Dez podcasts para mergulhar na Flip 2024 — Gama Revista
Qual o papel da literatura na sua vida?

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Bloco de notas

Dez podcasts para mergulhar na Flip 2024

Quase 400 minutos de entrevistas e narrações para conhecer melhor alguns dos autores e a curadora da Festa Literária Internacional de Paraty  

Dez podcasts para mergulhar na Flip 2024

06 de Outubro de 2024

Quase 400 minutos de entrevistas e narrações para conhecer melhor alguns dos autores e a curadora da Festa Literária Internacional de Paraty  

  • Antes da trama contemporânea “Solitária” (Companhia das Letras, 2022), Eliana Alves Cruz já havia lançado três romances históricos. No Podcast Página Cinco, a autora conta que transitar entre o passado e presente na história brasileira gera indignação: “Como se fosse uma longa fila de pessoas exercendo a mesma função ao longo da história, mudando apenas de época”, diz, em relação aos cargos subalternos ocupados por negros. A entrevista guiada por Rodrigo Casarin também aborda a ligação pessoal de Cruz com suas obras, as referências à Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo e como suas carreiras anteriores no jornalismo e no esporte influenciam na escrita.
  • A poesia está presente no cotidiano dos brasileiros por meio da música popular brasileira e, diferente do senso comum que a aponta como algo difícil, ela é um ótimo caminho para quem quer ler e não sabe por onde começar. Quem defende isso é Ana Lima Cecilio, a curadora da 22ª edição da Flip. Com 20 anos de experiência, Cecilio já passou por diferentes posições no mercado editorial, de editora a livreira, e iniciou sua história de leitora voraz ainda na infância, quando descobriu o mundo dos livros pela influência dos pais. Na conversa com Gama, ela fala do potencial da atual geração de poetas no Brasil, que aborda temas do dia a dia e também consegue falar de grandes temas políticos.
  • “As horas nunca são, no máximo fingem ser (…) Precisamos jogar os celulares na privada para que as horas voltem a ser nossas.” A frase dá o tom da reflexão proposta por Joca Reiners Terron neste episódio do Originais, quadro do Quarta Capa Todavia que traz “um questionário inusitado feito para provocar respostas fora do comum”. Em apenas cinco minutos, o autor de “O riso dos ratos” (Todavia, 2021) explora diferentes perguntas sobre o tempo, como a melhor hora para quebrar um relógio, seu tempo verbal favorito, o que colocaria numa cápsula do tempo, um livro fora do tempo, entre outras. Se quiser parar o tempo, Terron aconselha “ler, ler e ler além, pois a literatura combate o tempo com o único antídoto feito de sua própria matéria”.
  • No início deste ano, as obras “Outono de Carne Estranha” (Record, 2023), de Airton Souza, e “O Avesso da Pele” (Companhia das Letras, 2020), de Jeferson Tenório, foram vítimas de tentativa de censura em ocasiões diferentes. O podcast 451 MHz convidou os escritores para debater o que estaria por trás dos ataques aos livros. Também são discutidos outros aspectos, como a entrada da leitura na vida deles, a recente trajetória de Tenório como editor de livros e o papel da escola na formação de leitores.
  • A Flip 2024 recebe a ativista Txai Suruí na mesa “Saber o passado, mirar o futuro”, que homenageia Raoni, importante liderança dos povos originários, expondo como seu legado será continuado por jovens como Suruí. Neste episódio do Podcast da Semana, ela aponta maneiras de salvar a Amazônia e valorizar os indígenas, além de traçar um panorama da atual luta desses povos. “O Brasil nunca foi um lugar bom para os indígenas viverem, pelo menos depois de 1500. Só que hoje está pior. Porque mais do que omissão, a gente tem um incentivo do governo para que se invada e destrua nosso território”, denuncia a líder indígena, ressaltando a importância dos povos originários na solução dos problemas ambientais.
  • O que ocupa a sua mente depois de um assalto? Para Evandro Cruz Silva, os pensamentos do momento pós-violência dizem muito sobre quem somos e o que esse tipo de situação representa para nós. No episódio “Eu sou um deles”, da Rádio Novelo, o escritor relata um caso de agressão sofrido por ele. Autor de “Praia Artificial” (Patuá, 2021), o sociólogo se considera antirracista e abolicionista penal, mas, quando abordado por um garoto negro portador de uma calibre 38, suas convicções foram estremecidas. “O que acontece quando você mora num país que coloca pessoas negras contra pessoas negras?” é uma das perguntas levantadas por Silva. Sem respostas, ele recorre às letras dos Racionais: “O único jeito é prosseguir a mística. Sobreviver no inferno, um dia após o outro dia”.
  • Junto ao palestino Abu Atef Saif, a escritora gaúcha Julia Dantas compõe uma mesa sobre a observação do fim da cidade por ações humanas na 22a Flip. Em maio deste ano, ela teve sua casa alagada durante as enchentes do Rio Grande Sul e escreveu relatos comoventes sobre a experiência de perder quase tudo. Ao podcast da Gama, ela prevê que “a tragédia climática vai acontecer com todo mundo; não tem o que nos salve disso”. Embora soe pessimista, a autora de “A Mulher de Dois Esqueletos” (Dublinense, 2024) tem seu sentimento de urgência justificado pela aceleração da crise climática. Dantas também fala do impacto da catástrofe na forma de escrever, na maneira de olhar para a literatura e até na relação com a cidade.
  • Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura 2023, Mariana Salomão Carrara aborda em suas obras temas sensíveis como o luto, sob uma perspectiva feminina. No programa Trilha de Letras, da EBC, ela relata como a escrita entrou na sua vida na infância: quando criança, o talento era usado “como um reforço positivo de autoestima”. Carrara também é defensora pública e aborda a influência da profissão no olhar empático na literatura, já que a área envolve “trabalhar com senso de justiça para o outro”. A conversa traz ainda outros pontos da vida da escritora e discute o livro “Não Fossem as Sílabas do Sábado” (Todavia, 2022).
  • Com 40 minutos de duração, o podcast Amazônia Latitudes entrevista a escritora Micheliny Verunschk, que reconstrói o Brasil de 1820 em “O Som do Rugido da Onça” (Companhia das Letras, 2021). A ficção histórica resgata a história de duas crianças indígenas sequestradas por cientistas alemães para serem exibidas em exposições na Europa. O destino trágico dos pequenos expõe a violência do período colonial. Verunschk acredita na construção de pontes entre realidades distintas por meio da literatura e afirma sentir a necessidade de contar histórias, como essa, diferentes da sua: “Me interessa o mundo dos outros”.
  • Quantos livros de autores homens você leu ao longo da sua vida? E de mulheres? Ligia Gonçalves Diniz escreve em “O Homem Não Existe: Masculinidade, desejo e ficção” (Zahar, 2024) que ler como um homem durante muito tempo impactou a forma como ela enxerga a si própria e, além disso, que a hegemonia masculina na literatura molda a subjetividades das mulheres. Professora de teoria da literatura e literatura comparada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diniz desafia os paradigmas machistas da literatura e expõe a necessidade fetichizar corpos masculinos, ou seja, mostrá-los na ficção como algo que desperta desejo. No Ilustríssima Conversa, ela explora os variados caminhos traçados por seu livro e defende que obras machistas não deixem de ser lidas, por permitirem conhecer os opressores.