O que é ter câncer hoje?
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Ilustração de Isabela Durão

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Como apoiar um amigo com câncer

Quem tem um amigo tem tudo, já diz a canção, mas e na hora de uma doença? Reunimos cinco dicas para quem tem alguém querido doente

Tereza Novaes 26 de Outubro de 2025

Como apoiar um amigo com câncer

Tereza Novaes 26 de Outubro de 2025
Ilustração de Isabela Durão

Quem tem um amigo tem tudo, já diz a canção, mas e na hora de uma doença? Reunimos cinco dicas para quem tem alguém querido doente

Não há dúvidas que receber um diagnóstico de câncer é um baque, um momento cercado de dúvidas, medo e insegurança. “Nessa hora, o mais importante é acolher. Não tente invalidar a dor do outro com frases prontas como ‘vai dar tudo certo’ ou ‘tenha fé'”, aconselha a psicóloga Andréa Souto, que atua no atendimento de pacientes oncológicos.

Mesmo que essas palavras tenham o intuito de ajudar, elas podem acabar silenciando o que a pessoa está sentindo. A dica é ser sincero e afetuoso. “Você pode dizer algo como: ‘Eu não sei exatamente o que dizer, mas quero estar do seu lado no que você precisar.'”

A notícia costuma deixar não só o paciente perdido, mas também as pessoas próximas. “Muitos amigos se afastam porque não sabem o que dizer, como se conectar nem como lidar com o próprio medo”, afirma Evelin Scarelli, que descobriu um câncer de mama aos 23 anos.

Hoje com 37, mãe de um menino de quatro anos, ela lembra que muitos temem não saber o que responder caso a pessoa diga que não está bem. “Esse medo pode ser paralisante. Há também o estigma do câncer e a dificuldade de lidar com a finitude”, afirma.

“Esse medo pode ser paralisante. Há também o estigma do câncer e a dificuldade de lidar com a finitude”

Souto também reforça esse ponto: cuidar de alguém em tratamento também mexe com a gente. “Se você é esse amigo presente, cuide de você também. Permita-se sentir, descansar e buscar apoio quando precisar.”

Apesar (e diante) das dificuldades, não há dúvidas que ter pessoas queridas por perto é fundamental. Em sua experiência, Scarelli recorda que foram os amigos que trouxeram leveza. “Um me trouxe picolé de limão quando eu fazia quimioterapia, porque sabia que ajudava no enjoo, outros conversavam sobre assuntos que não eram o câncer”, diz.

Como ser um bom amigo para alguém que está enfrentando a doença? A seguir, cinco dicas práticas para ajudar quem tem um amigo com câncer.

  • 1

    Traga um pouco de normalidade – “É um dos maiores presentes que um amigo pode oferecer”, diz Luciana Holtz, psicóloga e fundadora do Instituto Oncoguia. Durante o tratamento, a vida do paciente passa a girar em torno de consultas, exames e tratamentos, e há muito medo envolvido. Por isso, uma conversa à toa pode fazer a pessoa relaxar e desviar o foco, vale falar de um filme, de uma lembrança engraçada até fofocar sobre um conhecido em comum. Isso vai ajudá-la a lembrar de quem ela é para além da doença. Holtz ressalta, no entanto, que é preciso equilíbrio. “Não dá para deixar que o câncer ocupe todos os espaços nem fingir que ele não existe. O ideal é seguir presente e genuíno, respeitando o tempo e o humor do outro.”

  • 2

    Ofereça companhia – “Uma das coisas que mais escuto no consultório é que, mesmo rodeados de pessoas, muitos pacientes se sentem sozinhos”, afirma Souto. Ela explica que isso tem a ver com a sensação de não ser compreendido, especialmente quando frases do tipo “você precisa ser forte” ou “pense positivo” são usadas. “Isso, sem querer, pode minimizar ou até invalidar o que o paciente está sentindo”, destaca ela. Além disso, há situações práticas em que o paciente precisa estar acompanhado, como em consultas, exames ou internações. Isso dá segurança emocional e pode ajudar a reduzir essa sensação de solidão, além de ser fundamental para absorver inúmeras informações médicas, algumas cruciais para a sequência do tratamento. Aqui, Holtz sugere, no entanto, cuidado no modo de oferecer companhia. “Em vez de dizer: ‘Vou com você’, prefira algo como: ‘Posso te acompanhar, se quiser’. Isso mostra disponibilidade sem invadir o espaço do outro.” Holtz destaca ainda que escutar e ser aquele ombro amigo é simples e faz diferença. “Ouça mais do que fale. Às vezes, o que a pessoa precisa é de silêncio e presença, não de conselhos.”

  • 3

    Evite comentar mudanças físicas – Na maioria dos casos, pacientes oncológicos passam por transformações na aparência, queda de cabelo e inchaço são dois efeitos colaterais bastante frequentes, com potencial de abalar profundamente a autoestima. Por isso, os amigos devem ser cuidadosos ao tratar do tema. Holtz sugere que se evite comentários do tipo “nem parece que você está doente” ou “logo o cabelo cresce de novo”. “O melhor apoio é o olhar de quem continua vendo a pessoa, e não a doença”, diz a psicóloga. Um elogio sincero, uma foto compartilhada com naturalidade ou simplesmente não tratar o tema como tabu já ajudam.

  • 4

    Seja presente, mesmo à distância – Nem sempre é possível estar no dia a dia, mas pequenos gestos cotidianos contam muito – uma mensagem dizendo que lembrou da pessoa, um meme divertido ou sugestão de algo para assistir são coisas simples que fazem qualquer um se sentir querido. E, se estiver ao seu alcance, ofereça ajuda concreta. “Em vez de dizer ‘conte comigo’, tente algo como ‘posso levar sua marmita essa semana?’ ou ‘quer que eu fique com seu filho na consulta?’”, sugere Holtz. Acima de tudo, não desapareça da vida da pessoa. “Mesmo que o contato diminua, mande uma mensagem de vez em quando, sem cobrança. Acolher o afastamento também é cuidado.” Souto concorda: “Durante o tratamento, cada dia é um dia. Tem dia que a pessoa vai querer conversar, outros, ela só vai querer ficar quietinha. Por isso, a melhor forma de ajudar é perguntando e respeitando o que vier como resposta. Muita gente apoia no início, mas depois, com a rotina voltando ao normal, o paciente acaba ficando mais sozinho.”

  • 5

    Incentive a busca pelo apoio coletivo – Ao receber o diagnóstico, é comum sentir que ninguém entende de verdade o que está acontecendo. “Estar com outras pessoas que já viveram algo parecido tira esse peso da solidão e traz pertencimento”, aponta Holtz. Nesse sentido, buscar grupos de apoio a pacientes pode ser uma boa opção. Há associações dedicadas a diferentes tipos de câncer e também grupos como o próprio Oncoguia, dirigido pela psicóloga. Esses espaços oferecem informação, orientação médica e até apoio jurídico para quem está com dificuldade em obter uma terapia específica pelo SUS, por exemplo, além de ser uma espaço de encontro e acolhimento. “É onde a pessoa perde o medo de ser julgada, pode rir de coisas que só quem vive o tratamento entende e, muitas vezes, reencontra esperança.”

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