Equilibre vida e trabalho (e fuja do burnout)
O trabalho deve ser apenas uma parte da sua vida. Para evitar o esgotamento, siga essas dicas para separar o pessoal do profissional
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Não misture lazer e trabalho, nem abra mão do ócio –
“A vida está além do trabalho”, disse a psicanalista Vera Iaconell, no episódio “Burnout: O esgotamento profissional”, do podcast O Assunto, da Renata Lo Prete. Separar a vida pessoal da profissional, contudo, talvez seja um dos maiores desafios quando o trabalho é a tônica de uma época. Em ensaio para o The New York Times, o escritor Jonathan Malesic falou sobre a importância de criar mais tempo de lazer e trabalhar menos, fazendo o trabalho caber na vida e não o oposto. Nas últimas décadas, os tempos dedicados ao ócio, ao lazer e ao trabalho vêm se confundindo, segundo o sociólogo Túlio Custódio, e a busca pelo propósito se torna mais necessária. Pois fica a dica: ao perceber que as outras áreas da sua vida estão retraídas ou, ainda, que está havendo uma terceirização das tarefas nessas esferas, deve-se prestar atenção: é um alerta amarelo. -
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Não caia na cilada do ‘trabalho dos sonhos’ –
Chegar ao trabalho dos sonhos pode se tornar um verdadeiro pesadelo. Apesar de pessimista, muitas vezes a máxima é verdadeira. Se a geração millennial ou Y – indivíduos nascidos entre 1982 e 1995 – ficou conhecida por buscar propósito no trabalho, é ela também que vem sendo considerada a “geração do burnout”. Segundo pesquisa da Gallup com 7,5 mil trabalhadores americanos, 28% dos millennials relatam sentir burnout, contra 21% das gerações anteriores. Outro estudo, da empresa de seguros Metlife, constatou que 42% de pessoas dessa faixa etária em cargos de gerência relatam cansaço e estresse. Além desses trabalhadores contarem com menor estabilidade na carreira, muitas empresas se aproveitam da paixão dos millennials pela profissão para conceder salários menores e aumentar a carga de trabalho – um verdadeiro caso de relação abusiva. Mas calma: não precisa deixar de buscar realização na vida profissional. Lembre-se apenas de evitar chegar a condições precárias para externalizar críticas e reclamações, e que o trabalho – mesmo aquele que faz mais sentido na sua vida – tem que vir acompanhado de uma rotina saudável. -
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Alimente-se, faça exercício, faça sexo –
“A produtividade impregnou todas as relações”, diz Vera Iaconelli. De acordo com a psicanalista, a execução de outras atividades do cotidiano, como exercício físico, alimentação e até mesmo o sexo, está cada vez mais conectada à eficiência no trabalho. Segundo ela, as ideias de performance e desempenho que se criam também nessas esferas da vida vão fazer com que as relações com o próprio corpo e o lazer se transformem em tarefas. Que tal parar e perguntar para si, hoje mesmo: o que você tem feito por puro e simples prazer? -
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Aconteça o que acontecer, preze por um sono de qualidade –
O sono é responsável por liberar o cérebro das toxinas fruto dos desequilíbrios da vida diária. Em um sistema capitalista agressivo, em que as pessoas são bombardeadas constantemente com excesso de informações e ruídos, privilegiar o “dormir bem” e outras práticas básicas para o bom funcionamento do corpo e da mente é quase um antídoto natural contra o cansaço exacerbado. Em oposição à busca pela produtividade extrema, ao priorizar escolhas como essa, é possível evitar que se chegue ao estágio de exaustão primário do burnout. “Quando você estica a corda até chegar a esse ponto, retornar a um estado fisiológico de produtividade saudável é muito mais complicado. É preciso alertar, então, para a prevenção”, disse a neurocientista Natália Mota, em entrevista a Gama. Afinal, dormir bem, que mal tem? -
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Desconecte-se e volte para a natureza –
À beira de um ataque de nervos – neste caso, no trabalho –, é inevitável buscar ajuda imediata em conteúdos online, sejam filmes, documentários, vídeos, cursos, aulas, livros ou terapias. Mas por que não se afastar um pouco do virtual? Na Semana Gama Bateu a exaustão, uma das dicas da redação foi a obra de Jenny Odell, artista e professora norte-americana, que fala sobre como combater o cansaço, saindo da lógica produtivista capitalista e do mundo digital, e priorizando situações de conexão com as pessoas e o meio ambiente. Vale lembrar que, na pandemia, com o isolamento social e a migração em peso para o home office, houve uma piora na saúde mental da população. Em um estudo global realizado com 15 mil pessoas, 32% declararam se enquadrar nesse cenário, devido ao trabalho à distância. Somado ao estresse da dedicação intensiva às tarefas laborais, a pandemia agravou o chamado “déficit de natureza”, como disse o escritor Richard em entrevista à BBC News Brasil. Segundo o autor do livro “A Última Criança na Natureza”, a proximidade com elementos naturais melhora a produtividade dos trabalhadores e reduz o tempo de afastamento por doenças.