigo para a Ilustríssima [publicado na versão online da Folha de S.Paulo como ‘Sem reformas, minoria branca e cristã governará os EUA’], o cientista político Steven Levitsky explica por que a eleição de 2024 é a mais disputada, por que a democracia americana está no limite e por que a resposta à crise democrática seria transformar os Estados Unidos em uma democracia de verdade. Ele fala que os EUA, tidos como a maior democracia do mundo, não são uma democracia plena, a começar pelo fato de existir o Colégio Eleitoral. Ou seja, o vencedor de uma eleição presidencial não é necessariamente quem ganhou a maioria dos votos populares, o que é surreal. Além disso, ele explica que o Senado é desproporcional, e uma minoria tem o poder de vetar leis aprovadas pela maioria com um mecanismo chamado filibuster. Levitsky comenta como isso está corroendo a democracia americana, e que se o Trump vencer as eleições será a implosão da democracia dos EUA de uma vez por todas.”

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