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ReportagemA nossa relação sobrevive a um pet?
Gama ouviu relatos de tretas, separações e reconciliações marcadas por um tipo de pivô em comum: o bichinho de estimação
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A nossa relação sobrevive a um pet?
Gama ouviu relatos de tretas, separações e reconciliações marcadas por um tipo de pivô em comum: o bichinho de estimação
Eles são capazes de transformar — para melhor — a rotina de uma casa, podem confortar um coração enlutado, fazem companhia a quem vive sozinho, têm a lealdade como uma característica de destaque, são amorosos e agregadores. Mas, apesar de tantas qualidades, ou talvez por causa delas, um animalzinho de estimação amado pode causar rompimentos de amizades, términos de namoro, chateações entre colegas e afastamentos em algumas relações.
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As causas para essas situações são as mais diversas possíveis: desde pessoas que têm alergia a pelos de cães e gatos e, por isso, não podem frequentar a casa de amigos com pets, passando por desgastes relacionais porque um tutor se sobrecarrega mais nos cuidados do que o outro, até a dor da perda de um bichinho, que faz com que o humano, sentindo a falta do companheiro de quatro patas, se feche num mundo próprio e afaste todos ao redor.
Gama ouviu relatos de tretas, separações e reconciliações marcadas por esse tipo de pivô em comum: o animal de estimação.
O combinado, às vezes, sai caro
Ana Paula Medeiros é uma estudante de jornalismo mineira que, em 2022, passou a dividir apartamento com uma amiga — hoje, ex-amiga, que Ana Paula prefere não citar o nome — de faculdade. Assim que se mudaram, decidiram, juntas, animadas e felizes, que teriam um pet e dividiriam todos os cuidados a ele relacionado, ou seja, despesas com ração, areia, veterinário, vacinas e brinquedinhos, além das obrigações diárias, como limpar o banheiro do felino e alimentá-lo.
Depois de procurarem em diversas ONGs de adoção, encontraram o Jiji, um gatinho preto. Mas, já no dia da chegada do bichano ao apê, Ana Paula ficou chateada porque a roommate não estava, tinha viajado, e ela o receberia sozinha. Ao voltar, assim que deu de cara com Jiji, a outra tutora não se mostrou alegre nem demonstrou interesse pelo novo morador.
“Desde o primeiro momento que ela chegou e o viu, eu percebi que havia um desconforto. E fiquei sem entender porque a adoção foi uma coisa pela qual ela estava animada, mas ficou meio estranha”, conta a jovem.
Após as primeiras semanas com o trio em casa, Ana notou que a ex-amiga não fazia nada para Jiji, nem sabia onde ficavam a ração e a areia, por exemplo. “Notei certa negligência por parte dela e, mais, uma falta de carinho”, diz. Mesmo diante desse cenário, as antigas amigas não conversaram detalhadamente a respeito do caso, o que colaborou para uma bola de neve de mágoas se formar em Ana.
Ela cita também um episódio em que Jiji, com uma pequena ferida na cabeça, precisou ser levado ao veterinário. Mais uma vez, quem o acompanhou na consulta, comprou o remédio e seguiu as orientações de como cuidar do machucado, foi Ana.
Eu quebrei o vínculo totalmente porque ela me machucou demais e tratou o Jiji com muito desprezo. Não me fez bem
Com quatro meses de Jiji em casa, ela foi visitar a família em Belo Horizonte, durante um feriado, e o gato ficou sob a responsabilidade da ex-amiga. Na volta, Ana relata, o pet estava fazendo todas as necessidades pela casa, coisa que nunca tinha acontecido, até que percebeu o motivo: a caixa de areia não havia sido limpa há dias. “Ela me falou que não tinha limpado o cocô e o xixi dele, e nem trocado a areia.” Todo bom gateiro sabe que os felinos têm um olfato bastante apurado e uma das principais vinganças ao odor do banheirinho sujo é sair marcando o território, na cozinha, no sofá, em cima da cama.
Assim, Ana foi comprar uma nova caixa de areia, mas teve um problema com o cartão de crédito e pediu para a ex-colega de apê e gato, para comprar, o que ela não gostou e, a partir disso, a relação das duas degringolou. A outra tutora de Jiji disse que compraria, mas que seria a última vez que gastaria dinheiro com o animal, que ele não era mais dela.
“Aí, eu fiquei em choque! Como assim? Essa adoção era uma coisa nossa, conversamos bastante antes de adotá-lo, compramos as coisas dele juntas, preenchemos o formulário da ONG juntas. Era o nosso gatinho”, desabafa.
Ali, a amizade terminou, cada uma foi morar num lugar e, atualmente, Jiji vive na capital mineira muito bem com a mãe de Ana, que não entende até hoje o que levou a ex-amiga a mudar de ideia e de comportamento tão rapidamente. Elas estudam juntas e trabalham na mesma empresa, porém, não se falam mais.
“Eu quebrei o vínculo totalmente porque ela me machucou demais, perdi a confiança, fiquei extremamente triste, fora que ela tratou o Jiji com muito desprezo e não me fez bem”, afirma.
Sem cachorra, sem namorado
A personal trainner Beatriz Sansoni era apaixonada por Kandy, sua cachorra da raça shar-pei, que tinha dez anos quando sua família descobriu que ela estava doente, com um câncer muito agressivo que, rapidamente, se espalhou pelo corpo.
Foram meses de tratamento — e sofrimento — até que Kandy morreu. Nessa época, Beatriz namorava um rapaz havia um ano. Os dois se amavam, a relação estava boa, mas a partida repentina da cachorra, sua companheira há uma década que vivia no seu encalço, a deixou numa tristeza tão profunda que ela preferiu ficar só e terminou o relacionamento.
Eu fiquei realmente muito mal, bastante triste e me fechei num casulo de sofrimento
“Eu fiquei realmente muito mal, bastante triste e me fechei num casulo de sofrimento, não queria conversar com ninguém, sair”, fala.
Um mês depois, com a dor amenizada, Beatriz reatou com o namorado porque entendeu que aquela atitude foi tomada em um momento de intensa fragilidade que ela preferiu vivenciar sozinha, com a família. A volta com o garoto veio com um presente, a Lola, sua atual fiel companheira peludinha de quatro patas, uma lulu-da-pomerânia. Ela sabe que uma cachorra não substitui a outra, mas Lola ajudou a aplacar a falta de Kandy.
Casa cheia: de amigos e animais
Paulo Galvão, que trabalha com produção e montagem de obras de arte, vive com a namorada há mais de dez anos e, hoje, eles têm três gatos (Delírio, Choquita e Stolly), dois cachorros (Chica e Torresmo) e um aquário de 500 litros, com inúmeros peixes. Ambos são apegados aos animais, que foram chegando aos poucos à casa do casal, e dividem de forma igualitária as funções com os pets.
A vida dos dois não foi abalada por causa da rotina intensa de tarefas com o quinteto animal, mas Galvão comenta que ele e a companheira, que já são pessoas mais caseiras, preocupam-se bastante com o bem-estar dos cães, gatos e peixes. É por isso que eles, nesse tempo juntos, passam, no máximo, dez dias longe, em viagem de férias, por exemplo.
Mesmo sabendo que a turminha das patinhas e os peixinhos estão sendo bem cuidados, eles sentem saudade e receio de deixá-los tanto tempo com outras companhias. Além disso, em época de finais de campeonato de futebol e Réveillon, o casal fica em casa por conta dos fogos de artifício, que deixam os bichanos desorientados.
Apesar de terem regras bem definidas no cuidado com os bichos, no caso deles, as amizades sobrevivem e, na verdade, se adequam à necessidade que a dupla tem de ficar mais em casa.
“A gente é muito agregador e, geralmente, fazemos festinhas ou churrascos em casa e todos os nossos amigos se dão muito bem com os bichos porque eles são parte da família mesmo. Então, todos gostam e, muitas vezes, o pessoal traz os bichos também. Daí fica aquela cachorrada”, detalha.
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