O que mudou com a descoberta da perimenopausa? — Gama Revista
Perimenopausa, e agora?!
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Depoimento

O que mudou com a descoberta da perimenopausa?

Mulheres compartilham sensações, descobertas, dificuldades e aprendizados dessa fase

09 de Fevereiro de 2025

O que mudou com a descoberta da perimenopausa?

09 de Fevereiro de 2025

Mulheres compartilham sensações, descobertas, dificuldades e aprendizados dessa fase

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    Foto: divulgação

    “Passei a agir mais na direção dos meus desejos”

    Tatiana Vasconcelos, 47, jornalista e âncora da rádio CBN

    “O pós 45 tem sido como uma nova fase do jogo, mesmo. Até lá a sociedade diz que a gente tem que chegar ‘no auge’. A saber: encontrar um companheiro, planejar viver com ele, ter filhos, se estabelecer na carreira, ganhar algum dinheiro, realizar o sonho da casa própria e, se possível, fazer umas viagens. Ainda que eu não tenha seguido esse roteiro e esteja feliz com meu modo de vida, depois dos 45 nos deixam em paz pelo menos. Passei a agir mais na direção dos meus desejos. O sexo melhora muitíssimo, porque passa a ser sobre calma e qualidade, ao contrário da euforia tesuda jovem. Descobri que não existe ‘o auge’, nos enganaram. Nossa existência é repleta de ápices que nada têm a ver com o que uma sociedade patriarcal espera da gente. Eu não vejo a hora de chegar ao próximo pico.”

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    Foto: Jairo Goldfluss

    “Entendi que sou frágil, perecível. Que tenho limites. Que estou envelhecendo”

    Giovana Madalosso, 50, escritora

    “A perimenopausa me despiu da capa ilusória de super-heroína, da falácia de que podemos aguentar qualquer coisa. Entendi que sou frágil, perecível. Que tenho limites. Que estou envelhecendo. Parece óbvio mas muitas vezes não percebemos isso. E perceber tem um efeito positivo: se cuidar mais, valorizar a vida. Mas não vou glamurizar: claro que eu preferia que a perimenopausa não existisse. Quando chegou, senti inveja dos homens da minha idade – por que meu vigor está sendo repentinamente dilapidado e o deles não? Por que, mais uma vez, tudo é mais difícil para as mulheres? O consolo é que, nessa fase, o que as mulheres perdem em estrógeno, ganham em consciência. Apesar de a minha pele e a minha energia não serem mais as mesmas, nunca me senti tão bem.

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    Foto: divulgação

    “Achava que era uma fase final. E no final das contas, estamos na metade da vida, só envelhecendo”

    Isabela Guerra, 46, psicóloga e autora do ebook “Entre Nó(ia)s da Maturidade – reflexões e questionamentos de uma fase que eu nem sabia que existia”

    “Quando fiz 40 anos, achei que a vida realmente começava ali. Me sentia uma loba! Mas aos 44 levei um balde de água fria, um cansaço inexplicável, a memória falhando, emoções e cintura esquisitas. Comecei a me sentir como se fosse um trem desgovernado. Em uma conversa, uma amiga falou da perimenopausa. Eu tive medo até de pensar sobre isso, como se fosse um atestado de velhice. Numa sociedade que ama a juventude, admitir isso é difícil. Mas fui atrás, estudei, conversei com profissionais, li tudo o que pude. Quando falei sobre nas redes sociais, fui inundada por relatos e, por conta disso, percebi a necessidade das conversas e do acolhimento. Falar sobre as nossas nóias e medos e buscar informações é o melhor que podemos fazer para ter um alívio! Senti que não estava sozinha nessa. Sou de uma geração em que as mães não falavam desse assunto em hipótese nenhuma. A minha mal sabe quando entrou na menopausa. Eu não tinha ideia que teria tantos sintomas antes desta data ‘final’, porque era assim que eu achava, que era uma fase final. E no final das contas, estamos na metade da vida, só envelhecendo.”

  • “Foi um renascimento, com todas as dores, mas também delícias”

    Silvia Ruiz, 55, jornalista, colunista do UOL e co-fundadora da marca de suplementos Re-Age

    “Sete anos atrás, aos 48 anos, comecei a achar que estava ficando com demência. Não entendia o que estava acontecendo comigo, sem energia, sem memória, mergulhada em um estado de confusão mental. Meu cérebro parecia ‘pausado’. Depois de muita pesquisa, finalmente uma médica me disse: ‘Isso é sintoma da perimenopausa’. Tive um misto de alívio e indignação por tanto desconhecimento sobre uma fase natural das mulheres. Com o tratamento certo, voltei a me reconhecer. Naquele momento, decidi tirar a menopausa do armário e combater o estigma e a desinformação usando minha experiência pessoal e conteúdo jornalístico em uma coluna no UOL e no Instagram. Jamais imaginei que reuniria uma comunidade tão grande de mulheres e até mesmo acabaria tendo um novo caminho profissional, como fundadora de uma marca de suplementos para mulheres na menopausa. A perimenopausa para mim foi um renascimento, com todas as dores, mas também delícias.”

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    Foto: divulgação / Aniol Yauci

    “É como um ritual de passagem, um processo individual e ao mesmo tempo nos coloca todas juntas, unidas”

    Susana Bragatto, 47, jornalista e autora do blog “Pintando um Clima”, da Folha de S.Paulo, sobre perimenopausa e menopausa

    “Envelhecer. Mutação. Libertação. Crise — e oportunidade. Minha história com o climatério aconteceu de repente, aos 39, por causa de um câncer de mama. O tratamento quimioterápico me lançou em (uma espécie de) menopausa química da noite pro dia, sem vaselina, sem reposição hormonal, sem tapinha nas costas. Ter que enfrentar o diagnóstico e os 84130178 sintomas climatéricos ao mesmo tempo foi barra, mas me trouxe até aqui. Eu me trouxe até aqui. Descobri que tenho recursos, muitos. E que olhar para o presente e para si é uma arte (difícil, libertadora, poderosa) a se praticar a cada dia de nossas vidas. Hoje, oficialmente na peri (depois de muitas idas e vindas hormono-terápico-oncológicas), acompanho outras mulheres que também estão passando pela transição climatérica. Vejo a peri como um ritual de passagem: é um processo individual e ao mesmo tempo nos coloca todas juntas, unidas. No olho do furacão, vejo poder e aprendizado. Hoje, sem regras rígidas, uns dias leoa, outros, passarinho, eu só me repito sempre: só se anda pra frente — e é pra frente que eu vou.”

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    Foto: divulgação

    “Estou muito mais ligada na minha saúde e me cuidando mais do que antes”

    Claudia Lima, 55, jornalista, roteirista, colunista na Vogue Brasil e criadora da Yabás, uma newsletter voltada para mulheres negras de 40 e 50+

    “Muda tudo. Você percebe que aquela fase de ser inconsequente, de comer o que quiser, beber o que quiser, acabou. Nessa fase, você começa a ganhar peso facilmente. Então, tem que cuidar muito da saúde, prestar atenção na alimentação. A preguiça tem que ser deixada de lado. Você tem que começar a se exercitar, principalmente para fortalecer os músculos. Eu ainda estou em processo de mudança dos meus hábitos, porque já estou na pós-menopausa. Entrei na menopausa depois de uma histerectomia, então foi tudo muito rápido, e eu vi todas essas mudanças acontecerem no meu corpo. Então tive que tomar as rédeas da situação. Uma coisa que muda muito é a necessidade de ir ao médico. Quando você vê que os seus exames, as suas taxas, estão boas, isso é um alívio. Para mim, essa mudança na percepção da saúde é muito forte, é uma mudança radical. Estou muito mais ligada nisso e me cuidando mais do que antes. E todo mundo só fala das coisas ruins da menopausa, mas a melhor coisa que existe é não menstruar mais. Não ter aquela preocupação todo mês. E para mulheres que têm um sangramento muito intenso, que sofrem com isso, que é horrível para sair, para ir à academia, para as atividades corriqueiras… acabou. E isso é a melhor coisa do mundo.”

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    Foto: divulgação

    “Estamos vivendo um momento revolucionário para as mulheres em relação a esse tema”

    Marina Person, 55, apresentadora e cineasta

    “Mais importante do que o que mudou para mim com a descoberta da perimenopausa é o que mudou no mundo. Que mundo é esse que hoje fala da menopausa e da perimenopausa de uma forma tão aberta, tão direta? Isso era algo impensável para as gerações anteriores. Outro dia, ouvi a [psicanalista e escritora] Vera Iaconelli falando sobre isso. Minha geração está fazendo uma revolução em relação a esse tema porque, antes, era um assunto considerado tabu. A menopausa era vista como o fim da juventude, o fim da sensualidade, o fim da sexualidade da mulher. E hoje vemos que não é assim. Eu me lembro de, até os 30 e poucos anos, ter muito medo da menopausa. Mas quando a ela chegou entendi que, na verdade, eram fantasmas criados pela falta de conhecimento. Quando a gente sabe o que está acontecendo e tem recursos para lidar com os efeitos colaterais, tudo muda. Acho que é isso: estamos vivendo um momento revolucionário para as mulheres em relação a esse tema.”