Como mudar de emprego? — Gama Revista
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Reportagem

Quer mudar de emprego em 2023?

Se a resposta for positiva, você não está sozinho. Especialistas dão dicas e sugestões para se movimentar em prol da mudança profissional

Manuela Stelzer 15 de Janeiro de 2023

Quer mudar de emprego em 2023?

Se a resposta for positiva, você não está sozinho. Especialistas dão dicas e sugestões para se movimentar em prol da mudança profissional

Manuela Stelzer 15 de Janeiro de 2023

Muita gente anda infeliz com os rumos da própria carreira. Uma pesquisa do portal Empregos.com.br, que conecta trabalhadores a vagas abertas no mercado, apontou que 3 em cada 4 profissionais têm a mudança de emprego como uma das metas para 2023. Entre os motivos, lidera a insatisfação com o trabalho atual. No ano passado, quase um terço dos brasileiros estava descontente na profissão, principalmente nas áreas da educação, energia e saúde, como relatou outra pesquisa. E acredite se quiser, os pedidos de demissão bateram recorde, apesar da crise e do índice de desemprego.

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É claro que não existe cargo, empresa e chefe perfeitos. Mas a ilusão não deve impedir ninguém de buscar um trabalho mais decente e até prazeroso. Cada vez mais entram na balança outras variáveis na hora de procurar um novo emprego – salário, distância de casa e ambiente corporativo dividem espaço com qualidade de vida, bem-estar e equilíbrio entre vida profissional e pessoal, como explica a gerente do Empregos.com.br, Tábata Silva. “O grande número de demissões que o mercado experimentou, além de movimentos como o quiet quitting demonstraram uma mudança de mentalidade. Os profissionais não aceitam mais estarem insatisfeitos. E se estão, querem mudar.”

Os profissionais não aceitam mais estarem insatisfeitos. E se estão, querem mudar

Para ela, as organizações precisam se adaptar e se atualizar de acordo com a nova mentalidade de trabalho. E dessa transformação, todos saem ganhando – trabalhadores, empregadores e empresas. “É bom para todo mundo quando profissionais trabalham mais satisfeitos e motivados. As equipes são mais saudáveis, os líderes mais completos e as organizações conquistam melhores resultados.”

Há, entretanto, um longo caminho até que o mercado chegue nesse patamar. Mas enquanto isso não acontece (ou melhor, se isso de fato acontecer), está nas mãos de cada um a busca por um trabalho razoável. Se está procurando um novo emprego e não sabe por onde começar o movimento da mudança, Gama pediu sugestões a especialistas e elencou aqui algumas boas práticas.

Tenha consciência dos porquês

Qual o motivo para querer mudar e o que você quer de diferente no novo emprego? A questão parece simples, mas é importante ter clareza das respostas. “Ou o profissional pode acabar repetindo os mesmos erros e inclusive repetir aquilo que não o satisfaz no trabalho atual”, pondera Miriam Rodrigues, que é professora de comportamento organizacional na Universidade Mackenzie. “Existem limites de tolerância, além de sonhos e metas. É preciso entender se o lugar em que trabalhamos possibilita crescimento em direção a esses sonhos, e também se está de acordo com os nossos limites pessoais.”

Ao começar a busca, tendo em foco as motivações para a mudança, é importante manter a calma e a lucidez, principalmente se está desempregado. “Quando a pessoa está disponível no mercado, às vezes por necessidade acaba tomando decisões precipitadas. É preciso planejamento e organização.” Nem sempre é possível escolher onde trabalhar, mas de qualquer forma, é importante ter consciência do que deseja para a vida profissional, e assim concentrar a procura por vagas que estejam em sintonia.

Se não sei o que quero, continuo na zona de conforto

A professora e psicóloga Mariana Holanda relembra que entender o que queremos na carreira não é uma tarefa fácil. Muito diferente, inclusive, do que aparenta ser no feed do Linkedin. “Isso pode travar as pessoas, porque se não sei o que quero, continuo na zona de conforto, no dia a dia que já conheço, com o salário caindo todo mês”, explica. “É mais fácil do que refletir sobre o que posso e quero mudar.”

O início do ano pode até trazer os ares da renovação, como já explicou a psicanalista Maria Homem, “mas não é no início do ano que nos damos conta da insatisfação com o emprego. Isso vem de uma convivência com o incômodo, que aí sim pode nos levar a montar um plano”, afirma Mariana Holanda. Para a psicóloga, além de entender o que quer fazer no novo cargo, quais responsabilidades e aptidões quer desenvolver, é interessante se perguntar o que não é negociável num possível novo trabalho e buscar um emprego que abrange um mínimo dessas condições.

Haja preparação

Tendo em mente o que gostaria de fazer e as circunstâncias básicas do novo emprego, é hora de planejar. Isso significa entender bem quais pré-requisitos o mercado exige para aquele cargo – e quais você domina, quais não. “Caso ainda não tenha todas as habilidades necessárias, essa espécie de autoavaliação já é um ótimo indicativo para a busca de cursos e especializações complementares”, afirma Tábata Silva, do Empregos.com.br.

Para quem quer trabalhar numa multinacional, como exemplifica Miriam Rodrigues, estar com o estudo dos idiomas em dia é necessário, por exemplo. Já aos que querem seguir para uma empresa de tecnologia, é preciso saber qual o software usado e ter plena capacidade de manejá-lo. “Hoje temos um cardápio enorme de cursos livres, de graduação, de especialização. Eles são sempre uma oportunidade, acima de tudo, de conhecer pessoas novas, alunos e professores, que com certeza serão bons contatos para sua rede”, lembra Rodrigues.

Resolução de problemas, decisões assertivas e éticas, comunicação, autogestão e colaboração são habilidades valorizadas

Tábata Silva aponta também para a importância das soft skills, habilidades comportamentais, sociais e emocionais que antes eram pouco relevantes em um processo de seleção, e hoje são de extrema importância. “Resolução de problemas, decisões assertivas e éticas, comunicação, autogestão e colaboração são algumas das habilidades mais valorizadas e procuradas por recrutadores atualmente.” Por isso, não tenha medo de destacar isso em entrevistas e no currículo.

Mesmo com bastante preparação, os riscos fazem parte da equação da mudança de emprego. “Mas deve ser um risco calculado”, explica Mariana Holanda. “Ainda mais em um momento de tamanha imprevisibilidade quanto agora.” Segundo ela, o mercado tem cada vez mais possibilidades – todas, entretanto, muito novas. “Temos que olhar para essas novidades. Para inovar, temos que nos arriscar, mas sempre se preparando para as consequências, seja com um preparo financeiro, uma rede de apoio, etc.”

Mantenha tudo atualizado

Linkedin (por mais tóxico que seja), currículo (por mais chato e minucioso que seja) e networking (por mais trabalhoso que seja) devem estar sempre “atualizados”. Isto é, cultivados, lembrados, cuidados. O currículo, como todas as especialistas sugerem, tem que estar sempre em dia. “Não é só quando estamos procurando emprego, porque as oportunidades surgem sem avisar. Se fez um curso, mudou de endereço de email, teve alguma conquista digna de nota, coloque no currículo na hora. Não espere”, indica Rodrigues.

Tábata Silva dá algumas dicas práticas para o currículo, como: ser objetivo, focar na qualidade das informações, e não na quantidade, e ter muito cuidado com ortografia e escrita. E claro, jamais mentir. “Evite constrangimentos e até consequências mais graves para a carreira.” Se precisa investir no Linkedin, Gama elencou também alguns conselhos para se destacar na rede.

Temos muitos caminhos para conversar com as pessoas, mas é preciso fazer o movimento nessa direção

Para o networking, não há uma única estratégia – depende da relação que mantém com seus contatos e como gosta de trocar ideia com eles. “Para muitos jovens, fazer networking pode significar ter muitos seguidores ou mandar mensagens padronizadas agradecendo a conexão. Para outros, pode ser uma relação mais profunda, com alguém que vai te ajudou ou ainda pode ajudar.” Seja qual for o meio ou a finalidade do contato, a ideia é construir aos poucos relacionamentos profissionais de suporte mútuo, como define Tábata Silva. “Fazemos isso em todo lugar. Olhe para os grupos que frequenta, que está inserido e que faz parte. As redes sociais são apenas uma das muitas opções para explorar.”

Assim como o currículo, o networking precisa estar ativo sempre. Miriam Rodrigues o define como uma planta num vaso, que precisa de água e cultivo dia sim, dia também. “Sempre é tempo de mandar um email, recados no Linkedin, marcar uma call ou um café. Temos muitos caminhos para conversar com as pessoas, mas é preciso fazer o movimento nessa direção”, afirma. “As organizações prezam muito por indicações. Mas o profissional precisa falar para sua rede de contatos o que interessa e o que está buscando. Assim, essas pessoas podem nos ajudar”, conclui.