O tesão acabou? Saiba como salvar o seu relacionamento — Gama Revista
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Como descobrir por que o tesão acabou (e o que fazer para melhorar)

Nem sempre a falta de desejo sexual significa que há algo errado no relacionamento. Especialistas indicam o que pode estar por trás da baixa de libido e quando isso passa a ser um problema

Flávia Mantovani 10 de Março de 2024

Como descobrir por que o tesão acabou (e o que fazer para melhorar)

Flávia Mantovani 10 de Março de 2024
Isabela Durão

Nem sempre a falta de desejo sexual significa que há algo errado no relacionamento. Especialistas indicam o que pode estar por trás da baixa de libido e quando isso passa a ser um problema

O tesão acabou? A primeira reação pode ser questionar o que está errado no relacionamento, mas essa é só uma das possibilidades para explicar períodos de baixa no desejo sexual. Disfunções hormonais, problemas de saúde, medicamentos, dormir mal e até aquela mania de levar o celular para a cama podem interferir na libido e na vida sexual de um casal. Mesmo quem está no começo de um namoro pode sofrer com o problema, embora os casais em relações duradouras sejam os que mais procuram os terapeutas sexuais.

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Manter o desejo sexual em relacionamentos longos, aliás, é um desafio que tende a crescer com o progressivo envelhecimento da população. “Em duas gerações, dobrou a expectativa de vida das pessoas. Antes, os casais não viviam tanto tempo juntos. Agora eles têm mais tempo para se cansarem um do outro. A pergunta é: o que as pessoas vão fazer com esses 50 anos a mais?”, questiona a psiquiatra Carmita Abdo, professora e coordenadora do Programa de Estudos da Sexualidade da USP (Universidade de São Paulo) e autora do livro “Sexo no cotidiano” (Contexto, 2021).

Vale lembrar que é natural a libido flutuar ao longo da vida e dos relacionamentos. Não dá para esperar que a fase aguda da paixão continue por anos e anos: o corpo nem aguentaria a bomba bioquímica de hormônios e neurotransmissores que são mobilizados quando estamos apaixonados. “Achar que o tesão vai estar vivo para sempre é ingenuidade. As pessoas mudam, as preferências mudam”, afirma a sexóloga e terapeuta sexual Thalita Cesário.

A baixa na libido passa a ser um problema quando se prolonga e causa sofrimento para um dos parceiros — ou para ambos, que podem se sentir rejeitados ou injustiçados diante de um desarranjo no desejo do casal.

Mesmo quando a crise se instala, descobrir a origem do problema pode ser um caminho para corrigir o rumo e recuperar o tesão perdido. Mais do que isso, refletir sobre o que te dá prazer e o que corta seu tesão pode ser uma forma de autoconhecimento que ecoa para além da vida sexual. Para ajudar nessa autoanálise, Gama perguntou a especialistas o que pode estar por trás da falta de tesão — e o que pode ser feito para melhorar isso.

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    Avalie para onde está indo sua energia –
    Onde você está depositando sua libido? Pode ser que o foco em outras dimensões da vida — trabalho, filhos, algum projeto pessoal — esteja sugando a energia que poderia ser direcionada ao sexo. “A libido é uma energia mais do que sexual. É o tesão de vida, que às vezes acaba sendo depositado em outras áreas. Pode ser que o casal tenha muitos compromissos extra-sexo. Isso tudo rouba energia e pode impactar no tesão em relação ao parceiro”, diz a psicóloga e educadora sexual Laura Müller. É normal e saudável passar por fases em que a atenção está totalmente voltada para outras atividades, mas, se isso se prolongar e virar um problema para o casal, considere rever prioridades. Isso inclui questionar a relação com um dos itens que mais sugam nossa atenção: o celular. Segundo Carmita Abdo, o que acontece é que a libido é “distribuída” por todos os estímulos que recebemos no cotidiano — e eles nunca foram tão numerosos. “Os estímulos hoje são tantos que a libido não dá conta. Antes, o que competia com o sexo era TV ou cama. Hoje tem muito mais opções.” A médica é procurada por pacientes de todas as idades com a queixa de que o parceiro não sai do celular, mas nota particularidades em relação aos mais jovens, que dizem não ter vontade de transar, mesmo estando no começo de um namoro. “Quando investigo, descubro que aquele jovem faz sexo virtual, consome muitos vídeos com pornografia e acaba perdendo o interesse pelo sexo presencial. Não é falta de desejo, é o desejo satisfeito de forma paralela. Se você comeu sanduíche, não precisa almoçar”, compara.

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    Repense seus hábitos –
    Sono regular, exercícios físicos, alimentação balanceada, não fumar: aquele “combo” de hábitos saudáveis que faz bem para um monte de coisas também é importante para que o desejo e o sexo fluam adequadamente. O famoso cigarro pós-sexo, por exemplo, pode não ser uma boa ideia: estudos mostram que o tabagismo afeta a circulação sanguínea e a produção de hormônios sexuais como estrógeno e testosterona, o que pode prejudicar a ereção do pênis, a lubrificação da vagina e o próprio desejo. A boa notícia é que também há pesquisas mostrando que esses incômodos melhoram ao parar de fumar. Deixar de dormir para transar também pode não valer a pena, ao menos se for algo constante. Estudos relacionam a falta de sono à diminuição da libido, provavelmente por prejudicar a liberação de hormônios sexuais e por aumentar o cortisol (hormônio do estresse). A associação automática entre sexo e o período noturno, aliás, é outro fator que deve ser questionado. “As pessoas colocaram na cabeça que transar tem que ser à noite, justamente quando estamos com o corpo e a mente mais cansadas”, diz Thalita Cesário. Outra razão para repensar o sexo noturno como regra tem a ver com a fisiologia masculina: o nível de testosterona no sangue é mais alto pela manhã.

  • 3

    Investigue causas fisiológicas –
    O desejo sexual pode ser abalado por uma série de doenças, disfunções hormonais e tratamentos. Uma das situações mais clássicas acontece com a mulher que passou pela menopausa e que, por razões diversas, não faz tratamento de reposição hormonal. Além de afetar a libido, a falta de hormônios sexuais pode causar atrofia na mucosa da vagina, dificuldade de lubrificação e outros efeitos físicos que levam à dor na relação sexual e tiram qualquer vontade de transar. O homem também pode ter sua libido afetada à medida que envelhece, tanto pelo declínio de testosterona quanto por doenças crônicas como hipertensão e diabetes, que prejudicam a capacidade de ereção e de excitação. A redução do desejo sexual devido a problemas de saúde é mais comum em pessoas mais velhas, mas não é exclusiva delas. Disfunções na tireoide ou depressão, entre outras doenças que afetam homens e mulheres de todas as idades, podem prejudicar a libido. “Muita gente está deprimida e não sabe. Depois da pandemia, a prevalência de depressão e ansiedade teve um aumento de quase 30%. Tem que avaliar: você perdeu o desejo por sexo ou por tudo?”, diz Carmita Abdo. O uso de algumas drogas também pode ter impactos no tesão, alguns deles contraditórios. É o caso do álcool. Se por um lado aquela sensação inicial de bem-estar e desinibição pode aumentar o desejo por sexo, após uma ou duas doses a alta concentração alcoólica no sangue pode prejudicar a libido e o desempenho sexual. Medicamentos, como alguns antidepressivos ou anticoncepcionais hormonais, também podem afetar a libido. Se o custo-benefício de continuar o tratamento for maior do que o de interrompê-lo, uma terapia sexual pode ajudar a minimizar os incômodos desse efeito colateral.

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    Cultive o erotismo e o ‘desejo responsivo’ –
    Existe um mito de que o desejo sexual só acontece naturalmente: ou você tem ou não tem. Na verdade, especialistas fazem uma diferenciação entre desejo espontâneo, aquele que é intrínseco e surge independentemente do contato sexual, e desejo responsivo, que aparece como resposta a um estímulo, por exemplo as preliminares. O mais comum é que o desejo espontâneo diminua à medida que os relacionamentos se estabilizam, especialmente no caso das mulheres. “Por muito tempo, acreditou-se que toda mulher que perdia o desejo espontâneo era disfuncional. Depois, entendeu-se que é um processo natural. Quando elas não respondem nem quando provocadas, aí sim vira um quadro disfuncional”, diz Carmita Abdo. É preciso, então, dar oportunidade para o tesão acontecer. “Às vezes a pessoa começa não querendo sexo, mas, ao ser estimulada, o desejo surge”, diz Abdo. O estímulo ao erotismo pode vir do parceiro ou de uma masturbação, mas também da própria mente. A dica é entrar em contato com conteúdos sexuais que excitam: leituras, vídeos, áudios eróticos (veja exemplos nesta reportagem), a lembrança de uma transa anterior ou de uma fantasia. Só vale tomar cuidado com o excesso de pornografia, que pode levar, paradoxalmente, a uma dificuldade de libido na vida real. “Pesquisas mostram que o vício em conteúdos pornográficos pode prejudicar a capacidade de fantasiar e de despertar o próprio desejo sem esse tipo de estímulo”, diz Cesário.

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    Naturalize conversar sobre sexo com o parceiro –
    Descobrir o que está atrapalhando o tesão exige uma reflexão individual, mas é também um esforço a ser feito junto com o parceiro. São tantos os tabus que cercam o assunto que mesmo casais que estão juntos há décadas podem não ter tido nenhuma conversa franca sobre a vida sexual. “Não aprendemos a fazer isso. A gente simplesmente entra no relacionamento e vai para o sexo”, diz Thalita Cesário. A forma de conversar importa. “Não pode ser uma DR. Falar das próprias preferências, entender do que o outro gosta, tudo isso pode ajudar muito”, conta a especialista. Conflitos não relacionados ao sexo, como mágoas acumuladas ou brigas constantes, também podem minar o tesão e devem ser discutidos a dois. Mas a verdade é que nem sempre amor e tesão andam juntos. Tanto é que existem aqueles casais que se dão bem em tudo, mas não têm química na cama. “A sexualidade é mais que uma metáfora da relação — é independente como uma narrativa paralela”, comenta a terapeuta sexual Esther Perel, em seu famoso livro “Sexo no Cativeiro” (ed. Objetiva). Para Perel, amor e desejo podem se reencontrar, mesmo que seja por caminhos diferentes. Ela conta que, quando atende casais em relações longas, a primeira pergunta que faz aos pacientes é como se conheceram e por que se apaixonaram. “Às vezes elas só precisam de um lembrete discreto do que era antes”, escreveu.