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Relações

Como esquentar seu relacionamento

Calor, sexualidade e bem-estar têm tudo a ver. Saiba como esquentar seu relacionamento, caso ele tenha dado uma esfriada

Manuela Stelzer 23 de Janeiro de 2022

Como esquentar seu relacionamento

Manuela Stelzer 23 de Janeiro de 2022
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Calor, sexualidade e bem-estar têm tudo a ver. Saiba como esquentar seu relacionamento, caso ele tenha dado uma esfriada

Nem um balde de água fria é capaz de apagar o fogo e a paixão de um relacionamento que acaba de começar. A ciência prova, entretanto, que em questão de meses ou poucos anos, nos casos mais duradouros, essa paixão transitória diminui até cessar, e dá lugar ao companheirismo, ao amor mais calmo – e o clima talvez um pouco menos quente.

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A escolha das palavras que remetem à temperatura para descrever uma relação mais ou menos apaixonada, íntima e sexualmente ativa não é à toa. “Quando existe excitação ou atração, liberamos uma série de substâncias que literalmente nos aquecem. Existe esse calor, que é consequência do querer estar junto, se sentir atraído ou do estar efetivamente junto e próximo”, explica a neurocientista e autora de “Eu Controlo Como Me Sinto” (Planeta, 2021), Claudia Feitosa-Santana. Segundo ela, o calor humano, poderosíssimo, é a melhor forma de aquecer um indivíduo com hipotermia, por exemplo. “É preciso abraçar a pessoa com a pele nua, e aquecê-la com a quentura do corpo. O calor está nessa troca, nesse acolhimento.”

A associação entre calor e relacionamentos vai além da linguagem – é cultural e simbólica, vide os emojis de foguinho usados em flertes e aplicativos de paquera, e das cores que definimos como quentes. “Colocamos o vermelho, por exemplo, como uma cor quente porque ela está mais presente em estações como o verão. São períodos em que nos sentimos mais felizes, alegres, vivos”, conta a neurocientista. “Nossos ancestrais hibernavam no inverno. Hoje não precisamos fazer isso, mas ainda temos vontade de ficar mais tempo na cama, mais preguiça de sair. No verão é mais fácil ser feliz, e se relacionar.”

E o clichê da sexualidade aflorada no verão também é real. Termômetro e quantidade de roupas são inversamente proporcionais: quando um aumenta, o outro diminui. Claudia Feitosa-Santana explica que o tesão se faz mais presente quando corpos estão à mostra. “São pistas visuais. Nossa percepção visual é a primeira da fila para que a excitação ocorra. Depois tem o cheiro, que faz as pessoas se aproximarem ou se repelirem. E por fim o toque.”

Já que calor, sexo e intimidade têm tudo a ver, Gama reuniu alguns especialistas para dar dicas de como reacender o fogo que possa ter se perdido entre desentendimentos e a rotina muitas vezes maçante de uma relação.

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Aproximem-se (literalmente)

A dica pode parecer ínfima, mas tem um poder enorme. O toque, assim como no caso de hipotermia, é o bote salva-vidas de um relacionamento gelado. “A aproximação dos corpos é fundamental. Podemos começar com o simples ato de dar as mãos, beijar e abraçar mais, tomar banho juntos”, explica a psicóloga e terapeuta de casal e família Sandra Baldacci. “Queremos resolver o problema sexual direto com a transa, e não é assim que funciona. Precisamos primeiro aproximar essas duas pessoas e o sexo vai acabar acontecendo.”

Um especial de relacionamentos do jornal americano The New York Times diz que o casal deve criar oportunidades para transar, mesmo que de início não seja o que mais se deseja. “O sexo desencadeia respostas hormonais e químicas no corpo e, mesmo que você não esteja com vontade, é provável que você chegue lá rapidamente assim que começar. O fato é que o sexo é bom para o seu relacionamento. Faça disso uma prioridade.” É importante lembrar, entretanto, que apesar de saudável, o sexo não é um atestado de sucesso da vida a dois. “Cada casal tem seu DNA, e não é porque abriu-se mão de transar que não será um relacionamento bom”, explica Sandra Baldacci.

Se a vida sexual é ativa uma vez por mês ou duas por dia, não importa. “A quantidade de sexo certa é a quantidade que faz ambos os parceiros felizes”, certifica o NYT. Já o toque e a proximidade, parece que quanto mais, melhor para o relacionamento. E isso não significa que parceiros distantes fisicamente não possam exercitar o convívio – para isso, a dica é abusar da tecnologia disponível (se for um virgem virtual, Gama deu bons conselhos de como começar). “Mande uma mensagem durante o expediente, provoque o outro sobre algo que pode rolar, seja por telefone ou em casa, à noite. Pode eventualmente mandar uma foto mais sensual, um nude, e aproveitar que os aplicativos só facilitaram a segurança com as fotos temporárias, por exemplo”, sugere a psicóloga e sexóloga Michelle Sampaio.

Abre o jogo!

É inevitável: não se constrói (e nem se mantém) relacionamento sem diálogo. Para recuperar o calor que se perdeu, uma ideia é relembrar quais faíscas acendiam essa chama. “Os parceiros podem se perguntar o que gostavam de fazer no início, repensar o motivo de estarem juntos, resgatar essas memórias”, explica Sandra Baldacci. O poder dessa conversa, de acordo com a psicóloga, é imenso. Ela conta de alguns casais que fizeram esse trabalho na terapia: relembraram o início da relação, o que gostavam de fazer, e confabularam alguns possíveis programas que poderiam fazer juntos. “Eles voltaram para a próxima sessão contando de um sexo incrível que tiveram, ou de um encontro inédito, decorrente desse exercício.”

Ela explica que a atração intensa que se instala no começo de um relacionamento se perde à medida que o convívio vira rotina. “Vamos nos acostumando com a pessoa, conhecendo de fato sua personalidade, e não tem mais aquele fogo, porque ele é substituído por outros sentimentos. Nesse momento a admiração é muito importante.” Por isso, a dica de ouro é cuidar da relação, alimentá-la com cuidado para que o encantamento pelo parceiro não se perca.

Os desentendimentos entre duas pessoas que vivem juntas são mais do que normais. Há quem tente fugir deles, mas evitar o conflito não é o melhor caminho. “A chave é aprender a discutir de forma construtiva, de maneira que, ao final, você se sinta melhor em relação ao parceiro.” Ao jornal americano, o pesquisador John Gottman, que estuda conflitos, disse que eles não são ruins – são, na verdade, uma forma de expor diferenças e dar um “real poder de permanência” ao relacionamento. É preciso apenas saber discutir, para que seja uma conversa construtiva, e não prejudicial.

Quebra esse tabu

O diálogo entre os parceiros é essencial, mas de nada adianta se essa conversa não perpassar por assuntos mais quentes. Falar de sexualidade, de acordo com a sexóloga Michelle Sampaio, aproxima e cria intimidade. Se sobra vergonha e falta coragem de começar o papo sobre sexo, ela indica filmes e séries. “Não precisa ser um pornô, mas hoje em dia os streamings têm muitas opções de produções mais erotizadas, sensuais, com cenas quentes. Dá para assistir junto, e depois usar como gancho para comentar, começar a falar dos desejos.”

Claro que, antes de sair falando sobre sonhos eróticos e fetiches, é preciso entender a própria sexualidade, o que gosta e o que não gosta na cama. Se não souber definir, a parceria pode ser aliada no processo – descobrir o que ambos têm vontade de fazer quando o assunto é sexo pode acabar sendo uma investigação rica e saudável por si só.

Ao NYT, a professora de psicologia Elaine Hatfield contou que homens e mulheres têm mais em comum do que pensam, e que apenas não conversam sobre sexo. Por isso, ela criou uma espécie de exercício (simples), que ajuda nessa missão aparentemente impossível: sentar com a parceria e ambos escreverem em um pedaço de papel cinco coisas que desejam mais durante a transa. Não precisam ser atos sexuais detalhados, na verdade, a ideia é se concentrar em comportamentos – ser mais comunicativo, romântico, terno, experimental ou aventureiro, por exemplo.

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Por que não tentar?

Para recuperar o calor de uma relação, é preciso certo foco, cuidado e tentativas (no plural, porque nada vai ser resolvido de primeira), como tentar programas e atividades novos – de preferência, feitos juntos. Uma aula de cerâmica, uma viagem a um lugar remoto para acampar, sair para dançar – seja o que for: novas experiências ativam o sistema de recompensa do cérebro, inundando-o com dopamina e norepinefrina, os mesmos circuitos cerebrais ativados no início do amor romântico.

Uma das tentativas pode ser assistir uma comédia romântica. Ainda que pareça bobo, especialistas sugerem que esses filmes podem ajudar casais a resolverem conflitos no mundo real, por mais idealizados que sejam. Claro que as comédias românticas não vão magicamente consertar e reconstruir um relacionamento, mas podem criar oportunidades, assim como nos filmes eróticos, para conversar sobre temas relevantes.

Mas tudo tem um porém: na hora de propor uma atividade nova, ou criar uma surpresa para mudar e apimentar a rotina, lembre-se de olhar para o outro e considerá-lo nas decisões, pensando em experiências compartilhadas que agradem os dois e que façam sentido no momento. “Se preparo um jantar todo especial, mas meu parceiro chega em casa com dor de cabeça, estressado com o trabalho e só quer dormir, preciso entender o momento, e talvez deixar a surpresa para outro dia”, pondera Sandra Baldacci.

Relacionamento aberto: fugir ou encarar?

É comum que casais considerem essa ideia para esquentar a relação. É preciso cuidado para seguir com essa tentativa, mas com muito diálogo e consentimento de ambos, a não monogamia é uma possibilidade. “Vai apimentar? Vai, porque vai ser uma novidade ali, mas essa decisão vem com uma demanda e consequências”, acredita a psicóloga Sandra Baldacci. Ao que a sexóloga Michelle Sampaio adiciona: “Pode ser um tiro no pé. É muito mais saudável um casal querer transitar para um relacionamento não monogâmico se eles realmente acreditam na ideia de um amor mais livre. Se fizer sentido para eles, é ótimo”. Ela acredita que “partir para uma não monogamia requer mais do que a vontade de aquecer a vida a dois”, mas um interesse mesmo nesse formato.

Apesar do ser humano ser não monogâmico, como explica a sexóloga, ela retoma a necessidade de falar sobre os desejos. Nessas conversas, a ideia de um sexo a três ou ir a uma casa de swing pode surgir de maneira natural, e assim virar um tópico de discussão e, quem sabe, até realidade. “É normal que tenhamos tesão por outras pessoas, e não precisamos terminar um relacionamento por conta disso. Podemos escolher abrir mão desse desejo, ou tentar uma relação aberta. A única condição é funcionar para aquele casal, e ambos estarem confortáveis com a decisão”, finaliza.