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O mito da beleza

A maquiadora e colunista da Gama indica cinco conteúdos que ajudam a compreender o mito da beleza e esse ideal que controla e limita as mulheres

Amauri Terto 20 de Junho de 2024

Conceito que critica os padrões estéticos impostos pela sociedade, o mito da beleza tem sido amplificado em tempos de redes sociais com seus filtros e edições que promovem imagens idealizadas, afetando a autoestima, identidade e o bem-estar das mulheres. Para explorar essa questão, Gama convidou Vanessa Rozan, maquiadora, apresentadora de TV, curadora de beleza e bem-estar, além de proprietária do Liceu de Maquiagem. Com um mestrado em comunicação e semiótica pela PUC-SP, a colunista da Gama indica cinco conteúdos culturais que ajudam a compreender o mito da beleza e os elementos envolvidos nessa dinâmica que controla e limita as mulheres.

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    “O Mito da Beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres” (Rosa dos Ventos, 2018), de Naomi Wollf

    “Um dos livros mais recomendados quando o assunto é o mito da beleza, os padrões de beleza e essas construções: por que elas existem, para que elas servem e de onde surgem. Mas quero trazer outras leituras que são tão importantes quanto. Sei que muita gente gosta desse livro e que ele é um ótimo ponto de partida, mas também há muita controvérsia em torno da autora e da obra. Precisa ser lido com bastante criticidade, como qualquer livro acadêmico.”

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    “Brainwashed: Sex-Camera-Power” (2022, disponível no Mubi), de Nina Menkes

    “A construção visual que o cinema fez da mulher e do corpo feminino contribuiu significativamente para o que entendemos hoje por padrão de beleza. Esse corpo sexualizado, objetificado, fragmentado, mostrado em pedaços é apresentado como um objeto a ser olhado por um sujeito. O documentário é interessante para entender como a indústria do cinema constrói os arquétipos da mulher ideal e do padrão de beleza feminino. Ele aborda como a luz é utilizada, como a mulher é retratada, como o corpo aparece e é construído e objetificado. O filme ilustra isso muito bem, com exemplos, permitindo entender como chegamos ao padrão de beleza atual, em grande parte graças ao cinema. Acredito que toda mulher e homem, na verdade, deveriam ver esse documentário para poder olhar criticamente para os filmes e reconhecer o male gaze presente no cinema.”

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    “Backlash – O contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres” (Rocco, 2001), de Susan Faludi

    “Neste livro que Suzanne Faludi publicou em 1191, ela explica como a indústria da moda e da beleza arquitetou um contra-ataque destinado às mulheres após os avanços significativos nas pautas das minorias, que ocorreram nos anos 1960 e 70, especialmente no contexto do movimento feminista. Faludi mostra, por meio de dados, que os cosméticos tiveram uma queda significativa nas vendas e que a indústria da moda também sofreu um grande golpe durante esse período. Ela explica como essas indústrias se redesenharam para continuar vendendo para as mulheres, e quais discursos foram utilizados — inclusive na questão das cirurgias plásticas. É muito interessante ver como os padrões de beleza e essas opressões que atravessam o corpo da mulher têm como objetivo fazer com que as mulheres pensem que são questões individuais, quando, na verdade, trata-se de uma opressão coletiva. Todas as mulheres, em maior ou menor grau, passam por isso. E, hoje, até os homens são atravessados pelo mito da beleza. Quanto mais você pensa que o problema é seu corpo, menos você se preocupa com pautas sociais que deveriam ser uma prioridade para todos os indivíduos.”

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    “História Social da Beleza Negra” (Rosa dos Tempos, 2021), de Giovana Xavier 

    “No livro de Giovanna Xavier, que é sua tese de doutorado, ela discute como a indústria dos cosméticos vendeu inúmeros produtos com a premissa de que uma pele mais clara traria mais oportunidades, ‘limpando’ a sujeira. Desde a colonização do Brasil, esse conceito foi propagandeado, com o sabonete sendo promovido como um instrumento de limpeza trazido pelo homem branco. Esse ideal foi reforçado por ideais eugênicos no início do século XX no país. Esses dois livros são fundamentais para entender o mito da beleza sob uma perspectiva racial, algo essencial para o contexto brasileiro. Sem esse entendimento, uma pessoa fica alienada da realidade do povo brasileiro, composto em sua maioria por pardos e negros.”

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    “A Biopolítica da Beleza: Cidadania cosmética e capital afetivo no Brasil” (Editora Fio Cruz, 2023), de Carmen Álvaro Jarrín

    “Tanto o livro de Giovanna Xavier, quanto o da antropóloga não-binária Carmen Jarrín discutem como a beleza e os padrões de beleza têm raízes eugênicas e foram, desde o final do século 19 e início do 20, pensados para promover o embranquecimento da população. Estar dentro dos padrões de beleza eurocêntricos possibilita melhores empregos, oportunidades, salários e relacionamentos afetivos. Os dois livros se complementam. É crucial que produtores de conteúdo, maquiadores ou consumidores de beleza reconheçam que os padrões de beleza têm uma fundação eugênica. Ignorar essa história e a origem desses ideais de beleza é perpetuar informações que, em sua essência, são racistas.”

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